sábado, 25 de maio de 2013

QUE DEUS VENHA CÁ A BAIXO VER... O PAPA, O EMÉRITO E A SUA IGREJA


QUE DEUS VENHA CÁ A BAIXO VER...

O PAPA, O EMÉRITO E A SUA IGREJA

 

CARLOS ENRIQUE – CONVIDADO do último número da revista «Courrier Internacional»

 

Carlos Enrique é diretor do jornal digital Público, trabalhou em Moscovo e Washington, cobriu guerras no Médio Oriente, Afeganistão, Camboja e Arménia, bem como a queda do Muro de Berlim e o massacre de Tiananmen.
Excertos de um artigo mais longo, publicado em «publico.es», a 14 de março de 2013.

Com a mais do que dogmática exclusão das mulheres – do conclave e de qualquer posição na Igreja Católica, exceto a de serventes dos religiosos varões —, 115 cardeais elegeram um novo bispo de Roma, que tem sido elogiado por todos os teólogos. incluindo proeminentes filósofos da libertação, como Leonardo Boff, condenado a um ano de silêncio pelo agora Papa emérito Ratzinger, quando presidia à Congregação para a Doutrina da Fé.

Muitos cristãos respiraram de alívio por o novo Papa não ser dos mais ultraconservadores da Cúria, mas o certo é que Jorge Mario Bergoglio nunca foi liberal. No que respeita à total falta de representação das mulheres na Igreja, Francisco doutrinou-nos: "As mulheres são naturalmente inaptas para cargos políticos (...) A ordem natural e os factos ensinam-nos que o homem é o ser político por excelência: as Escrituras mostram-nos que a mulher é sempre o apoio do homem pensador e criador, mas nada mais do que isso".

Depois de ler tão douta e irrefutável explicação da misoginia eclesiástica, não admira que o Papa tenha considerado uma lei sobre o casamento homossexual "uma manobra de Satanás", numa carta dirigida às freiras carmelitas da Argentina. É que nas questões sexuais os cardeais são muito rigorosos... salvo quando se trata da pedofilia dos sacerdotes, claro. A verdade é nunca se decidiram a explicar-nos por que razão os abusos pedófilos dos religiosos não são tão diabólicos como a homossexualidade ou o adultério, que, em contrapartida, os exasperam.

No conclave votaram (nunca saberemos em quem), membros da "dúzia suja", classificação atribuída a 12 cardeais pela SNAP – Rede de Sobreviventes de Abusos Praticados por Padres, organização dos EUA que divulgou, em Roma, a lista negra dos cardeais que "não enfrentaram com suficiente rigor os casos de clérigos pedófilos, não lhes deram relevância, recusaram reunir-se com as vítimas e criticaram as investigações jornalísticas".

Uma vez que alguns desses 12 são latino-americanos (como Norberto Rivera Carrera, arcebispo da Cidade do México, amigo e cúmplice do pederasta fundador dos Legionários de Cristo, Marcial Maciel, ou o hondurenho Óscar Rodríguez Maradiaga), ou hierarcas eminentes do conclave (como o próprio Tarcisio Bertone), não é arriscado apostar que o primeiro Papa latino-americano tenha recebido muitos votos de cardeais que foram defensores ou cúmplices de sacerdotes pedófilos. Não é de estranhar, numa hierarquia que gosta tanto de encobrir esse tipo de crimes (considerados, em qualquer outro grupo humano, dos mais terríveis e condenáveis), que em países onde a Igreja Católica não goza de imunidade oficial, como nos EUA, as dioceses se estejam a arruinar pagando indemnizações judiciais multimilionárias às vítimas desses abusos horrendos.

Agora teremos dois Papas e é possível que o emérito se tenha refugiado na clausura perante o avanço das investigações internacionais sobre o seu encobrimento desses crimes sexuais eclesiásticos, que conhecia perfeitamente quando dirigia a Congregação para a Doutrina da Fé e perseguia religiosos por denunciarem tiranias na América Latina. Em setembro de 2011, o Centro para os Direitos Constitucionais dos EUA iniciou uma ação, no Tribunal Penal Internacional, contra Ratzinger e outros altos cargos do Vaticano, em nome das vítimas, alegando que "o Papa é responsável por violação e outros abusos sexuais em todo o mundo, tanto pelo seu exercício de responsabilidade superior como pelo seu envolvimento direto no encobrimento dos crimes".

Na própria Santa Sé, sucedem-se escândalos de espionagem (o VatiLeaks do mordomo do Papa), intercâmbio de favores sexuais entre seminaristas, leigos e prelados que marcavam encontros nos lugares mais inesperados de Roma, e corrupção no Banco do Vaticano (onde se lavou durante décadas o dinheiro da Máfia, de traficantes de drogas e de armas). É muito provável que sejam a verdadeira razão da decisão histórica de Ratzinger de renunciar à cadeira de São Pedro e retirar-se para lamber as feridas das intrigas do padrinho de toda essa máfia.

Tão árdua é a tarefa de limpeza que espera o novo Pontífice, que não lhe basta o Espírito Santo. O melhor é que Deus venha cá a baixo e veja; porque o que está a acontecer na sua Igreja, só vendo é que se pode acreditar.

90 - MAIO 2013 – N.º 207, pág. 90





Não sei se leram este artigo, que vem na última página do número de maio do Courrier Internacional.

Interrogo-me como é possível haver ainda hoje leituras tão extremistas de uma realidade que sabemos ser muito diferente – objetivamente!

Sem comentários – ou valerá/valeria a pena fazê-los?

Boa leitura.

Fp
 
 
 

Não será de concluir que o diabo anda por aí a cegar os seus? Até parece. O ódio e a mentira é muita.

Mas lá que quere chegar à demolição da Igreja, lá isso quere. Coitado! Deus lhe perdoe pelo menos uns minutos antes de morrer.

Entretanto ai dos que  escandalizam os mais fracos como as  crianças.

Um abraço amigo.

Aires Gameiro
 
 
Fernando, ainda tinha mais para dizer, mas fica para depois...

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