Uma missão comum
Guilherme d’Oliveira Martins
Publicação conjunta da Missãopress
Pode dizer-se que a memória de João XXIII e de João Paulo II
chega aos nossos dias como marco de diferenças e complementaridades. Lembramos
o sentido profético da decisão do Papa Roncalli ao convocar o Concílio
Ecuménico Vaticano II. Compreendendo que o mundo estava em acelerada mudança e
que a Europa não era mais o centro da globalização, o antigo núncio na Turquia
e arcebispo de Veneza abriu horizontes e propôs uma especial atenção e cuidado
aos sinais dos tempos. E que estava em causa? O entendimento do pluralismo, do
papel crescente da laicidade, o diálogo entre religiões, a abertura a todos os
homens e mulheres de boa vontade, a liberdade religiosa, a paz e a justiça. Longe
de ter sido o papa de transição que muitos julgavam que viesse a ser, João
XXIII abriu um novo capítulo na vida da Igreja Católica, pondo-a em maior
contacto com o mundo contemporâneo e chamando o Povo de Deus ao movimento, ao
compromisso e à acção, no sentido do ser e do agir. Daí que as constituições
Gaudium et Spes e Lumen Gentium sejam documentos incindíveis. Não se tratava de
completar o Concílio Vaticano I, mas de lançar um desafio novo em nome da
dignidade da pessoa humana e da vitalidade da Graça de Nosso Senhor Jesus
Cristo. Releiam-se os textos do concílio, relembre-se a actualidade da
encíclica Pacem in Terris. A missão que nos é proposta por João XXIII mantém-se
plenamente actual. Se pensarmos no cardeal Woytila encontramos um mesmo sentido
profético na sua acção determinada. Foi um pontífice peregrino, que foi até aos
confins da Terra, como missionário do novo tempo. Dir-se-á que tirou as devidas
consequências da herança de João XXIII e de Paulo VI. Assim foi. Adoptou, por
isso, o nome dos dois, João e Paulo, com evidente intencionalidade. Invocou o
gesto inicial de João e a determinação continuadora de Paulo. João Paulo II, no
seu magistério, deu passos decisivos no sentido de alargar ao mundo a mensagem
da Boa Nova. Vindo do centro e do leste da Europa e projectando a sua presença
no hemisfério sul, mudou a face da Igreja, tirando as devidas consequências do
gesto audaz do Papa Roncalli e da força lúcida do Pontífice Montini. Ambos
foram fazedores comum de pontes, com repercussões que hoje sentimos quer na
sabedoria de Bento XVI e na sua proposta de Fé e de Razão, de Amor e Esperança,
quer na proximidade do Papa Francisco, que de um modo muito próprio continua o
compromisso assumido na missão comum dos dois papas cuja canonização celebramos
- S. João XXIII e S. João Paulo II. As diferenças e as complementaridades são
Caminho, Verdade e Vida.
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