domingo, 9 de novembro de 2014

A Missa é aborrecida? O problema é teu!


A Missa é aborrecida? O problema é teu!

O cardeal de Nova Iorque, Timothy Dolan,publicou um texto sobre o que muitos dizem da missa: que é aborrecida, cansativa.Isto sobretudo na boca dos jovens, mas também de muitos adultos.

«Não é aborrecida. Se para ti o é, é mais um problema teu que da missa.

Há muitas actividades importantes da vida que podemos considerar aborrecidas: as idas ao dentista; os que têm de fazer hemodiálise 3 vezes por semana e 4 horas de

cada vez, de certeza que não vêem aí nada de emocionante. Mesmo votar não é divertido.Mas as três actividades são importantes para o nosso bem-estar. E o seu valor não depende da nossa euforia quando as fazemos.

A missa é sem dúvida mais importante para a saúde da nossa alma do que as actividades antes enumeradas. O nosso problema é o aborrecimento. Os comentadores sociais

dizem que hoje somos muito susceptíveis ao mesmo, pois estamos acostumados a títulos que duram trinta segundos, e a mudar continuamente de canal de televisão quando o programa nos faz bocejar.

Graças a Deus, o valor de uma pessoa ou de um acontecimento não depende da sua tendência a aborrecer-nos de vez em quando. A gente e os acontecimentos significativos não existem para nos entusiasmarem, a não ser que sejamos narcisistas e mimados. E isto é especialmente verdade do Santo Sacrifício da Missa. Cremos que cada missa é a renovação do acontecimento mais importante e mais crítico que jamais ocorreu: o sacrifício eterno, infinito, de louvor de Deus Filho a Deus Pai, numa cruz, no Calvário, numa sexta-feira chamada Santa.

para ver qual deles tinha direito a ficarcom a túnica, a única coisa que o Crucificado tinha. Além disso, não vamos à missa para nos divertirmos, mas para

rezar. E se as flores forem bonitas; se a música for boa; se a homilia for curta e apropriada aos textos, cheia de significado, se os participantes forem amistosos

uns com os outros… seguramente que tudo isso ajuda.

Mas mesmo quando falta tudo o que antes enumerámos – e muitas vezes falta – mesmo assim a missa funciona. Porque a Missa não é sobre nós; é sobre Deus.E o valor da missa vem da nossa simples e profunda convicção, baseada na fé, de que, durante uma hora, aos domingos, somos parte do mais além, elevados ao eterno, participantes do mistério,enquanto nos unimos a Jesus em acção de graças, do amor, da expiação e do sacrifício que ele oferece eternamente a Seu Pai. O que Jesus faz funciona sempre e nunca é aborrecido. A missa não é tarefa rotineira e tediosa que fazemos para Deus; mas um milagre que Jesus faz connosco e para nós.

Se pensarmos bem, os soldados romanos também estavam aborrecidos enquanto escarneciam de Jesus e lançavam os dados Onde está Deus? - Em ti e nos teus irmãos Já no Antigo Testamento, o templo para os judeus era bem mais que um espaço físico, onde se situava a Arca da Aliança.

Esta era «Presença» de Deus. E o templo era o lugar da excelência dessa Presença de Deus, de onde jorra em permanência uma fonte de água viva para todos. A dimensão simbólica do Templo era bem compreendida no tempo dos primeiros cristãos: eles foram capazes de reler as escrituras para compreenderem os gestos de Jesus, zeloso pela Casa do Pai e anunciador de um Templo novo, o seu Corpo ressuscitado. A destruição do templo feita pelos romanos não afectava o verdadeiro templo edificado pela morte e ressurreição. A partir de Jesus, a morada de Deus está no Corpo do Ressuscitado, neste povo da nova Aliança celebrada no sangue de Jesus, em cada um dos discípulos de Jesus. O baptismo lembra-nos a água viva que jorra do templo de Deus e faz de cada um a verdadeira morada de Deus: na adesão a Jesus, pela fé e pelo batismo, cada um de nós torna-se habitação de Deus, templo da Santíssima Trindade, conforme nos ensina a Igreja. Daí o insistente apelo de S. Paulo aos primeiros cristãos das comunidades por ele fundadas para o testemunho da unidade, capaz de despertar os pagãos para o anúncio que lhes oferecia.

Ainda hoje a unidade pela qual Jesus rezou e da qual a Igreja não pode prescindir, tem os seus sinais bem presentes, seja na doutrina que arranca do evangelho, seja nos comportamentos que se esperam dos seguidores de Jesus: o templo ou igreja, tida como «espaço » da habitação de Deus é lugar de encontro para os crentes. A Basílica de Latrão, catedral do Papa, é mãe de todas as igrejas, sinal visível e material de uma unidade espiritual à volta de uma pessoa, o Papa. Como a Catedral de uma diocese é mãe das igrejas paroquiais à volta de um bispo, centro de comunhão na Igreja local. Como a Paróquia, sediada à volta de uma Igreja Paroquial com a sua pia baptismal e de um Pastor, o Pároco, realiza no quotidiano de todos a união visível da Igreja que Jesus fundou: nela somos gerados para a fé e nela se educa e desenvolve a fé baptismal, num

processo que vai desde o Batismo até ao funeral, que retoma, no rito da água benta sobre o cadáver, o simbolismo da água purificadora do Baptismo.

Ser Igreja é construir no único fundamento que é Cristo e realizar a Unidade é tarefa de todos. Evitem-se pois todos os gestos que possam pôr em causa a Unidade de todos à volta do Pastor legitimamente constituído.

Um senhor contou-me o que significava para ele a comida do domingo em família, o coração da vida familiar quando era pequeno. A comida era tão boa porque a sua mãe cozinhava muito bem, e a mesa era muito feliz, porque o seu pai estava sempre ali. Inclusive, quando se casou e teve os seus próprios filhos, iam a casa dos pais para a comida dominical.

Quando os seus filhos já eram adultos e lhe perguntavam se tinham que ir, porque, por vezes, lhes parecia aborrecida a comida, ele respondia: sim, tendes que ir, porque não vamos por causa da comida, senão por amor, porque mamã e papá estão lá!

Encheram-se-lhe os olhos de lágrimas ao recordar-se disto, porque quando seu pai e sua mãe envelheceram, a comida já não era tão boa nem a companhia tão contagiosa, mas ele nunca deixou de ir, porque esse acontecimento dominical tinha um significado muito profundo, mesmo que a sua mãe deixasse queimar o assado, e seu pai adormecesse durante

a refeição.

E agora, concluiu, daria o que fosse para poder estar de novo ali, porque a sua mãe faleceu, e o seu pai está numa residência para idosos. Agora são ele e sua mulher os anfitriões dessa comida, e ele espera que os seus três filhos levem, no futuro, as suas esposas e filhos à comida do domingo.

Como se vê, o valor da comida familiar do domingo não depende tanto da bondade da comida, de quão caro seja o vinho, e do interessante que possa ser a conversa. Seguramente

que tudo isso ajuda, mas o que tem real valor é o acontecimento em si mesmo.

O mesmo acontece com a comida do domingo da nossa família espiritual: a Missa. Há gente que pensa que um grande desafio de futebol é aborrecido. Outros pensam isso de um grande concerto de música. As pessoas dizem-me que valores como a amizade, o voluntariado, a família, a lealdade, a generosidade e o patriotismo estão passados de moda,

pois já não produzem entusiasmo.

Diria que têm um problema!

E alguns dizem-me que a «missa é tão aborrecida! Têm um grande problema!»

In “A voz de Melgaço”, 11.09.201, in B. "Construir" de Barcelos

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