terça-feira, 28 de maio de 2013

“A Profissão da Fé Cristã” ¨* O que diz, como Cardeal e Teólogo, a alguém que não acredita em Deus?


Paróquia Nossa Senhora de Fátima

Formação de Adultos

Ano da Fé – 11 Outubro 2012 a 24 Novembro 2013

 

Dia 26 Janeiro: Local – Igreja da Sagrada Família (Abelheira) Horas: 15horas

 


Tema: “A Profissão da Fé Cristã”

(Colóquios Noturnos em Jerusalém – Cardeal Martini)

O que diz, como Cardeal e Teólogo, a alguém que não acredita em Deus?

Teria muitas perguntas a fazer a essa pessoa. O que é importante para ela? Quais são os seus ideais? Que valores tem? Era isso que gostaria de descobrir. Não tentaria convencê-la acerca de nada, mas dir-lhe-ia que deveria fazer a experiência da sua própria vida sem a fé em Deus e refletir sobre si própria. Talvez possa experimentar, assim, em certos momentos da vida, uma esperança, perceber o que dá sentido e alegria à vida. Desejar-lhe-ia que tivesse conversas com pessoas que procuram e com pessoas crentes.

 

Porque acredita em Deus? E como O experimenta?

Os meus pais deram-me a fé em Deus, a minha mãe ensinou-me a rezar. Na escola, os amigos eram muito importantes para mim, fortaleciam-me na fé. O meu país, Itália, é parte da Europa cristã. Quem abrir os olhos encontra aí muitos testemunhos da fé. Como Jesuíta, os exercícios espirituais de Santo Inácio fortaleceram-me interiormente na relação com Deus. João, o discípulo predileto, é o meu companheiro na amizade com Jesus. Muitas tarefas na minha vida, também as dificuldades, mostraram-me que posso ter confiança. A guerra, o terrorismo, medos pessoais – quantas vezes fui salvo! Encontrei-me com muitas pessoas boas. A vida mostrou-me que Deus é bom e que prepara o caminho de cada pessoa.

A minha tarefa consistiu sempre em falar sobre a fé. Foi nisso que mais aprendi. Com frequência é suficiente simplesmente escutar bem. Na Diocese de Milão os jovens ajudaram-me muito a procurar respostas para novas perguntas. Aprende-se mais a acreditar quando aproximamos outros da fé.

Experimentar Deus é o mais fácil e ao mesmo tempo o mais importante na vida. Posso experimentá-l’O na natureza, nas estrelas, no amor, na música, na literatura, na palavra da Bíblia e em muitas outras situações. Trata-se de uma arte da atenção, que é necessário aprender, tal como a arte de amar, ou como a arte de ser competente no trabalho.

Catecismo da Igreja Católica

«Eu sei em quem pus a minha fé» (2 Tm 1, 12)

Crer só em Deus

Antes de mais, a fé é uma adesão pessoal do homem a Deus. Ao mesmo tempo, e inseparavelmente, é o assentimento livre a toda a verdade revelada por Deus. Enquanto adesão pessoal a Deus e assentimento à verdade por Ele revelada, a fé cristã difere da fé numa pessoa humana. É justo e bom confiar totalmente em Deus e crer absolutamente no que Ele diz. Seria vão e falso ter semelhante fé numa criatura.

Crer em Jesus Cristo, Filho de Deus

 

Para o cristão, crer em Deus é crer inseparavelmente n'Aquele que Deus enviou – «no seu Filho muito amado» em quem Ele pôs todas as suas complacências: Deus mandou-nos que O escutássemos. O próprio Senhor disse aos seus discípulos: «Acreditais em Deus, acreditai também em Mim» (Jo 14, 1). Podemos crer em Jesus Cristo, porque Ele próprio é Deus, o Verbo feito carne: «A Deus, nunca ninguém O viu. O Filho Unigénito, que está no seio do Pai, é que O deu a conhecer» (Jo 1, 18). Porque «viu o Pai» (Jo 6, 46), Ele é o único que O conhece e O pode revelar.

