quinta-feira, 30 de abril de 2015

As 4 dimensões do amor humano

As 4 dimensões do amor humano


Somente a integração dessas 4 dimensões permite que o amor dure para sempre

Somente a integração dessas 4 dimensões permite que o amor dure para sempre

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amor© watcharaph
Para construir um casamento duradouro, para manter-se fiel e para ter a certeza de estar dando passos seguros na construção da felicidade, é preciso edificar sobre bases firmes as relações de namoro.

Um dos primeiros erros cometidos de maneira frequente é estabelecer relações sustentadas na simples química cerebral, essa que desperta em nós a atração pela outra pessoa e que, de maneira arriscada, nos faz chamar de “amor” o que ainda não o é.

O enamoramento como tal é apenas a infância do amor e precisa crescer até desaparecer, para ceder seu espaço à escolha livre e ao compromisso duradouro. Por isso, quero compartilhar nesta reflexão as 4 dimensões do amor humano:

1. Todo amor humano tem uma dimensão biológica. As sensações corpóreas, a química cerebral, a atração à primeira vista despertam no organismo, de maneira instintiva, uma forte atração sobre a outra pessoa, fazendo que, de maneira errônea, achemos que amamos quando simplesmente sentimos uma atração pela pessoa.

2. Todo amor humano tem uma dimensão afetiva. Ela se sobrepõe ao primeiro impulso corporal; a descoberta da outra pessoa em seus valores fundamentais nos fazem entender que já não se trata somente de atração física, mas que existem também valores espirituais que nos permitem envolver-nos emocional e afetivamente com ela. Assim, passa-se da atração ao enamoramento. É somente nesta segunda dimensão que o enamoramento surge. Tal enamoramento é simplesmente o desejo de apropriação daquilo de bom que vemos no outro, alimentado pelo desejo de possuí-lo fisicamente mediante a relação sexual.

3. Todo amor humano tem uma dimensão pessoal. Isso, claro, entendendo que somos pessoas, ou seja, seres integrais que não só estabelecem uma relação afetivo-corporal, mas também um vínculo no qual todos os valores humanos, espirituais, emocionais, econômicos e intelectuais nos fazem comprometer-nos com o outro. É só neste momento que surge o compromisso real e o desejo de permanência para sempre.

4. Todo amor humano tem uma dimensão transcendente. Isso significa que somos capazes de compreender que a relação em construção não tem como finalidade somente a entrega mútua e a procriação como fruto dessa entrega, mas que somos chamados juntos à santidade e à transcendência. Trata-se de um amor que não é só intramundano, mas que vai muito além deste mundo, porque tem suas raízes em Deus. Esta dimensão surge quando cada um possui uma relação com Deus séria, íntima e disciplinada.

Quando não se consegue superar as duas primeiras dimensões, então as pessoas ficam presas à dependência mútua e se tornam viciadas uma na outra, buscando simplesmente saciar suas próprias necessidades afetivas, sem conseguir ir além dos sentimentos expressados mediante a genitalidade.

Só a integração dessas 4 dimensões permite que o amor seja para sempre. Pelo contrário, sua desvinculação só traz como consequência a infidelidade, a criação de necessidades e de apropriação do outro, a exploração afetiva dos demais.

Nem na dimensão biológica nem na afetiva podem dar-se a escolha e o compromisso; é necessário ir à dimensão pessoal, à totalidade do que se é como pessoa, como humano, à vinculação da liberdade inteira, à superação do próprio egoísmo, ao despojamento das próprias necessidades afetivas e da exploração ou coisificação do outro, para começar a amar de verdade.

A última das dimensões acrescente um “plus” de sobrenaturalidade, que permite aos (futuros) esposos aprender a amar-se no Senhor.

segunda-feira, 27 de abril de 2015

SEM JUSTIÇA NEM MISERICÓRDIA


SEM JUSTIÇA NEM MISERICÓRDIA

Frei Bento Domingues, O. P.

Público 26ABR2015

 

1. Lampedusa é um dos cemitérios onde são afogados os que procuram fugir da guerra, da violência, da fome e da própria morte. Foi por aí que o Papa Francisco começou as suas visitas pastorais e onde fez a homilia mais breve da sua vida: Que vergonha!

Quando se perde a vergonha, perde-se a decência e tornam-se vazios os apelos às convenções internacionais, à justiça, à misericórdia e a qualquer princípio. Dir-se-á que estou a simplificar questões complexas de ordem económica, social, cultural e política que envolvem as migrações. As máfias do tráfego humano dominam os seus percursos. É evidente que deixar afogar os pais e os filhos é muito mais simples.

