Nicholas Winton, o inglês que salvou mais de 600 crianças dos
nazis no início da Segunda Guerra Mundial, foi condecorado na República Checa
com a mais alta honraria do país – a Ordem do Leão Branco.
Winton, de 105 anos, tinha apenas 29 quando eclodiu a Guerra em
1939.
De visita à Checoslováquia com um amigo, Winton conseguiu
arranjar oito comboios e transportar
669 crianças – a maioria delas judias – para fora do país .
As crianças foram conduzidas para Inglaterra e para a Suécia,
onde ficaram livres da acção dos nazis.
76 anos depois, o britânico participou esta terça-feira numa
cerimónia, no Castelo de Praga, onde recebeu a Ordem do Leão Branco, das mãos de Milos Zeman, o
presidente da República Checa.
No seu discurso, Winton agradeceu aos britânicos que
aceitaram receber as crianças em sua casa.
“Quero agradecer a todos os que arranjaram espaço nas suas casas
para acolher as crianças”, disse Winton, “e fico muito contente por algumas
delas ainda estarem aqui para me agradecer.”
BBC
Nicholas Winton recebe a condecoração das mãos de Milos Zeman, o
presidente da República Checa.
Schindler britânico
A missão notável do homem muitas vezes chamado de “Schindler
britânico” só se tornou conhecida nos anos 80.
Mas tudo começou em 1938, após a ocupação nazi da região dos Sudetos. Depois de visitar os campos de refugiados de Praga, Winton decidiu ajudar as crianças a obter residência em Inglaterra – e fazer com que lá chegassem.
Winton, na altura um corretor da bolsa em Londres, vinha de uma
família judia alemã, pelo que estava bem
consciente da urgência da situação.
“Eu sabia o que estava a acontecer na Alemanha. Estava
consciente do problema, mais do que muita gente e, com certeza, mais do que os
políticos”, contou Winton à BBC.
Winton conseguiu encher
8 comboios com crianças judias e fazê-las sair da
Checoslováquia, pouco antes de a Guerra eclodir.
Mas um 9º comboio, ainda mais cheio – com 250 crianças – não
conseguiu cruzar a fronteira antes do conflito tomar conta do país. Nenhuma das
crianças sobreviveu.
Winton não contou a ninguém o que tinha feito, e o seu gesto ficou desconhecido
durante 50 anos – até que nos anos 80 a sua mulher Grete descobriu um velho
livro com os nomes e as fotos de todas as crianças.
E um dia, sem que soubesse, as
crianças estavam sentadas ao seu lado
Desde que a sua história se tornou conhecida, Winton recebeu
várias homenagens: do governo checo, da rainha de Inglaterra, do antigo
presidente americano George W. Bush.
Mas a
mais comovente homenagem que Winton recebeu veio dos que um dia
salvou da morte certa.
Espalhadas por vários países, as 669 crianças salvas por Winton
cresceram, sem ter notícias do seu benfeitor. Tornaram-se escritores,
engenheiros, biólogos…
Em 1988, um programa da BBC encheu um auditório para fazer uma
homenagem a Winton.
A apresentadora começa por lhe dizer que a mulher sentada ao seu lado era uma
das crianças que ele tinha salvo.
O que Winton não sabia é que no auditório, completamente cheio,
estavam as crianças sobreviventes.
A apresentadora pede então a todos os presentes a quem Winton
tivesse salvo a vida, que se levantassem.
O agradecimento vem em forma de aplausos demorados, lágrimas, e
uma palavra apenas: obrigado.
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