domingo, 27 de abril de 2014

A Teologia da Beleza

A Teologia da Beleza



Evdokimov (1901-1970), teólogo leigo, cristão ortodoxo, nasceu em São Petersburgo, e no contexto da revolução russa imigrou para França onde começou por trabalhar como operário na indústria automóvel.
Mais tarde foi professor no Instituto Saint-Serge de Paris. O seu empenhamento em favor do ecumenismo e aproximação entre as espiritualidades cristãs do oriente e ocidente valeu-lhe ser convidado, como observador, para o Concílio Vaticano II. Neste diálogo, e dada a riqueza da tradição ortodoxa neste campo, a “via da Beleza” é imprescindível.
Paul Evdokimov

Beleza e Teologia
 
 


































Lendo A arte do Ícone: Teologia da Beleza, (DDB, 1972; Publicaciones Claretianas, 1991), recolhemos algumas passagens sobre “A visão Bíblica da Beleza” (cap. I). O autor mostra a proximidade semântica entre a Beleza e o Espírito Santo, termos indissociavelmente unidos na imagem e no simbolismo da Luz, omnipresente e transversal a todo o texto das Escrituras, acentuando a coincidência dos seus extremos nos livros do Génesis e do Apocalipse.
“Ao criar o mundo a partir do nada, o Criador, como Poeta divino, compõe a sua ‘Sinfonia em seis dias’, o Hexaméron, e em cada um dos seus actos ‘viu que era belo’. O texto grego do relato bíblico diz ‘kalón’ – belo – e não ‘agathón’ – bom - ; a palavra grega tem os dois significados ao mesmo tempo. Por outro lado o verbo criar está conjugado em hebreu na sua forma perfectiva: o mundo foi criado, é criado, e será criado até ao final.
Ao sair das mãos de Deus, já o gérmen é belo, mas busca a sua evolução, essa história tantas vezes agitada e trágica, na confluência do actuar divino e humano. Segundo Máximo Confessor, a consumação da primeira beleza na Beleza perfeita realiza-se no final e recebe o nome de Reino.


Criação 2

A Tradição dá-nos, neste ponto, uma precisão importante. Um grande espiritual do século IV, Evágrio, comentando a variante do Pai Nosso no evangelho de S. Lucas, onde em lugar de ‘Reino’ se lê ‘que venha o Teu Espírito Santo’, diz: ‘O Reino de Deus é o Espírito Santo; rogamos ao Pia que o faça descer sobre nós’ De acordo com a Tradição, Evágrio identifica assim o Reino e o Espírito Santo.
Assim, se o Reino contemplado é a Beleza, a Terceira Pessoa da Trindade revela-se como Espírito da Beleza. Dostoievsky compreendeu-o bem: O Espírito Santo, diz ele, é a captação directa da Beleza” (…)
“A sua própria obra, enquanto Espírito da Beleza, é uma ‘poesia sem palavras’ Por relação com o Verbo, o Evangelho do Espírito Santo é visual, contemplativo. (…)”
“Os atributos bem conhecidos do Espírito são a Vida e a Luz. A Luz é antes de mais, poder de revelação, e por isso ao Deus revelatus se chama Deus-Luz. O seu poder ‘ilumina todo o ser humano que vem ao mundo’ (Jo 1,9) e, segundo São Simeão, ‘transforma em luz aos que ilumina’. Mais ainda, impõe-se como fonte de todo o conhecimento: ‘Na tua luz conheceremos toda a luz’ (Salmo 36, 10). (…)”
Paulo Evdokimov
“No plano óptico, o olho não percebe os objectos, mas a luz por eles reflectida. O objecto não é visível senão porque a luz o faz luminoso. O que se vê é a luz que se une ao objecto, que o desposa em certa medida e toma a sua forma que o figura e revela. A interacção misteriosa do carvão com a luz produz o diamante, a beleza. (…)
Estar na luz é estar numa comunhão clarificadora que revela os ícones dos seres humanos e das coisas, capta os seus logoi contidos no pensamento divino e inicia assim a sua integridade perfeita; dito de outra maneira, a sua beleza querida por Deus. (…)”
“O Apocalipse está no termo, mas também no começo. A luz do primeiro dia é o objecto da visão. Como o primeiro tempo da criação, ‘o século futuro forma inteiro um só dia, o grande Dia.’, diz São Gregório de Nisa. De facto, segundo o Apocalipse: ‘Não haverá mais noite e os homens não mais necessitarão da luz da lâmpada nem do sol, porque o Senhor Deus os iluminará’ (Apc 22,5).
‘Eu sou o alfa e o ómega… o começo e o fim’. O círculo da Revelação está encerrado na diferença e ao mesmo tempo na identidade perfeita de todos os seus elementos. A primeira palavra da Bíblia: ‘Faça-se a Luz’ é também a última: ‘Faça-se a Beleza’.”
jnm
© SNPC
Fonte: http://snpcultura.org/a_teologia_visual_da_beleza_evdokimov.html

Sem comentários:

Enviar um comentário