A Europa não pode esquecer a sua parte de responsabilidade pelo que se passa no Medio Oriente. Os horrores da Palestina, do Iraque, da Síria, da Líbia, do Egipto, etc. obrigam as populações a pagar muito caro a morte no Mediterrâneo.  

Antes, porém, de repartir responsabilidades, importa perceber que precisamos de crescer numa solidariedade que permita a todos os povos tornarem-se artífices do seu destino, como já dizia Paulo VI em 1967. Em 1971, lembrou que os mais favorecidos deviam renunciar a alguns dos seus direitos, para poderem colocar, com mais liberalidade, os seus bens ao serviço dos outros.

Para o Papa Francisco, em 2013, a solidariedade é uma reacção espontânea de quem reconhece a função social da propriedade e o destino universal dos bens, como realidades anteriores à propriedade privada. A posse privada dos bens justifica-se para cuidar deles e aumentá-los, de modo a servirem melhor o bem comum. Por isso, a solidariedade deve ser vivida como a decisão de devolver aos pobres o que lhes corresponde. Animados pelos seus Pastores, os cristãos são chamados, em todo o lugar e circunstância, a ouvir o clamor dos pobres.

   Isto não basta, diz, Bergoglio: é preciso assegurar a educação, o acesso aos cuidados de saúde e, especialmente, ao trabalho. No trabalho livre, criativo, participativo e solidário, o ser humano exprime e engrandece a dignidade da sua vida[1].

2. O Papa anda a ser acusado de não ser um teólogo, mas, apenas, um pastor. É uma tentativa ridícula para dizer o quanto ele os incomoda. Neste Domingo, em que Jesus se chama a si próprio pastor – o bom Pastor - a acusação é o maior dos elogios. Vou, no entanto, deixar aqui, a base teológica das opções de Francisco.

“O pobre ocupa um lugar epistemológico central, isto é, o pobre constitui o lugar a partir do qual se procura pensar o conceito de Deus, de Cristo, da graça, da história, da missão das Igrejas, o sentido da economia, da política, o futuro das sociedades e do ser humano. Partindo da perspectiva do pobre, percebemos até que ponto são excludentes as actuais sociedades e em que medida as religiões e as Igrejas são arrastadas pelos interesses dos poderosos”[2].

Bergoglio pertence, sem dúvida, à “fecunda geração dos bispos latino-americanos que, a partir da década de sessenta do século passado, mudaram a face do cristianismo desse continente: antepuseram a ortopraxis à ortodoxia, a fidelidade ao povo à obediência ao Vaticano; optaram pela solidariedade com as maiorias populares empobrecidas face às alianças com os poderosos e fizeram seu o princípio-libertação frente ao princípio-resignação que, durante muito tempo, caracterizou o cristianismo da América Latina”[3].

Porque será que tantas pessoas, de tantos países - católicos ou não - se reconhecem, se solidarizam e se sentem interpeladas pelas atitudes e mensagens deste Papa, como se ele fosse o seu guia espiritual?

Talvez por ele não querer mandar em ninguém e denunciar aqueles que querem tornar a Igreja uma instituição de poder, de dominação das consciências, em vez de uma fraternidade de serviço, seja de quem for, mas, sobretudo, daqueles que sobram na sociedade.

3. A grande dificuldade que Jesus encontrou na relação com os seus discípulos pode exprimir-se de forma muito simples: andavam dominados pela ânsia do poder que criava rivalidades entre eles. Jesus foi obrigado a ser muito claro: entre vós quem quiser ser o primeiro coloque-se ao serviço de todos. O próprio Jesus sentiu-se desesperado com a persistência desta atitude, até mesmo depois da ressurreição (Act 1 6-9). Prometeu o Espírito Santo, Espírito de conversão permanente da Igreja, para que viva ao serviço de todos na oração, na fraternidade, na partilha dos bens. Este é o regime da Igreja quando não se atraiçoa a si própria.

A traição maior é a perda da consciência de que todos são Igreja, ao mesmo título. A Igreja é um Nós, de voluntários, sem proprietários.

No Domingo passado, a Ana Vicente entrou, para sempre, na alegria de Deus. Com a Maria João Sande Lemos trouxe para Portugal, em 1997, o Movimento Internacional Nós Somos Igreja. Tudo o que a Ana realizou em prol da condição feminina, dentro e fora da Igreja, exige uma atenção e uma abordagem que não cabem nestas linhas.

