QUE
DEUS VENHA CÁ A BAIXO VER...
O PAPA, O EMÉRITO E A
SUA IGREJA
CARLOS ENRIQUE – CONVIDADO do
último número da revista «Courrier Internacional»
Carlos Enrique é diretor do jornal digital Público, trabalhou em Moscovo e Washington, cobriu guerras no
Médio Oriente, Afeganistão, Camboja e Arménia, bem como a queda do Muro de
Berlim e o massacre de Tiananmen.
Excertos de um artigo mais longo, publicado em
«publico.es», a 14 de março de 2013.
Com a mais do que dogmática exclusão das mulheres – do conclave e de
qualquer posição na Igreja Católica, exceto a de serventes dos religiosos
varões —, 115 cardeais elegeram um novo bispo
de Roma, que tem sido elogiado por todos os teólogos. incluindo proeminentes
filósofos da libertação, como Leonardo Boff, condenado a um ano de silêncio
pelo agora Papa emérito Ratzinger, quando presidia à Congregação para a Doutrina
da Fé.
Muitos cristãos respiraram de alívio por o novo Papa não ser dos mais
ultraconservadores da Cúria, mas o certo é que Jorge Mario Bergoglio nunca foi
liberal. No que respeita à total falta de representação das mulheres na Igreja,
Francisco doutrinou-nos: "As mulheres são naturalmente inaptas para cargos
políticos (...) A ordem natural e os factos ensinam-nos que o homem é o ser
político por
excelência: as Escrituras mostram-nos que a mulher é sempre o
apoio do homem pensador e criador, mas nada mais do que isso".
Depois de ler tão douta e irrefutável explicação da misoginia
eclesiástica, não admira que o Papa tenha considerado uma lei sobre o casamento
homossexual "uma manobra de Satanás", numa carta dirigida às freiras
carmelitas da Argentina. É que nas questões sexuais os cardeais são muito
rigorosos... salvo quando se trata da pedofilia dos sacerdotes, claro. A
verdade é nunca se decidiram a explicar-nos por que razão os abusos pedófilos
dos religiosos não são tão diabólicos como a homossexualidade ou o adultério,
que, em contrapartida, os exasperam.
No conclave votaram (nunca saberemos em quem), membros da "dúzia
suja", classificação atribuída a 12 cardeais pela SNAP – Rede de
Sobreviventes de Abusos Praticados por Padres, organização dos EUA que
divulgou, em Roma, a lista negra dos cardeais que "não enfrentaram com
suficiente rigor os casos de clérigos pedófilos, não lhes deram relevância,
recusaram reunir-se com as vítimas e criticaram as investigações
jornalísticas".
Uma vez que alguns desses 12 são latino-americanos (como Norberto Rivera
Carrera, arcebispo da Cidade do México, amigo e cúmplice do pederasta fundador
dos Legionários de Cristo, Marcial Maciel, ou o hondurenho Óscar Rodríguez
Maradiaga), ou hierarcas eminentes do conclave (como o próprio Tarcisio
Bertone), não é arriscado apostar que o primeiro Papa latino-americano tenha
recebido muitos votos de cardeais que foram defensores ou cúmplices de
sacerdotes pedófilos. Não é de estranhar, numa hierarquia que gosta tanto de
encobrir esse tipo de crimes (considerados, em qualquer outro grupo humano, dos
mais terríveis e condenáveis), que em países onde a Igreja Católica não goza de
imunidade oficial, como nos EUA, as dioceses se estejam a arruinar pagando
indemnizações judiciais multimilionárias às vítimas desses abusos horrendos.
Agora teremos dois Papas e é possível que o emérito se tenha refugiado na
clausura perante o avanço das investigações internacionais sobre o seu
encobrimento desses crimes sexuais eclesiásticos, que conhecia perfeitamente
quando dirigia a Congregação para a Doutrina da Fé e perseguia religiosos por
denunciarem tiranias na América Latina. Em setembro de 2011, o Centro para os
Direitos Constitucionais dos EUA iniciou uma ação, no Tribunal Penal Internacional,
contra Ratzinger e outros altos cargos do Vaticano, em nome das vítimas,
alegando que "o Papa é responsável por violação e outros abusos sexuais em
todo o mundo, tanto pelo seu exercício de responsabilidade superior como pelo
seu envolvimento direto no encobrimento dos crimes".
Na própria Santa Sé, sucedem-se escândalos de espionagem (o VatiLeaks do
mordomo do Papa), intercâmbio de favores sexuais entre seminaristas, leigos e
prelados que marcavam encontros nos lugares mais inesperados de Roma, e
corrupção no Banco do Vaticano (onde se lavou durante décadas o dinheiro da
Máfia, de traficantes de drogas e de armas). É muito provável que sejam a
verdadeira razão da decisão histórica de Ratzinger de renunciar à cadeira de
São Pedro e retirar-se para lamber as feridas das intrigas do padrinho de toda
essa máfia.
Tão árdua é a tarefa de limpeza
que espera o novo Pontífice, que não lhe basta o Espírito Santo. O melhor é que
Deus venha cá a baixo e veja; porque o que está a acontecer na sua Igreja, só vendo é que se
pode acreditar.
90 - MAIO 2013 – N.º 207, pág. 90
Não sei se leram este artigo, que vem na última página do
número de maio do Courrier Internacional.
Interrogo-me como é possível haver ainda hoje leituras tão
extremistas de uma realidade que sabemos ser muito diferente – objetivamente!
Sem comentários – ou valerá/valeria a pena fazê-los?
Boa leitura.
Fp
Não será de concluir que o diabo
anda por aí a cegar os seus? Até parece. O ódio e a mentira é muita.
Mas lá que quere chegar à
demolição da Igreja, lá isso quere. Coitado! Deus lhe perdoe pelo menos uns
minutos antes de morrer.
Entretanto ai dos que
escandalizam os mais fracos como as crianças.
Um abraço amigo.
Aires Gameiro
Fernando, ainda tinha mais para dizer, mas fica para depois...
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