Crer no Espírito Santo

Não é possível acreditar em Jesus Cristo sem ter parte no seu Espírito. É o Espírito Santo que revela aos homens quem é Jesus. Porque «ninguém é capaz de dizer: "Jesus é Senhor", a não ser pela acção do Espírito Santo» (1 Cor 12, 3). «O Espírito penetra todas as coisas, até o que há de mais profundo em Deus [...]. Ninguém conhece o que há em Deus senão o Espírito de Deus» (1 Cor 2, 10-11). Só Deus conhece inteiramente Deus. Nós cremos no Espírito Santo, porque Ele é Deus.

A Igreja não cessa de confessar a sua fé num só Deus, Pai, Filho e Espírito Santo.

As características da fé

A Fé é uma Graça

Quando Pedro confessa que Jesus é o Cristo, o Filho do Deus vivo, Jesus declara-lhe que esta revelação não lhe veio «da carne nem do sangue, mas do seu Pai que está nos Céus» (Mt 16, 17) (16). A fé é um dom de Deus, uma virtude sobrenatural infundida por Ele. «Para prestar esta adesão da fé, são necessários a prévia e concomitante ajuda da graça

divina e os interiores auxílios do Espírito Santo, o qual move e converte o coração para Deus, abre os olhos do entendimento, e dá "a todos a suavidade em aceitar e crer a verdade"».

 

 

OS SACRAMENTOS DA INICIAÇÃO CRISTÃ

Através dos sacramentos da iniciação cristã – Baptismo, Confirmação e Eucaristia são lançados os alicerces de toda a vida cristã. «A participação na natureza divina, dada aos homens pela graça de Cristo, comporta uma certa analogia com a origem, crescimento e sustento da vida natural. Nascidos para uma vida nova pelo Baptismo, os fiéis são efectivamente fortalecidos pelo sacramento da Confirmação e recebem na Eucaristia o Pão da vida eterna. Assim por estes sacramentos da iniciação cristã, eles recebem cada vez mais riquezas da vida divina e avançam para a perfeição da caridade».

O SACRAMENTO DO BAPTISMO

O santo Baptismo é o fundamento de toda a vida cristã, o pórtico da vida no Espírito («vitae spiritualis ianua – porta da vida espiritual») e a porta que dá acesso aos outros sacramentos. Pelo Baptismo somos libertos do pecado e regenerados como filhos de Deus: tornamo-nos membros de Cristo e somos incorporados na Igreja e tornados participantes na sua missão. «Baptismos est sacramentam regeneratiorais per aquam in Verbo – O Baptismo pode definir-se como o sacramento da regeneração pela água e pela Palavra».

 

O amor dos pobres

Deus abençoa os que ajudam os pobres e reprova os que deles se afastam: «Dá a quem te pede; não voltes as costas a quem pretende pedir-te emprestado» (Mt 5, 42). «Recebestes gratuitamente; pois dai também gratuitamente» (Mt 10, 8). É pelo que tiverem feito pelos pobres, que Jesus reconhecerá os seus eleitos. Quando «a boa-nova é anunciada aos pobres» (Mt 11, 5)  é sinal de que Cristo está presente.

«O amor da Igreja pelos pobres [...] faz parte da sua constante tradição». Esse amor inspira-se no Evangelho das bem-aventuranças, na pobreza de Jesus e na sua atenção aos pobres. O amor dos pobres é mesmo um dos motivos do dever de trabalhar: para «poder fazer o bem, socorrendo os necessitados». E não se estende somente à pobreza material, mas também às numerosas formas de pobreza cultural e religiosa.

O amor dos pobres é incompatível com o amor imoderado das riquezas ou com o uso egoísta das mesmas:

«E agora, ó ricos, chorai em altos brados por causa das desgraças que virão sobre vós. As vossas riquezas estão podres e as vossas vestes roídas pela traça. O vosso oiro e a vossa prata enferrujaram-se e a sua ferrugem servirá de testemunho contra vós e devorará a vossa carne como o fogo. Entesourastes, afinal, para os vossos últimos dias! Olhai

que o salário que não pagastes aos trabalhadores que ceifaram os vossos campos está a clamar: e os clamores dos ceifeiros chegaram aos ouvidos do Senhor do universo! Tendes vivido na terra entregues ao luxo e aos prazeres, cevando assim os vossos apetites para o dia da matança! Condenastes e destes a morte ao inocente, e Deus não vai opor-se?» (Tg 5, 1-6).

