quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Monsenhor Manuel Vaz Coutinho, um homem de vida espiritual profunda que convivia bem com os números e a matemática

Com mais autoridade escreveu o Cónego João Aguiar Campos
Sobre o falecimento de Monsenhor Manuel Vaz Coutinho no "Diário do Minho"
 
 

 Foto minha em reunião de família


 
O corpo do falecido é trasladado, na manhã de hoje, para a capela do Senhor das Boas Novas, em Mazarefes, Viana do Castelo; e, durante a tarde, para a igreja paroquial da mesma localidade. A missa de corpo presente é celebrada às 15h30 de amanhã, domingo, seguindo-se o funeral no cemitério da freguesia. Mons. Vaz Coutinho nasceu no dia 24 de Maio de 1921 na freguesia de Ceivães, Monção. Frequentou os seminários de Braga, tendo recebido a ordenação sacerdotal em 28 de Maio de 1944, na Sé Primaz. Recebeu o título de Monsenhor em 28 de Novembro de 1964. Foi professor e ecónomo do Seminário, administrador da empresa do Diário do Minho e responsável pelas Irmandades de S. Bento da Porta Aberta e Senhora da Lapa e ainda da Comissão Administrativa dos Terceiros. Respeitosamente Mesmo quando há muito se faz anunciar, em prolongada doença e afastamento, a morte de familiares ou amigos é sempre um golpe inesperado. Estamos preparados e, ao mesmo tempo, recusamos a normalidade do acontecimento... Monsenhor Manuel Vaz Coutinho há quase uma meia dúzia de anos que se afastou das rotinas diárias a que nos habituara, dividindo as horas entre o pequeno gabinete da Administração do DM e as capelas por onde, em diferentes períodos do dia, se isolava em momentos de oração. Aos que o conheciam mal, parecia ao mesmo tempo delicado e frio. Aos demais, mostrava fino sentido de humor, comprazendo-se em contar episódios do perío-do a que chamava «o tempo da meia branca». Penso que, no dia a dia, se esforçava por vencer o lado mais sensível da sua personalidade - parecendo navegar acima de preocupações que os outros sentiam, mas que anotava numa letra miudinha; «avarenta» - dizia eu. Fui seu aluno de Matemática, no Seminário de Nossa Senhora da Conceição; mais tarde, cruzámo-nos e convivemos durante cinco anos nos corredores deste jornal, nas antigas e nas actuais instalações. Voltámos a encontrar-nos, após largo intervalo, num Setembro de há seis anos, quando aqui entrei como director. Recordo uma recepção quase clandestina: apareci-lhe no gabinete, indefeso, sem um papel que dissesse ao que vinha. Olhou-me e foi sintético: «quero que te sintas bem». Dias depois, vi-me obrigado (ou necessitado?) a ir falar com ele, explicando projectos e urgências - a começar pela reorganização dos espaços e pela afirmação de métodos de trabalho. Quase a medo, apontei prioridades, que ouviu sem comentários, mas abrindo muito os olhos onde descobri um sorriso juvenil. Animado, avancei uma pergunta, com a terminologia que, na brincadeira, usava dos tempos do prec: «Não diz nada, oh patronato reaccionário?!...». O sorriso abriu-se numa quase gargalhada: «Continuas igual, filho!... Vai para cima, que eu mando o Zé Sá Machado entender-se contigo». Quando me afastava, incrédulo da minha sorte, ouvi-o chamar para me dizer: «Com bom senso, podemos lá chegar...» As coisas aconteceram sempre assim, entre a provocação infantil que lhe fazia e a resposta bem humorada - mesmo quando eu o "acusava" de gostar mais do Jornal do Benfica que do Diário do Minho; ou lhe perguntava se, em caso de conflito de horário, o jornal da Luz não ultrapassaria a Liturgia das Horas... Todos sabemos que não. Todos sabemos do amor a uma causa e da resistência que são precisos para levantar por volta das quatro ou cinco da manhã, para acompanhar o início da distribuição do jornal. Todos sabemos dos equilíbrios indispensáveis em momentos de dificuldade económica ou de problemático diálogo sócio-laboral. Depois de se refugiar na Casa Sacerdotal, onde viveu os últimos anos, Monsenhor Vaz Coutinho veio ao DM raras vezes. Mas ao ver as «coisas novas» que por cá havia, mostrava sempre a alegria de quem descobria, palpável, um sonho que também sonhara. Deus chamou-o agora para a terra dos sonhos cumpridos. Se na memória magoa a saudade, também se ergue a gratidão - enquanto a fé repete: «a vida não acaba; apenas se transforma»... Respeitosamente