 

 

 

O futuro com quatro bombas


O futuro com quatro bombas

por ANSELMO BORGES
DN 25ABR2015

Haverá alguém que duvide de que vivemos num mundo, por um lado, exaltante, mas, por outro, sobretudo um mundo perigoso, ameaçador?
Numa conferência recente, o filósofo e teólogo Xabier Pikaza alertava para os perigos e as ameaças e enumerava as quatro bombas que pesam sobre a humanidade e o seu futuro.
Chamava a atenção, em primeiro lugar, para a possibilidade da guerra universal, com armamento nuclear: a bomba atómica. O Big Bang foi há 13 700 milhões de anos, e nós, Homo sapiens sapiens - acrescente-se sempre, e demens demens: homem sapiente sapiente e demente demente -, aparecemos recentemente, quando se considera todo o processo de 13 700 milhões: há uns 150 mil anos. Mas, se até aos meados do século passado, vivíamos ainda separados uns dos outros e, sobretudo, a capacidade de destruição era limitada, com a bomba atómica a humanidade pode destruir-se e acabar. O processo que permitiu o nosso aparecimento tem milhares de milhões de anos, mas agora temos a possibilidade de nos matar e destruir em poucos dias ou mesmo poucas horas. Podemos optar por uma morte global. Quem pode garantir, por exemplo, que grupos terroristas não venham a ter acesso ao armamento atómico?
No passada quarta-feira, deveríamos ter lembrado de modo especial a Terra. De facto, o dia 22 de Abril foi estabelecido pela Assembleia Geral da ONU como o Dia Internacional da Mãe Terra. A Terra é efectivamente nossa mãe. No processo da evolução da Terra e na Terra, aparecemos como fruto seu: somos natureza, embora natureza humana, significando isso que somos da Terra, servindo-nos dela, mas ao mesmo tempo sendo responsáveis por nós e por ela. Sabemos que está em perigo e, consequentemente, que nós estamos em perigo. Se não cuidarmos dela, ela expulsar-nos-á dela. Os perigos são iminentes: pense-se no aquecimento global, nos índices da poluição, na destruição da biodiversidade... O célebre biólogo Edward O. Wilson, autor do termo "biodiversidade", conhecendo bem as ameaças, escreveu: "A criação: salvemos a Terra". O conhecido geneticista Albert Jacquard acha que estamos a preparar "o suicídio colectivo". James Lovelock, autor da teoria de Gaia, isto é, da Terra como organismo vivo, alerta para o risco de nos finais deste século desaparecer grande parte da humanidade.
A produção de ciência e tecnologia é característica essencial da pessoa humana. Mas será que tudo o que é tecnicamente possível é moralmente bom? Há agora possibilidades até há pouco insuspeitadas de manipulação genética e, mediante cruzamentos de várias tecnologias que se aproveitam dos conhecimentos da genética e também das neurociências, da computação, da cibernética, de fabricar humanóides em série, uma espécie de híbridos humanos, "máquinas espirituais" com algum tipo de consciência. O que acontecerá então com essas novas entidades, controladas e ao serviço de poderes incontroláveis?
A quarta bomba não é a menos ameaçadora: "o cansaço vital". Até agora, apesar de todas as crises, continuámos, porque havia um estímulo, um prazer, a vida era sentida como um dom e uma aventura. Mas hoje muitos sentem que já não vale a pena existir, a vida é sentida mais como um risco, uma tragédia e um fardo do que como um dom e uma aventura que valem a pena. Por isso, negam-se a ter filhos, promovendo uma espécie de suicídio, pelo "cansaço de uma vida que parece sem fundamento nem futuro".
É na Europa que este cansaço parece mais sentido, sendo bem possível que a desafeição religiosa contribua para a vivência do vazio existencial e axiológico. Assim, o filósofo agnóstico Gilles Lipovetsky faz notar que a reactivação da crença hoje, com o reinvestimento em antigas e novas espiritualidades, se explica pela exigência de sentido englobante, de referências, de uma integração comunitária: "É o que o homem necessita para combater a angústia do caos, a incerteza e o vazio."
Neste sentido, quando a Europa parece envergonhar-se das suas raízes cristãs, foi para muitos uma saudável e bela surpresa a saudação de Páscoa do primeiro-ministro britânico, David Cameron, de que fica aí o essencial. "A Semana Santa é um tempo no qual os cristãos celebram, com a ressurreição de Jesus, o triunfo da Vida sobre a morte. Para todos os outros, é o momento de reflectirem sobre o papel que desempenha o cristianismo nas nossas vidas." O cristianismo é "uma forma de vida": quando há sofrimento, necessidades, a Igreja está presente. "Sei por experiência que, nos piores momentos da vida, a proximidade da Igreja é uma enorme consolação." Através de toda a Inglaterra, a Igreja pratica o amor; por isso, "deveríamos sentir orgulho em dizer: este é um país cristão". Acolhemos e abraçamos todas as religiões e quem não tem nenhuma, "mas somos um país cristão". Como tal, "temos o dever de erguer a voz e denunciar a perseguição dos cristãos no mundo". Devemos recordar e agir a favor de todos estes "cristãos valentes" que sofrem.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