São João Crisóstomo lembra com vigor: «Não fazer os pobres participar dos seus próprios bens é roubá-los e tirar-lhes a vida. Não são nossos, mas deles, os bens que aferrolhamos». «Satisfaçam-se, antes de mais, as exigências da justiça e não se ofereça como dom da caridade aquilo que é devido a título de justiça»

«Quando damos aos indigentes o que lhes é necessário, não lhes ofertamos o que é nosso: limitamos a restituir-lhes o que lhes pertence. Mais do que praticar uma obra de misericórdia, cumprimos um dever de justiça».

 

Constituição Pastoral sobre a Igreja no Mundo Atual

Um dos principais ensinamentos da doutrina católica, contido na palavra de Deus e constantemente pregado pelos santos Padres é aquele que diz que o Homem deve responder voluntariamente a Deus com a fé, e que, por isso, ninguém deve ser forçado a abraçar a fé contra vontade. Com efeito, o ato de fé é, por sua própria natureza, voluntário, já que o homem, remido por Cristo Salvador e chamado à adoção filial por Jesus Cristo, não pode aderir a Deus que Se revela a não ser que, atraído pelo Pai, preste ao Senhor o obséquio racional e livre da fé. Concorda, portanto, plenamente com a índole da fé que em matéria religiosa se exclua qualquer espécie de coação humana. E por isso o regime da liberdade religiosa contribui muito para promover aquele estado de coisas em que os homens podem sem impedimento ser convidados à fé cristã, abraçá-la livremente e confessá-la por obras em toda a sua vida. (DH 10)

Para prestar a adesão da fé, são necessários a prévia e concomitante ajuda da graça divina e os interiores auxílios do Espírito Santo, o qual move e converte a Deus o coração, abre os olhos do entendimento, e dá “a todos a suavidade em aceitar e crer a verdade”. Para que a compreensão da revelação seja sempre mais profunda, o mesmo Espírito Santo aperfeiçoa sem cessar a fé mediante os seus dons. (DV 5)

(...) o amor de Cristo incita-o (o discípulo) a agir com amor, prudência e paciência para com os homens que se encontram no erro ou na ignorância relativamente à fé. Deve-se, pois, atender quer aos deveres para com Cristo, Verbo vivificador, o qual deve ser anunciado, quer aos direitos da pessoa humana, quer à medida da graça de Deus, por meio de Cristo, concedeu ao homem, convidado a receber e a professar livremente a fé. (DH 14)

São plenamente incorporados à sociedade que é a Igreja aqueles que tendo o Espírito de Cristo, aceitam toda a sua organização e os meios de salvação nela instituídos, e que, pelos laços da profissão da fé, dos sacramentos, do governo eclesiástico e da comunhão, se unem, na estrutura visível, com Cristo, que a governa por meio do Sumo Pontífice dos Bispos. (LG 14)

 

 Testemunhos da Fé

6.1. – Helder Câmara (Bispo) – “Quando dou comida aos pobres chamam-me Santo; quando pergunto por que eles são pobres chamam-me comunista”

6.2. – Teresa de Calcutá – Mãe dos Humilhados

6.3. – Roger Shutz – Comunidade de Taizé – (Acolhimento)

6.4. – Oscar Romero (Arcebispo) – Revolucionário de Deus; a voz dos sem voz; pregador dos Direitos Humanos; Justiça Social para o seu povo

6.5. – Padre Américo (do Gaiato) – Recolha de crianças nos bairros pobres

6.6. – Missionários no interior de África

6.7. – Irmã Karine (Sudão) – Promoção das Mulheres

6.8. – Elias Chacour (Bispo) – Enxuga as lágrimas entre Israel e a Palestina

6.9. – Desmond Tutu (Bispo) – Sarar as feridas do Apartheid

6.10. – XIV – DalaiLama

6.11. – Luther King – Tenho um sonho

6.12. – Pedro Casaldáliga (Bispo) – Ao lado dos indígenas

6.13. – Pessoas anónimas: - nas cidades; - nas aldeias; - nos bairros pobres; - no mundo do trabalho

 

Família de Deus

Fé Morta.

