segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

“Façam voluntariado com o coração"

“Façam voluntariado com o coração"

05 Dez, 2015 - 10:57 • Ângela Roque
Maria Graça Nobre tem 90 anos e há mais de 30 que é voluntária da Liga Portuguesa Contra o Cancro no IPO de Lisboa. Diz que é mais o que recebe do que o que dá, e que o que faz é tudo “por amor”.



Nem a idade (tem 90 anos), nem a distância (vive entre o Cartaxo e Santarém) impedem Maria da Graça Nobre de ir todas as sextas-feiras fazer voluntariado no IPO de Lisboa.
Está na Liga Portuguesa Contra o Cancro há 32 anos, mas o voluntariado entrou na sua vida mais cedo.
“Antes de vir para a Liga já tinha estado oito anos em Alcoitão. Parei dois anos, porque tive um problema familiar, mas depois entrei na Liga, e até hoje”. Um compromisso que para si “é um emprego”, a que só falta quando não pode deixar de ser, “por razões de saúde”.
Maria da Graça garante que a idade não é um obstáculo nem um limite: “Pelo menos para mim não é. Venho de longe, meia hora de carro até ao combóio, uma hora de combóio até Lisboa. Venho sempre bem-disposta”.
Quando se lhe pergunta se tem orgulho no que faz, não hesita: “Tenho muito orgulho em ser voluntária do IPO. Faz parte de mim. Costumo dizer que estes anos em que estou no voluntariado da Liga que recebi muito mais do que aquilo que dou. Aqueles doentes ensinam-nos muito”.
Já chegou a vir três vezes por semana, agora vem só à sexta-feira, para o serviço do ‘Café com Leite’. Diz que faz “tudo por amor, especialmente por amor. O doente sentir que tem ali alguém que pode dar uma palavrinha e aquele copinho de chá ou café com leite que se lhe leva, é dado com amor”.
A bebida quente é um aconchego quase sempre aceite, mas a conversa nem por isso: “O doente do IPO é um doente muito difícil, nem sempre aceita a conversinha. Mas há outros que vêm eles ter connosco e desabafam, falam”.
Maria da Graça Nobre espera que o seu testemunho possa ser um incentivo para que outros também sejam voluntários: “Façam voluntariado, mas sempre com o coração. É o que é importante no voluntariado”.
A “mais-valia” da idade
Para a coordenadora do núcleo regional sul da Liga Portuguesa Contra o Cancro, Helena Grilo, são exemplos como os de Maria da Graça que inspiram outros a fazer voluntariado.
“Olhar para uma senhora com 90 anos, que ali está há mais de 30, que só faltou mesmo por razões de saúde, de facto é um exemplo que nós tentamos também partilhar com os outros voluntários”.
A nível nacional a Liga tem 1.200 voluntários. No núcleo regional Sul há 500, e muitos são idosos. A idade não é um critério, até porque nem todos conseguirão passar muitas horas em pé, ou lidar com doentes em situações limite, explica. Mas os que podem estão de corpo e alma, e são uma grande ajuda.
“A experiência de vida das pessoas é uma grande mais-valia. Especialmente quando estamos a falar de situações de grande fragilidade, as pessoas mais velhas sabem incentivar, ensinam a valorizar as pequenas coisas, ajudam os doentes a viver um dia de cada vez e a ter esperança”.
No IPO de Lisboa há voluntários da Liga em 17 serviços: “Cada serviço tem os seus turnos, cada pessoa sabe exactamente qual é o trabalho que deve fazer”. Estão nos serviços de apoio aos doentes em ambulatório e aos doentes internados. Mas, explica Helena Grilo, também integram os “ movimentos de entreajuda, porque há determinadas ajudas que a Liga disponibiliza a determinados doentes, mulheres com cancro de mama, os doentes laringectomizados, e os doentes ostomizados”.
Há ainda um serviço de apoio aos doentes do Lar que existe no IPO, e um serviço de costura, que “é o único serviço em que as voluntárias não estão em contacto directo com os doentes, mas estão o ano inteiro a trabalhar para os doentes”. Fazem próteses mamárias provisórias, uma espécie de ‘almofadinhas’ que “oferecem às senhoras que são mastectomizadas no dia da alta, porque é a única coisa que elas podem pôr”.
É também ali que são feitos os “xailes de lã que as voluntárias de apoio ao internamento oferecem na semana do Natal aos doentes que ficam lá internados”.
Bata de voluntário: “Um diploma que se veste”
Helena Grilo explica que a Liga Portuguesa contra o Cancro tem quatro áreas de apoio ao doente oncológico onde estão voluntários: “Uma é a prevenção primária, com as campanhas de sensibilização para a prevenção do cancro, outra a prevenção secundária, que passa pelos rastreios, e a Liga faz o rastreio do cancro da mama. E temos ainda o apoio à investigação científica. Todos os anos a Liga concede bolsas que apoiam projectos de investigação na pesquisa da cura do cancro”.
A formação dos voluntários é igual para todos: “Primeiro recebem informação sobre a Liga, depois vão conhecer os vários serviços, e no final fazem um estágio em que aprendem com os que já são voluntários. Rodam pelos vários serviços e equipas para depois dizerem onde é que se sentem melhor”. Este estágio dura no mínimo sete meses, tem um orientador e é sujeito a avaliação: “Se for positiva recebem a bata de voluntário. Nós até costumamos dizer que o nosso diploma veste-se”.
Esta sexta-feira, na celebração antecipada do Dia Internacional do Voluntário, foram entregues batas a 65 novos voluntários, e distinguidos 19 que completaram 10 anos de serviço, mais nove que completaram 20, e uma que celebrou 25 anos de serviço.
A conversa com Maria da Graça Nobre e Helena Grilo vai ser transmitida na íntegra domingo, 6 de Dezembro, no programa “Princípio e Fim” da Renascença, a partir das 23h30.

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