DOUTORAMENTO DO DOUTOR MIGUEL MELO

DOUTORAMENTO DO DOUTOR MIGUEL MELO
 


 
 









José Miguel Lourenço Aviz Miranda de Melo, nascido a 10 de Agosto de 1976, frequentou a catequese aqui na Paróquia, onde habitam os seus pais e as aulas de Religião e Moral até ao 12ºano. É filho de José Miranda de Melo e de Maria Manuela Lourenço Miranda de Melo.
Esteve muito comprometido aqui na Paróquia. Entre os jovens era um bom líder e não falhava aos seus compromissos.
Era um dos melhores alunos na Escola, um jovem ponderado, gostando de levar tudo a sério e atento às programações, colaborando. Depois do 12ºAno com uma nota distinta ficando bem posicionado para a entrada em Medicina, seguindo as pisadas de seu pai.
Ficou na lista da entrada para a Universidade em 15º lugar do Curso de Medicina a nível nacional. Acabou o curso e tirou a especialidade de endocrinologia com 20 valores. Foi sempre muito procurado e participou a nível nacional e internacional em muitas acções para as quais foi convidado como orador e  a escrever artigos da especialidade em revistas nacionais e estrangeiras.
Entretanto, sempre se dedicou à investigação e defendeu agora a tese de doutoramento com o tema “cancro na tiroide” na sala dos Capelos da Universidade no dia 10 de Março do corrente ano, com distinção e louvor por unanimidade.
Com a sala cheia  e contra argumentações, serenamente, defendeu com provas a tese com tanto louvor. É um orgulho para quem foi seu professor e pároco, sem falar nos seus pais e família...
O Miguel vai continuar porque não é homem para se ficar de braços cruzados sobre aquilo em que acredita...


 
 

Gosto de ir à missa, mas não concordo com a doutrina católica ------O que fazer se eu não estou em sintonia com o Magistério da Igreja?


Gosto de ir à missa, mas não concordo com a doutrina católica

O que fazer se eu não estou em sintonia com o Magistério da Igreja?


 Public Domain


Um leitor perguntou:
 

Sempre frequentei a Igreja e seria muito difícil, para mim, renunciar à missa e a outras atividades da paróquia. Além disso, a minha esposa e eu procuramos passar esta mesma disposição para os nossos filhos. Só que, em muitas coisas, não me sinto em sintonia com a doutrina católica: em questões de moral, de teologia, sacramentos, organização hierárquica... Faço certo em continuar frequentando a Igreja ou seria mais coerente deixá-la, reconhecendo que estou fora da comunhão eclesial?



O padre italiano Athos Turchi, professor de filosofia, responde:

As divergências me parecem significativas, mas, sem saber especificamente quais são elas, não é fácil responder à sua pergunta. Uma coisa é você não concordar em comer peixe às sextas-feiras e outra é dizer que Deus não é trino. Se as divergências dizem respeito a questões fundamentais da fé, como parece o caso, é preciso, de fato, você questionar se ainda faz parte da religião que diz professar.

O problema, porém, não está colocado adequadamente, porque, em matéria de religião, a questão não é se você pode comungar com tudo ou com um pouco. Há uma questão prévia: o que é uma religião e o que ela pode lhe oferecer? O que você procura em uma religião e aonde quer chegar com ela? Se você deseja apenas pertencer a certo círculo político, social, cultural, então, obviamente, a religião não é o que você procura. Ela não pode lhe dar essas coisas porque as transcende, nem pode ser flexível e mutável ao sabor das preferências particulares precisamente porque ela não tem uma dimensão evolutiva e dialética, e sim salvífica.

Um exemplo: se a religião diz que somos salvos por viver honestamente, ela não pode mudar de ideia em dado momento e passar a dizer que somos salvos por roubar. Uma religião tão contraditória se desacreditaria e se destruiria sozinha.

