Os bispos são nossos pais na
fé. Se não são, deveriam sê-lo na sua missão profética e como vigilantes da
qualidade da educação cristã.
Sirvo-me do testemunho de um bispo, não o meu, também capaz
de dizer isso e mais, mas do arcebispo de Toledo, D. Bráulio Rodríguez.
O arcebispo espanhol adverte, pedagogicamente, que os pais
não devem considerar algumas celebrações cristãs na vida dos seus filhos, por
exemplo, a Primeira Comunhão, como uma mera “tradição” ou um acto de “consumo
religioso”. Também não devem fazer da sua paróquia ou de algum colégio
católico que ainda se preocupa com a educação cristã dos seus alunos “uma
estação de serviço ou uma grande superfície”, onde podem escolher e comprar o
que “mais gostam ou lhes apetece’.
D. Bráulio Rodríguez teme que, para os pais, a Primeira
Comunhão dos seus filhos se reduza socialmente a uma “missa de festa”, não
cuidando, bem pelo contrário, que as crianças “se acostumem a celebrar a
Eucaristia dominical” da qual não têm prática ou dela se despedem para sempre.
Outros só aparecem na profissão de fé e os mais resistentes no crisma, ao menos
para poderem ser padrinhos de baptismo, se for caso disso e lhes exigirem. Se
houver mais ocasiões, serão bem contadas e escassas de quem se habitua à rotina
das emoções religiosas, alheias a qualquer convicção.
A vivência da Primeira Comunhão está muitas vezes e em muitos
casos longe daquilo que é a expectativa da Igreja. Pouco importa que as
paróquias invistam tanto na catequese das crianças, se os resultados são tão
precários e desenraizados da catequese familiar.
É assim que as paróquias vão perdendo crianças, adolescentes
e jovens, tendo investido pouco em casais e famílias a quem nem sequer chegou
a evangelização.
Lembro-me ter lido, no site da diocese de Santarém, uma das
p r e o c u p a ç õ e s pastorais do seu bispo, D. Manuel Pelino. Era também
sobre a Primeira Comunhão. Na sua opinião, “corre o risco de se tornar mais
uma festa da infância no meio de tantas outras”, fruto de um “secularismo
reinante, fonte do relativismo, da superficialidade e do vazio”.
Quem dera que a Primeira Comunhão fosse uma experiência religiosa
marcante que motivasse as crianças para continuar o percurso da iniciação
cristã até à fé adulta.
Infelizmente, essa não é a regra, pesem embora as louváveis
excepções.
A Primeira Comunhão não passa, na generalidade, de uma festa
sazonal de cristãos que continuam a engordar as estatísticas dos católicos “não
praticantes”; seria melhor dizer “incoerentes”.
O que vale às crianças é a sua cativante simplicidade. Quanto
aos adultos têm a ideia que já fazem muito com a Primeira Comunhão dos filhos,
mas estragam-lhes a festa com a falta de compromissos de fidelidade à prática
religiosa.
São apenas cristãos epidermicamente felizes!
Cónego RUI OSÓRIO
(conegoruiosorio@diocese-porto.pt)
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