Caminhar na
certeza da glória
Dois mil anos depois, o mínimo que se pode dizer é que se tratou de
algo extraordinário o «que se passou naqueles dias». A Liturgia celebrada no
Tríduo Pascal convida à Páscoa como uma passagem, sempre inacabada, sempre urgida
a cada um de nós, experimentados que estamos na alternância da morte e da
vida, da alegria e da dor.
O Nazareno, crucificado como malfeitor, foi, desde o início, objecto de
contradição. Sobre Ele todos se pronunciaram e continuam a pronunciar a favor
ou contra.
A nossa cultura, que muitos afirmam atingir o clímax do nihilismo, depois
de proclamar a «morte de Deus» e a suprema liberdade só possível pela
«ausência» de Deus, parece agora ufanar-se das consequências e encontrar sempre
novas causas e novos bodes expiatórios para os fracassos notórios. A falta de
sentido, o cansaço de viver, numa sociedade depressiva e sem grandes
horizontes, a braços com a terrível quebra de natalidade e o aumento de uma
violência latente e pronta a «explodir», são sinais que não podemos ignorar. E
não podemos deixar de dizer que o défice de Deus na construção da sociedade é
elemento-base para se entender o défice de sadia convivência, fundamental para
o tecido social.
Também há dois mil anos se pensou - uma parte da sociedade de então que
se sentia ameaçada e subvertida por Jesus - que a morte de Jesus acabaria por
resolver e pôr termo a uma «revolução» como tantas outras já deles conhecidas.
Mas não foi assim. O Cristo silenciado então ressurge a cada momento na história
dos homens com uma Palavra sempre mais vigorosa. O que nos dá a certeza, a nós
os crentes de hoje também de algum modo amordaçados, de que nenhum poder humano
O pode fazer calar. Assim, a grande novidade de Jesus, que os cristãos são
chamados a testemunhar, é a de uma vitória da vida sobre a morte. Uma vitória
que nos está, de antemão, garantida.
Que mais e melhor poderemos nós desejar? E Jesus não nos prometeu vida
fácil, antes nos convidou a aprender com Ele e a seguir atrás dele. Conhecendo
o desfecho final torna-se mais fácil aguentar as agruras da caminhada. Por
isso, aquele que acredita em Jesus tem de ter, necessariamente, uma postura
diante dos revezes da vida, diferente da daquele que não acredita. E quando se
pede aos cristãos a força do testemunho, não se lhes pede grandes argumentações
a favor ou em defesa do crer diante do que não crê. Pede-se um sorriso doce,
carregado de esperança. Porque ele «sabe» o que o não crente não sabe. Ele sabe
de antemão que a cruz dá lugar à glória. E que nenhum túmulo pode conter Deus.
Como aconteceu com Jesus, da morte Deus faz surgir a vida. SEMPRE. Aleluia!
O Prior - P. Abílio Cardoso
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