Já se você estiver em busca de uma comunhão com Deus voltada à sua salvação eterna, e para isso estiver disposto a seguir uma doutrina de fé e uma prática de aperfeiçoamento, então deverá avaliar a religião que melhor lhe permite alcançar o que deseja, bem como, por consequência, o modo e o método que essa religião lhe propõe para obter aqueles bens eternos, normalmente resumidos no seu corpo doutrinal. O cristianismo propõe um caminho, um método, um conteúdo ou doutrina, um ensinamento e uma organização, chamada de Igreja, e toda essa proposta é derivada de Cristo. Esse credo atende às suas aspirações? Se você disser que deseja aderir ao cristianismo, não poderá viver como um budista; seria uma contradição tanto quanto se dizer vegetariano e continuar comendo carne.

Hoje temos a impressão de que cada um pode pinçar nas religiões os elementos que prefere e até criar uma religião própria, com doutrina e organização personalizada. A questão é, de novo, o que o crente espera da religião à qual decide aderir. Se, por exemplo, a fé cristã ensina que o caminho da santidade é o casamento indissolúvel, mas o crente não está convencido disto, ele é perfeitamente livre para participar de outra religião que pregue algo diferente. Mas atenção: a religião que nega a indissolubilidade do matrimônio deverá negá-la sempre, porque, assim como a cristã, ela deve ser coerente com aquilo que prega. Aliás, a maior parte das outras religiões é muito mais rigorosa do que o cristianismo. Nelas, a salvação vem do cumprimento de leis e regras, enquanto o cristianismo abre espaços para a caridade e para relevar a ignorância, coisa que, em outras religiões, não ocorre. É o caso da blasfêmia: no cristianismo ela é quase uma constante, ao passo que, no islã, para citar um exemplo, talvez ela seja tolerada uma vez ou duas, mas, depois disso, pode ensejar uma condenação à decapitação. Isso quer dizer que, nas religiões, o conteúdo de salvação e de doutrina não pode ser alterado, exceto para ser reafirmado com ainda mais clareza conforme a época em que se está vivendo.

O problema exposto, caro leitor, deverá ser resolvido por você mesmo, que precisa encarar estas perguntas: o que você procura na religião e o que espera da religião cristã? Ela pode lhe dar o que você quer? Você aceita o seu conteúdo, formas, métodos e realizações? Se você só quer pertencer a uma "cultura" cristã, parece claro que não está interessado prioritariamente na salvação, e sim no "pensamento" cristão ou em algumas partes dele. Acontece que isto, obviamente, não é o cristianismo. Já se o seu desejo é a vida eterna mediante o seguimento do exemplo traçado por Cristo, então essas divergências não cabem, pois indicam que você não compreendeu a religião à qual aparentemente pertence e da qual espera a eternidade.

Em suma, o ponto a ser observado é que uma religião não é uma teoria política, nem um movimento social, nem uma organização civil; uma religião é uma prática salvífica voltada a bens eternos que transcendem o mundo e a história. Estes bens, ou a religião atinge ou não atinge. Se ela os atinge, então o caminho a ser seguido é único e sempre o mesmo, porque se a eternidade pudesse ser atingida tanto pelo amor quanto pelo ódio, a religião seria uma farsa.

Quanto aos sete sacramentos, eles são os instrumentos que Deus mesmo nos oferece para a comunhão com Ele: seria insensato achar que não há problema algum em não ser batizado, em pecar, em odiar, em matar, em manter qualquer tipo de relacionamento na hora e do jeito que se quiser. A religião ou tem um significado expresso na sua doutrina ou não tem sentido algum.

O leitor analise, então, o que deseja na vida e considere se a religião cristã pode oferecê-lo. Depois, decida se quer segui-la ou não. Toda a questão se resume nas palavras de Jesus: “Dai a Deus o que é Deus”.  
                     Aleteia

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Alvaro Martins Abreu Sá Sotto Mayor

Alvaro Martins Abreu Sá Sotto Mayor


Alvaro Martins Abreu Sá Sotto Mayor, "nascido na freguesia mais linda que há por aqui acima, na "Quinta dos Vaus" porque quando não havia pescarias passavam o rio a Vau". É filho de Gaspar Abreu Sá Sotto Mayor, e de Maria da Conceição Martins Sá Sotto Mayor.Os seus antepassados é que trouxeram o nome para Viana há 500 anos o Beato Frei Bartolomeu dos Mártires conheceu e conviveu com a família. A casa onde nasceu tem uma capela autorizada , onde está sepultado o capelão da família. É originário do Sotto Mayor do Castelo de Porrino, na Galiza. O seu avô já nasceu em Portugal eo avô também o seu pai nasceu em S.Jorge onde ainda o edifício com as ameias e com branzão de 500 anos. Na casa onde nasceu havia uma capela que ainda existe, embora em ruínas. No tempo de criança vestia-se de padre para baptizar as bonecas das suas irmãs, na ausência do pai.

