Mês de Junho - Mês do Sagrado Coração de
Jesus
Um dos pilares fundamentais em que assenta a espiritualidade
do Apostolado da Oração é o Coração de Jesus. Esta tradição tão rica e tão
profunda da espiritualidade cristã não poderia ficar defora do processo de
recriaçãodo Apostolado da Oração. Mais ainda, é precisamente na devoção ao
Coração de Jesus que o processo de recriação encontra o seu núcleo e ponto de
partida.
A recriação do Apostolado da Oração passará necessariamente
por proporcionar aos seus membros e às pessoas que vivam esta espiritualidade a
experiência concreta e pessoal do Amor de Deus nas suas vidas. Mais do que uma
experiência comunitária, alimentada por práticas de- vocionais, a
espiritualidade do Coração de Jesus assenta na oração pessoal e na descoberta
da Pessoa de Jesus como o rosto de Deus Pai. Ele e o Pai são um só e quem vê o
Filho vê o Pai (cfr. Jo 14,9). Por isso mesmo, contemplando a pessoa de Jesus,
contemplamos o mistério do próprio Deus, aprendemos como Deus age, como Deus
fala, como Deus toca a realidade humana.
Este tocar a realidade humana abarca toda a história e todas
as situações que os homens e as mulheres de todos os tempos vivem. O Emanuel,
Deus-connosco, mostra-nos e indica-nos um estilo de vida, um modo de amar e de
nos relacionarmos uns com os outros. O centro da mensagem do Evangelho é a
entrega da própria vida por amor. Neste sentido, é em Jesus crucificado que
contemplamos esta mesma entrega.
O Calvário, como o lugar mais tenebroso da história de Jesus
de Nazaré, assume-se então como o lugar da manifestação do poder de Deus. Ele,
no máximo da sua fragilidade, apresenta o máximo da sua proximidade com o
gênero humano. Partilha e sofre as nossas dores, dando-lhes um sentido,
entregando-Se como gesto de perdão.
Na Constituição Pastoral Gaudium
et spes, do Concilio Vaticano li, é-nos dito de forma
extraordinária o modo como Cristo nos revela quem somos verdadeiramente: «o
mistério do homem só no mistériodo Verbo encarnado se esclarece
verdadeiramente. Adão,oprimeiro homem,era efectivamente figura do futuro, isto
é, de Cristo Senhor. Cristo, novo Adão, na própria revelação do mistério do Pai
e do seu amor, revela o homem a si mesmo e descobre-lhe a sua vocação sublime» (Gaudium et spes, 22).
ConhecendoeexperimentandoJesusna oração pessoal, descobrimos
quem somos e a que destino somos chamados. A vocação sublime do ser humano é
ser Cristo, fazer o que Ele nos mandou, dar carne ao seu mandamento novo: «Que
vos ameis uns aos outros» (Jo 13,34); «Não há maior prova de amor do que
entregar a vida pelos amigos» (Jo 15,13). 0 discurso da última ceia de Jesus no
Evangelho de S. João é toda uma proposta de vida e a manifestação da nossa
vocação como seres humanos totalmente identificados com Cristo.
Esta nova etapa da recriação do Apostolado da Oração é
apresentada pelo documento da seguinte forma: «Acreditamos com audácia nas
promessas de Cristo que afirmam o seu
desejodehabitarocoraçãodaquelesqueconsidera seus amigos. O horizonte definitivo
deste caminho do coração é viver em Cristo e que Cristo viva em mim. É um
caminho de transformação interior no qual o Espírito deseja levar o cristão à
identificação total com Cristo, na sua mente, corpo e alma. É o que desejamos e
pedimos todos os dias, com alma de pobre, sabendo que alcançá-lo nunca será
fruto apenas dos nossos esforços. Acreditamos que esta transformação nos é dada
de modo privilegiado na Eucaristia, onde o próprio Cristo vem a nós no seu
Corpo e no seu Sangue e nos modela interiormente segundo o seu Coração
eucarístico, a fim de ser e actuar como Ele».
O Mistériode Cristo mortoe ressuscitado continua presente na sua Igreja,
de modo privilegiado no sacramento da Eucaristia. Neste sacramento se renova
continuamente a entrega de Jesus no Calvário e a vida nova da Ressurreição. Ao
comungarmos, identificamo-nos cada vez mais com Ele, através do dom
extraordinário que é Ele próprio. Antônio Valério, s.j., in Ecos da Meadela
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