quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Contabilidade de fim de ano


Contabilidade de fim de ano

Contar, agradecer os deves e os haveres pessoais de 2014, última tarefa do ano, pode ser um desafio eufórico ou deprimente. O melhor é aceitar o desafio que respeite a realidade sem subterfúgios irracionais. Vamos lá, uma pequena ajuda, mas só no que respeito a empresas pessoais.

Sei onde vou contabilizar as alegrias de 2014. Claro, no haver dos presentes recebidos de todos os lados. E as tristezas? Serão dons ou secas? Trouxeram mais-valias, ou perdas? Para não me enganar, conto-as como dons porque muitas fizeram-me melhor. A saúde, não se dúvida, é um presente da vida e do Senhor da vida; mas as doenças, são só prejuízos? Sim, se trouxeram só choro, em mim e à volta; se cresceu a bondade, dentro e fora de mim, por ocasião delas, podem ser aceites como dons de remédios amargos, mas remédios. Ficam no haver, depois veremos; vou pensar melhor. Os sorrisos fizeram subir os ganhos? Bem… nem todos, depende da sua qualidade; também houve choros e dores que deixaram o coração cheio de alegria. Pelo sim pelo não, ponho ambos na coluna do haver.

Se a fome foi de saúde e foi saciada com alimentos à mão, ponho como ganho; se foi fome que deu em doença e morte por faltar a comida, ou por comida a mais, ponho nas dívidas. Quem fica a dever? Se tenho egoísmo e bens em excesso que levam a doenças e mortes alheias por carências, só a posso colocar no meu deve. A justiça do bem comum que promovi aumenta o capital dos valores do coração humano: é ganho. E que vou fazer ao egoísmo avarento que faz do coração uma pedra? Só o posso colocar nas perdas e custos irreparáveis. Fico perplexo onde devo colocar a abundância e a austeridade e tenho de perguntar: abundância excedente e austeridade de privação no básico, de quem? Parece que as duas são grandes perdas do ano. Só se salva no haver a abundância para o bem comum, para todos. As atitudes e ações de amor e seus similares, se forem de qualidade e não espúrios, não oferecem dúvida: vão para a coluna dos ganhos; os seus opostos ódio e vingança são vírus mortais infiltrados no programa da empresa pessoal, um prejuízo incalculável. As receitas da humildade e modéstia multiplicaram os lucros; enquanto os seus opostos de orgulho, soberba, e o cortejo dos seus produtos tóxicos, falsificações, roubos, mentira, contam como danos de bancarrota fraudulenta; entram na corrupção e apodrecimento da empresa pessoal. Só ficará a embalagem com algum verniz.

Continuemos. Agora já posso começar a agradecer os dons que aí ficam a quem me fez presentes; e a pagar as dívidas contraídas. Nem adianta usar muitos embrulhos e embalagens para esconder a dívidas e tentar envernizar por fora os negativos do ano como sepulcros caiados. Esse fingimento tão comum ia logo aumentar as perdas e poria a empresa pessoal a perder e na falência. Bem, a não ser que haja um resgate de grande poder e generosidade. Mas só de quem não esteja também falido por egoísmo, ganância, açambarcamento e, pior, armadilhado de ódio ao próximo, que faria aumentar a dívida e os prejuízos do ano 2014 e dos anos seguintes até quase ao infinito.

Vamos então procurar quem nos ofereça grátis prendas que cubram todos os prejuízos acumulados neste ano e os que já vêm dos anos anteriores. Prejuízos não apenas dos horizontes terrenos mas também dos horizontes da vida sem fim em cuja entrada nos exigem contas do coração muito certinhas.

Bom fim de ano com contas certinhas, bom ano novo para todos!

Aires Gameiro

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