Fez a escola primária com a 4ª classe e depois como era criador de piões para os colegas da escola e mais tarde fabricou espingardas para a caça dos tordos.

O pai, como era fidalgo, parecia mal ser empregado e descobriu o caminho para manter a personalidade de fidalgo, proprietário e monárquico.O pai habilidosamente fez-se construtor de relógios das torres das Igrejas que se encontram aqui na região do Alto-Minho.

Então começou a ajudar o pai.

A propósito de relógios da Torre reparou o relógio da Torre da Barca que só dava uma vez hora na igreja enquanto pô-lo a repetir as horas. Esta parece anedótico porque um médico pode salvar a vida a um doente e dar-lhe qualidade, mas quando se chega a doente, ou a velho nunca o pôe a fazer mais do que quando era novo. Enquanto o Gaspar fez com que um relógio velho fizesse mais trabalho do que quando era novo.

Não fez tropa porque o pai o livrou do serviço militar. Casou com Maria Vitória Carvalhido, da Meadela de quem tem dois filhos: Ana Berta e Pedro António, ambos formados em Coimbra e no Porto, casados e a trabalhar. Já tem três netos.

Trabalhou numa Importadora do Porto e veio para a Meadela trabalhar por conta própria em relógios de pulso, bolso, de parede, de coluna, etc... É um especialista e trabalha para muitas casas e ourivesarias de Viana. Ainda hoje, reformado, continua a trabalhar para algum amigo.

 
Gosta de criar coisas novas. Muita gente, por exemplo, não imagina o que é a água, diz ele. Assim, hoje, ele diz junto da água: Tu és sangue do meu sangue e eu sangue do teu sangue". Nós temos três Reis Magos porque o número três é sagrado, é o Pai, o Filho e o Espírito Santo. O Sol é o Pai, a Terra é o Filho e a Água é o Espírito Santo.

"A Terra é um pedestal da água que é um busto que se chama Espírito Santo".

Para além do serviço vive muito o desporto, sobretudo, o da pesca desde a idade dos 10 anos; ainda vai pescar. É católico praticante.

Os Carrilhões - relógios de parede eram feitos na Alemanha, França e Portugal, os melhores eram os portugueses.

É como os chineses que sabem trabalhar e ensinam a trabalhar. Os maiores são sempre assim.

Apresentam por exemplo relógios bonitos, perfeitos e fracos.Bonitos para os olhos, perfeitos nas mãos e fracos por dentro...Depois baratos, mas trabalham sempre e vendem sempre, nunca se esgotam os clientes.

Acontece que havia muita diferença entre os carrilhões. Uns duravam 30 anos e outros menos. Eu corrigi um relógio, outro dia, que já tinha sido trabalhado por mim há mais de 30 anos.

Produzir coisas para sempre acaba-se a possibilidade de vender pois esgota os clientes e pára o trabalho.

O mais importante para mim é só ouvir e habilidade nas mãos. O tio da minha mãe que era moleiro e poeta contava ele que um dia foi confessar-se e o padre deu-lhe como penitência dar uma esmola de penitência que receberia duas. Quem dá uma esmola recebe duas...

Aconteceu que um pobre bateu-lhe à porta a pedir uma esmola e ele tinha um porquinho e deu-o ao pobre, contra a vontade da mulher, mas era o conselho do sacerdote e havia de receber o dobro, melhor. No dia seguinte apareceram à porta dois porquinhos. Olha que o padre tinha razão!...

Foi-lhe agradecer o conselho e o padre disse-lhe: olha que eram os meus dois porquinhos que me fugiram do meu quintal!...

O Senhor Sotto Maior no rio junto à casa da Quita dos Vaus, em S. Jorge, Ponte da Barca, chegou a apanhar dois barbos de 3 kg, uma truta de 3 kg, savelhas, o mesmo que o sável, mais pequeno, alguns eram grandes, mas agora são pequenas porque a água é fria, e lampreia, para ser boa só de São Martinho da Gandra para cima. Outro peixe que era o salmão. O Rio Lima era cheio de muito peixe, mas com a Barragem do Touvedo foi-se perdendo muito do que havia de bom neste nosso rio…







segunda-feira, 13 de abril de 2015

DAR ALMA À VIDA XXXII

Dar Alma à Vida


Vivemos momentos intensos de sentimentos em relação à Quaresma que nos fez mudar coisas para que a nossa Vida tenha mais Alma.

