Contabilidade de
fim de ano
Contar,
agradecer os deves e os haveres pessoais de 2014, última tarefa
do ano, pode ser um desafio
eufórico ou deprimente. O melhor é aceitar o desafio que respeite a realidade
sem subterfúgios irracionais. Vamos lá, uma pequena ajuda, mas só no que
respeito a empresas pessoais.
Sei onde vou
contabilizar as alegrias de 2014. Claro, no haver dos presentes recebidos de
todos os lados. E as tristezas? Serão dons ou secas? Trouxeram mais-valias, ou
perdas? Para não me enganar, conto-as como dons porque muitas fizeram-me
melhor. A saúde, não se dúvida, é um presente da vida e do Senhor da vida; mas
as doenças, são só prejuízos? Sim, se trouxeram só choro, em mim e à volta; se
cresceu a bondade, dentro e fora de mim, por ocasião delas, podem ser aceites
como dons de remédios amargos, mas remédios. Ficam no haver, depois veremos;
vou pensar melhor. Os sorrisos fizeram subir os ganhos? Bem… nem todos, depende
da sua qualidade; também houve choros e dores que deixaram o coração cheio de
alegria. Pelo sim pelo não, ponho ambos na coluna do haver.
Se a fome foi de
saúde e foi saciada com alimentos à mão, ponho como ganho; se foi fome que deu
em doença e morte por faltar a comida, ou por comida a mais, ponho nas dívidas.
Quem fica a dever? Se tenho egoísmo e bens em excesso que levam a doenças e
mortes alheias por carências, só a posso colocar no meu deve. A justiça do bem
comum que promovi aumenta o capital dos valores do coração humano: é ganho. E
que vou fazer ao egoísmo avarento que faz do coração uma pedra? Só o posso
colocar nas perdas e custos irreparáveis. Fico perplexo onde devo colocar a
abundância e a austeridade e tenho de perguntar: abundância excedente e
austeridade de privação no básico, de quem? Parece que as duas são grandes
perdas do ano. Só se salva no haver a abundância para o bem comum, para todos.
As atitudes e ações de amor e seus similares, se forem de qualidade e não
espúrios, não oferecem dúvida: vão para a coluna dos ganhos; os seus opostos
ódio e vingança são vírus mortais infiltrados no programa da empresa pessoal,
um prejuízo incalculável. As receitas da humildade e modéstia multiplicaram os
lucros; enquanto os seus opostos de orgulho, soberba, e o cortejo dos seus
produtos tóxicos, falsificações, roubos, mentira, contam como danos de
bancarrota fraudulenta; entram na corrupção e apodrecimento da empresa pessoal.
Só ficará a embalagem com algum verniz.
Continuemos.
Agora já posso começar a agradecer os dons que aí ficam a quem me fez
presentes; e a pagar as dívidas contraídas. Nem adianta usar muitos embrulhos e
embalagens para esconder a dívidas e tentar envernizar por fora os negativos do
ano como sepulcros caiados. Esse fingimento tão comum ia logo aumentar as
perdas e poria a empresa pessoal a perder e na falência. Bem, a não ser que
haja um resgate de grande poder e generosidade. Mas só de quem não esteja
também falido por egoísmo, ganância, açambarcamento e, pior, armadilhado de
ódio ao próximo, que faria aumentar a dívida e os prejuízos do ano 2014 e dos
anos seguintes até quase ao infinito.
Vamos então
procurar quem nos ofereça grátis prendas que cubram todos os prejuízos
acumulados neste ano e os que já vêm dos anos anteriores. Prejuízos não apenas
dos horizontes terrenos mas também dos horizontes da vida sem fim em cuja
entrada nos exigem contas do coração muito certinhas.
Bom fim de ano
com contas certinhas, bom ano novo para todos!
Aires Gameiro
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