AUTOR: João Aguiar
 
PS-29/10/2014
 

     Monsenhor Manuel Vaz Coutinho

 

Este texto é muito diferente daquele que alguém numa assembleia utilizou com reticências de modo a insinuar infâmia de uma pessoa como o Monsenhor Manuel Vaz Coutinho, de Monção por casualidade, mas de Mazarefes, a quem os de Mazarefes tinham como um padre de referência e orgulho por o admirar pela sua vida espiritual, apesar da inclinação para a matemática, para a economia da Arquidiocese de Braga, nas várias construções e para a construção do Centro Paulo VI de que a Diocese de Viana do Castelo usufrui e agora passados mais de 45 anos precisar de ajuda dos diocesanos porque a casa é nossa e nos termos de unir mais, não só os sacerdotes, como os leigos na manutenção e actualização aos tempos de hoje…

Monsenhor Manuel Vaz Coutinho, parece-me que não o devia dizer, mas, em sua honra e homenagem, embora, seja suspeito, nesse assunto.

Não foi nunca um homem de café, mas tinha sempre as notícias frescas, de um modo particular do Benfica. Não tinha hora de se deitar porque no seu gabinete se estendiam grandes folhas de papel para com a sua letra miudinha, como a um economista daquele tempo convinha, fazer a trabalho de casa e, depois de algum descanso, a altas horas da madrugada se levantava na expedição do Diário do Minho nada falhasse.
                     Pais  e irmãos ( Só tem duas irmãs vivas)
Regressava para a Capela do Seminário onde, de joelhos, rezava o breviário, meditava, contemplava e celebrava a eucaristia. Tomava o pequeno-almoço. Voltava a passar pela Capela de onde saía para o trabalho regressando a pé e andando pela rua… ia lendo o jornal. Antes do almoço passava pela Capela e depois almoçava. Voltava à Capela para voltar ao trabalho. No regresso do trabalho se recolhia na Capela onde passava de joelhos a maior parte do tempo até à hora do jantar. Após o jantar voltava à Capela e depois das suas últimas orações lá fazia o serão no quarto para tratar dos números.
                       Família reunida  na Missa Nova

Sempre trabalhou com fé e devoção, desde a sua ordenação sacerdotal, em 1944 até ficar doente. Acabou o curso com 22 anos Foi ordenado com já com23 anos de idade, com licença do Vaticano.

 
Arco na Missa Nova
 
Criava sempre muita impressão aos seminaristas porque era, de facto, um homem de oração, apesar de ser um matemático exímio. Sabia de cor a tábua dos logarítmos, como sabia o breviário saboreado diante do Santíssimo Sacramento, em frente ao Sacrário, embora quase sempre no fundo da Capela onde se mergulhava na espiritualidade para arranjar energia e concentração para desenvolver o seu trabalho.

Havia, na altura, uma tertúlia de professores de matemática formada por professores de matemática de escolas públicas e privadas. Muitas vezes recorriam ao Padre Vaz Coutinho para descobrirem soluções de problemas de matemática. Ele era professor no Seminário.

Quando estava doente e nos últimos anos da sua vida em Mazarefes, pensei que, beijar-lhe os joelhos calejados seria uma idolatria, mas que ele agisse por maldade ou de uma fé nas coisas materiais da vida, não creio porque era pessoalmente uma pessoa desprendida de bens…e.boa-fé, naturalmente e compreendo, sendo eu familiar me castigou uma vez porque o colega da frente num teste de matemática copiou a solução de um exercício pelo meu que era errada.

               Numa reunião de família no meu quintal
 
Ele nunca entendeu isso, antes pensou que eu, que estava atrás copiei pelo da frente, castigando-me na nota.

Procurei-o no seu gabinete, mas suponho que não o convenci e ele terá ficado sempre com registo negativo, mas se não se confessou disso, também Deus não o castigou.

Acredito piamente que se encontra no Céu.
 
Onde não faltou a missa com irmãos, cunhados, primos e primas até à terceira geração 
 
 A falar dos mortos que não respondem, pondo em causa a sua dignidade parece-me inoportuno, no mínimo. Deus lá está para fazer a justiça, dessa ninguém escapa, nem os que se consideram os mais santos e outros os mais pecadores. Por isso, muitas cruzes na boca, quanto mais os ouvidos tapados e a boca fechada será o melhor, sobretudo em referências particularmente a pessoas ausentes, depois chega o desinteresse de coisas que interessam e fazem falta.

Fingimentos de água-benta não valem nada… O que interessa é fé, oração e obras!…
 
Em Mazarefes homenagearam-no com o seu nome atribuído a uma rua e em S. Bento da Porta aberta o vemos de mãos erguidas, como a foto que junto:


 

 

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