“Que aproveitará, irmãos meus, se alguém diz que tem fé, e não tem obras? Porventura poderá salvá-lo tal fé? Se um irmão ou uma irmã estiverem nus e precisarem de alimento quotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e saciai-vos, porém se não lhe derdes as coisas necessárias ao corpo, de que lhes aproveitará? Assim também a fé, se não tiver obras, é morta em si mesma.” (Id. II, 14-17.)

Não desonreis o pobre

“Meus irmãos, não queirais conciliar a fé do glorioso Nosso Senhor Jesus Cristo com a acepção de pessoas. Porque, se entrar na vossa assembleia um homem que tenha anel de ouro e vestido precioso, e entrar também um pobre com vestido vil, e, se atenderdes ao que está vestido magnificamente, e lhe disserdes:  Tu senta-se aqui neste lugar de honra; e ao pobre disserdes: Tu deixa-te aí de pé, ou senta-te abaixo do estrado de meus pés, porventura não fazei distinção dentro de vós mesmos, e não sois juízes de pensamentos iníquos?

Ouvi, meus irmãos diletíssimos, por ventura não escolheu Deus os pobres deste mundo (para serem) ricos na fé, e herdeiros do reino prometido por Deus aos que o amam? Mas vós desonrastes o pobre.

Onde está o teu Deus

Deus estava naquela sensação profunda e indescritível que milhares de pessoas experimentaram durante um programa radiofónico, ao ouvirem uma jovem operária dizer aos microfones: «Levantei-me, saí de casa e venho trazer a minha féria da semana para comprar um cobertor para alguém mais pobre do que eu. Sei muito bem o que é o frio porque dormi anos a fio agasalhando-me com pedaços de jornais, ansiando pela manhã para me sentar ao sol e deixar de tiritar».

Deus estava em cada molécula daquela jovem pastora que, no rigor do inverno, no meio das suas florestas, saltava de alegria ao beijar duas violetas: «Se Deus não existisse, eu criá-Lo-ia neste momento; preciso d’Ele para lhe gritar a minha alegria, feita de violetas nascidas para mim entre a neve».

Deus estava no coração e no primeiro amor daquela menina do poema russo, transparente como um regato de poeta que, ao olhar extasiada para Alexander, chorava de felicidade enquanto dizia com um fio de voz mágica: «Miro-me na luz dos teus olhos e pareces-me nascido do sol».

Está na esperança (consciente ou não) de eternidade que te embarga sempre que beijas pela última vez a fronte gelada da pessoa que nunca pudeste imaginar morta.

Está em tudo o que possuis com alegria e no que pensas alcançar.

Está nessa felicidade que te corre pelas veias quando vês que o próximo goza do bem-estar que tu lhe proporcionaste.

Está no gozo do bem que fizeste sem que ninguém o soubesse.

Está na paz do lago sereno das tuas lágrimas quando te reconcilias com a tua consciência, que te dá a sensação de renasceres.

Está em todas a beleza.

Está em todo o gesto de amor.

Está em cada mão que se abre para o bem.

Está em cada pobre que grita por justiça. Está nesse paraíso, que só pode percorrer com a imaginação e o desejo, em que as injustiças dos poderosos cessaram; em que já não existe a tirania dos soberbos; em que a igualdade fundamental e legítima não é uma palavra nem um programa político, mas um fruto maduro para ser comido; em que a liberdade só se entrega voluntariamente quando chegamos a amar alguém mais do qua a nós próprios.

Nota Final

“Quem me confessar diante dos Homens, também o Filho do Homem o confessará diante dos Anjos de Deus” (Lc. 12-8-10)

“Filha, a tua fé te salvou” (Mat. 9,22)

“Quem acreditar e for batizado será salvo” (Mc. 16,16)

“Pois nele a justiça de Deus revela-se através da fé, para a fé, conforme está escrito” (Rom. 1,17)

 


 

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