Dar Alma à Vida é envolver-nos na Semana Santa, saíndo com uma Vida nova, incutindo à Vida uma Alma igual ou semelhante ao Amor de Cristo, sempre imperfeita em relação ao Mestre.
 
 
 

Como o Papa sugere, dar Alma à Vida não é vivermos a parecer, mas a ser sem escondermos aquilo que somos por trás de vidros fumados de um carro de gama ou sem gama, os nossos olhos por trás de lentes escuras para não mostrar os nossos olhos, nem nos julgarmos superiores falando sempre de cima para os outros, ou comprando perfumes caros para escondermos os odores naturais que são obras de Deus; a higiene, sim, mas vanglória, não. Brio, sim, mas vaidade em exagero não.

Para dar Alma à Vida é preciso que se saiba viver com todos e "cheirar às ovelhas" isto é, à comunidade onde estamos integrados sem secretismos ou escondimentos de regras proselitistas, clubistas, na família Paroquial.

Dar Alma à Vida é ser humilde, aceitar os outros como são; ser tolerante, não condenar por condenar, mas procurar salvar sempre o irmão, ainda que não se concorde com o mal que possa existir. Dar Alma à Vida é servir o irmão, é saber estar com ele e ir ao encontro dele, ser solidário com o irmão e não o julgar.
 

Dar Alma à Vida é não fingir, não é fazer ou "deitar figura", como diz o povo e com razão. É que isto de deitar figura, é fingir, é querer passar por uma coisa que não é e, sobretudo, aquele que só pensa em si e, depois de notado, foge a qualquer responsabilidade.

Dar Alma à Vida exige simplicidade e humildade, comprometimento, saber estar perto e estar longe, esconder-se, como a semente que lançada à terra se não morrer não dará frutos. Os frutos estãonmavia com Alma.

Dar Alma à Vida não são fantasias…
 
 
 

 
 
Cristo não veio para condenar, mas para dar a Vida e, por isso, Deus o glorificou, ressuscitando-O. Anunciar esta ressurreição é dar Alma à Vida e fazer com que a alegria da glorificação divina seja apelo para todos os que buscam a Deus e n’Ele decubram a Fé e a sua necessidade de saber ser humilde porque ninguém é perfeito...

Dar Alma à Vida, é tirar da vida os tesouros materiais como o dinheiro, pois este não é o bem fundamental de ninguém. Dar Alma à Vida é dar-lhe poder sem dinheiro.
 

É saber viver sem medo, sem manipulação, sem teatro, sem criação de interesses económicos ou rejeição de pessoas sejam de que espécie forem: pobres ou ricas, perfeitas ou imperfeitas porque o tojo e a cizânia têm de crescer ao mesmo tempo, pois não temos acima de nós, senão Deus. Só Ele é justo e é Senhor. Dar Alma à Vida é dizer não impérios dos poderosos, mas sempre um sim à vida humana e mais frágil, à obra da criação.
 
 
 

Assim a olharmos directamente, olhos nos olhos, anunciar a Boa Nova, a Verdade, o Amor; denunciar a mentira e as injustiças!...

Mostrar alegria e sorrindo com aleluias é começar uma Vida Nova, uma Vida com Alma. É Páscoa.

                                                                                                                            P.A. Coutinho


sábado, 4 de abril de 2015

Pão da vida



Pão da vida

Padre Manuel Mendes

 

 

 

Nao duvidar

 

 

É na tragédia da Cruz que se funda a nossa salvação. Não há dúvidas que, em Cristo, vale a fé que actua pelo amor. Ter um olhar crente significa reconhecer a Sua presença na vida quotidiana e dar tes­temunho d’Ele; contudo, quando se confia em Jesus, isso pode custar sangue, suor e lágrimas. Ao assumirmos as dores do pró­ximo, sem termos medo, mesmo que sur­jam fracassos aparentes, este estilo de vida constitui um caminho seguro de conversão. Quando Jesus veio da Galileia ao Jordão, também se colocou na fila, para manifestar a Sua comunhão com o povo.

Por via de um simples documento, mas indispensável, para uma criança física e afectivamente fragilizada, foi-nos dado esperar pacientemente longas horas num serviço oficial até às cinco da tarde; e diga- -se que fomos atendidos com delicadeza. Ainda não foi possível consegui-lo, pois o seu pai está desempregado. Não se trata de pedir algum subsídio, mas de permitir assim ao menino o acesso à escolaridade obrigatória. O pequeno, que estava em risco, está devidamente sinalizado e com processo de promoção e protecção em curso.

