domingo, 20 de abril de 2014

Caminhar na certeza da glória


 Caminhar na certeza da glória

Dois mil anos depois, o mínimo que se pode dizer é que se tratou de algo extraordinário o «que se passou naqueles dias». A Liturgia celebrada no Tríduo Pascal convida à Páscoa como uma passagem, sempre inacabada, sempre urgida a cada um de nós, experimentados que estamos na alter­nância da morte e da vida, da alegria e da dor.

O Nazareno, crucificado como malfeitor, foi, desde o início, objecto de contradição. Sobre Ele todos se pronunciaram e continuam a pronunciar a favor ou contra.

A nossa cultura, que muitos afirmam atingir o clímax do nihilismo, de­pois de proclamar a «morte de Deus» e a suprema liberdade só possível pela «ausência» de Deus, parece agora ufanar-se das consequências e encontrar sempre novas causas e novos bodes expiatórios para os fra­cassos notórios. A falta de sentido, o cansaço de viver, numa sociedade depressiva e sem grandes horizontes, a braços com a terrível quebra de natalidade e o aumento de uma violência latente e pronta a «explodir», são sinais que não podemos ignorar. E não podemos deixar de dizer que o défice de Deus na construção da sociedade é elemento-base para se en­tender o défice de sadia convivência, fundamental para o tecido social.

Também há dois mil anos se pensou - uma parte da sociedade de então que se sentia ameaçada e subvertida por Jesus - que a morte de Jesus acabaria por resolver e pôr termo a uma «revolução» como tantas outras já deles conhecidas. Mas não foi assim. O Cristo silenciado então ressurge a cada momento na história dos homens com uma Palavra sempre mais vi­gorosa. O que nos dá a certeza, a nós os crentes de hoje também de algum modo amordaçados, de que nenhum poder humano O pode fazer calar. Assim, a grande novidade de Jesus, que os cristãos são chamados a tes­temunhar, é a de uma vitória da vida sobre a morte. Uma vitória que nos está, de antemão, garantida.

Que mais e melhor poderemos nós desejar? E Jesus não nos prometeu vida fácil, antes nos convidou a aprender com Ele e a seguir atrás dele. Conhecendo o desfecho final torna-se mais fácil aguentar as agruras da caminhada. Por isso, aquele que acredita em Jesus tem de ter, necessa­riamente, uma postura diante dos revezes da vida, diferente da daquele que não acredita. E quando se pede aos cristãos a força do testemunho, não se lhes pede grandes argumentações a favor ou em defesa do crer diante do que não crê. Pede-se um sorriso doce, carregado de esperança. Porque ele «sabe» o que o não crente não sabe. Ele sabe de antemão que a cruz dá lugar à glória. E que nenhum túmulo pode conter Deus. Como aconteceu com Jesus, da morte Deus faz surgir a vida. SEMPRE. Aleluia!

O Prior - P. Abílio Cardoso

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