Continuando o
artigo intitulado “Evangelii Gau- dium" (DM, 12/03/2014, p. 17), onde
assinalámos algumas das novidades do ano do pontificado do Papa Francisco,
vejamos agora a relevância dada a alguns protagonistas - entre os quais o
pobre e o emigrante - e a um tema
- o sistema capitalista que os exclui. Sem dúvida,
que o título da Exortação é também lídima expressão do seu contagian- te
pontificado.
1.
O
imperativo subjacente ao texto pode assim enunciar-se: A própria beleza do Evangelho nem sempre a
conseguimos manifestar adequadamente, mas há um sinal que nunca deve faltar a
òpção pelos últimos, por aqueles que a sociedade descarta e lança fora” (n°
195). Por isso, o Papa assevera que “o dever dos ricos, em nome de Cristo, é
ajudar os pobres, respeitá-los e promovê-los" (58).
Os líderes das
principais potências mundiais são instados a lutar contra a pobreza e as
desigualdades provocadas pelo capitalismo financeiro, que ele chama de “nova
tirania invisível”, condenando “a nova idolatria do dinheiro” e este sistema
econômico que causa “exclusão". E o axioma de partida postula o seguinte:
“Assim como o mandamento “não matar” põe um limite claro para assegurar o
valor da vida humana, assim também hoje devemos dizer “não a uma economia da
exclusão e da desigualdade social”. Esta economia mata” (53).
Os efeitos de
alienação desta “economia que mata" são tais, que é estranho que ocorram
factos como este: “não é possível que a morte por enregelamento dum idoso sem
abrigo não seja notícia, enquanto o é a descida de dois pontos na Bolsa Isto
é exclusão. Não se pode tolerar mais o facto de se lançar comida no lixo,
quando há pessoas que passam fome. Isto é desigualdade social” (n° 53). Por
isso, ganham aindamaisforçaas duras palavras de Francisco contra o atual
sistema: é não somente “injusto na sua raiz” (59), como gera uma “economia da
exclusão e da desigualdade social que “mata”” (53), originando uma “cultura
do descartável" que não só explora e
oprime mas exclui: e esiiis não são só “explorados ’, mas tomam-se “resíduos,
“sobras”” (53).
2.
Juntamente
com os “sem-abrigo, os toxico- dependentes, os refugiados, os povos indígenas,
os idosos cada vez mais sós e abandonados”, os migrantes “representam um
desafio especial para mim - afirma Francisco por ser Pastor de uma Igreja sem
fronteiras que se sente mãe de todos” (210). No “Dia Mundial do Migrante e do
Refugiado” apelou, na oração dominical do Angelus, para o fim dos “mercadores
de came humana” que escravizam imigrantes e refugiados. Convida também as comunidades
a uma “abertura generosa”, sem'medo que as suas identidades locais se
estiolem, convidan- do-as a serem agentes de criação de “novas sínteses
culturais”. É superando a “desconfiança doentia” que a integração dos que são
diferentes pode tomar-se “um novo fator de progresso” (210).
Referem-se ainda
outras vítimas da opressão: “Sempre me angustiou a situação das pessoas que
são objeto das diferentes formas de tráfico. Quem dera que se ouvisse o grito
de Deus, perguntando a todos nós: “Onde está o teu irmão?” (Gênesis: 4,9).
Onde está o teu irmão escravo? Onde está o irmão que estás a matar cada dia na
pequena fábrica clandestina, na rede da prostituição, nas crianças usadas para
a mendicidade, naquele que tem de trabalhar às escondidas porque não foi regularizado?”
(211)
3.
Para o
atual sistema econômico, a pessoa humana não conta, pois tem- se por “um bem
de consumo que se pode usar e depois jogar fora” (53). Aliás,
“a crise financeira que atravessamos faz-nos esquecer que, na sua origem, há uma crise
antropológica profunda: a negação da primazia do ser humano. Criámos novos
ídolos. A adoração do antigo bezerro de ouro (cf. Êxodo: 32,1-35) encontrou
uma nova e cruel versão no fetichismo do dinheiro e na ditadura de uma
economia sem rosto e sem um objetivo verdadeiramente humano” (55). Aludindo
aos países em crise, adverte que “a dívida e os respetivos juros afastam os
países das possibilidades viáveis da sua economia e os cidadãos do seu real poder
de compra. A tudo isto vem juntar-se uma corrupção ramificada e uma evasão
fiscal egoísta, que assumiram dimensões mundiais. A ambição do poder e do tef
não conhece limites” (56).
Neste
enquadramento, Francisco não esquece que “entre os seres frágeis, que a Igreja
quer cuidar com predileção, estão também os nascituros, os mais inermes e
inocentes de todos, a quem hoje se quer negar a dignidade humana para poder
fazer deles o que apetece, tirando- -lhes a vida e promovendo legislações
para que ninguém o possa impedir" (213); agindo assim, “não restam
fundamentos sólidos e permanentes para a defesa dos direitos humanos, que
ficariam sempre sujeitos às conveniências contingentes dos poderosos de
tumo" (213). Por todas estas razões, “Evangelii Gaudium” já foi denominada
como a “Magna Carta para a Igreja de hoje”, escrita em estilo coloquial e numa
prosa caracterizada por uma “nova linguagem parabólica” - como salientámos já
no artigo anterior.
Aclio Estanqueiro Rocha
Olá Coutinho, chamo-me Roberto Zamith, sou do Brasil e moro na cidade de Manaus. Li seu artigo sobre "Os Zamiths" publicado no antigo blog e gostaria de saber mais sobre a origem do sobrenome Zamith para ajudar-me a realizar um artigo acadêmico. Obrigado, na espera.
ResponderEliminarBoa tarde,
EliminarGostei do seu reparo e numa primeira abordagem, constava em Viana que esta família que aqui se radicou teria vindo de Alemanha ou de Inglaterra. No entanto, eu não lhe posso confirmar hoje esta informação que adianto mas, vou procurar um familiar para ver se me adianta alguma coisa.
Cumprimentos do amigo Pe Artur Coutinho
PS: Se souber aí de Coutinho ou Reis de apelidos, gostaria que me informasse pois houve antepassados nessas zonas.