Por vezes, parece que os passos são mal andados e infrutíferos. Foi nessas andan­ças que também levámos o J. Cá para ir a tempo de se despedir da sua mãe, inac- tiva e deprimida; pois, ao cabo de cinco anos teimava em regressar a África, onde tinham ficado mais filhos. Da rua foi levan­tada por samaritanos que a encaminharam bem para um pastor atento ao seu rebanho, em zona com notórias misérias. Por nossa petição, foi acolhida pelas Missionárias da Caridade, cuja missão junto dos pobres é um sinal exemplar de uma Igreja de vivos. O rapaz tem medicação crônica para pato­logia cardíaca, pelo que não pôde regres­sar. A despedida proporcionou-se, mas deixou-nos alguma incerteza do seu rumo, já que o adolescente precisa muito de ser acompanhado.

A confiança na Providência ainda nos reservou outro encontro decisivo, numa situação de perigo, com outra família desempregada. Aquele dia, em que escutá­mos os seus lamentos, era o fim do prazo para pagar a renda do modesto abrigo. Não se podia falhar nem adiar. Estando o tugúrio desprovido de trastes, chegaram- -nos entretanto alguns, mesmo a propósito. Para além daquela partilha e de alimentos básicos, nesses lugares também ficaram agasalhos. Nestes trabalhos de remenda- gem, nalgumas ocasiões esbate-se a cora­gem, pelo esmorecer da confiança, perante entraves e recuos num panorama de braços caídos e feridos, com tragédias humanas de desânimo. Homem de pouca fé, porque duvidas?!                                                                                                                                            in Gaiato de 29 de junho de 2013

 

 

Pão da vida

Padre Manuel Mendes

 

 

 

Nao duvidar

 

 

É na tragédia da Cruz que se funda a nossa salvação. Não há dúvidas que, em Cristo, vale a fé que actua pelo amor. Ter um olhar crente significa reconhecer a Sua presença na vida quotidiana e dar tes­temunho d’Ele; contudo, quando se confia em Jesus, isso pode custar sangue, suor e lágrimas. Ao assumirmos as dores do pró­ximo, sem termos medo, mesmo que sur­jam fracassos aparentes, este estilo de vida constitui um caminho seguro de conversão. Quando Jesus veio da Galileia ao Jordão, também se colocou na fila, para manifestar a Sua comunhão com o povo.

Por via de um simples documento, mas indispensável, para uma criança física e afectivamente fragilizada, foi-nos dado esperar pacientemente longas horas num serviço oficial até às cinco da tarde; e diga- -se que fomos atendidos com delicadeza. Ainda não foi possível consegui-lo, pois o seu pai está desempregado. Não se trata de pedir algum subsídio, mas de permitir assim ao menino o acesso à escolaridade obrigatória. O pequeno, que estava em risco, está devidamente sinalizado e com processo de promoção e protecção em curso.

Por vezes, parece que os passos são mal andados e infrutíferos. Foi nessas andan­ças que também levámos o J. Cá para ir a tempo de se despedir da sua mãe, inac- tiva e deprimida; pois, ao cabo de cinco anos teimava em regressar a África, onde tinham ficado mais filhos. Da rua foi levan­tada por samaritanos que a encaminharam bem para um pastor atento ao seu rebanho, em zona com notórias misérias. Por nossa petição, foi acolhida pelas Missionárias da Caridade, cuja missão junto dos pobres é um sinal exemplar de uma Igreja de vivos. O rapaz tem medicação crônica para pato­logia cardíaca, pelo que não pôde regres­sar. A despedida proporcionou-se, mas deixou-nos alguma incerteza do seu rumo, já que o adolescente precisa muito de ser acompanhado.

A confiança na Providência ainda nos reservou outro encontro decisivo, numa situação de perigo, com outra família desempregada. Aquele dia, em que escutá­mos os seus lamentos, era o fim do prazo para pagar a renda do modesto abrigo. Não se podia falhar nem adiar. Estando o tugúrio desprovido de trastes, chegaram- -nos entretanto alguns, mesmo a propósito. Para além daquela partilha e de alimentos básicos, nesses lugares também ficaram agasalhos. Nestes trabalhos de remenda- gem, nalgumas ocasiões esbate-se a cora­gem, pelo esmorecer da confiança, perante entraves e recuos num panorama de braços caídos e feridos, com tragédias humanas de desânimo. Homem de pouca fé, porque duvidas?!                                                                                                                                            in Gaiato de 29 de junho de 2013