sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

A Escola como espaço de Relação


A Escola como espaço de Relação

 

Temos consciência de que graças aos outros nos tornamos as pessoas que hoje somos. Graças ao que nós somos hoje outros se tornarão no futuro, assim dizia, mais ou menos, alguém e que não recordo.

De facto a Escola como instituição socializadora que envolve a modelagem dos indivíduos, é um lugar tão importante na vida de cada um que não cumprirá os seus objectivos se não for um espaço privilegiado de relação ou mais do que isso, comunidade de interacção.




É objectivo geral da escola ajudar o aluno a crescer, a aprender, assimilando conhecimentos, despertando a consciência crítica, a criatividade para resolver problemas do quotidiano e a viver sempre com os outros. Isto é fundamental na relação. Só assim será verdadeira comunidade educativa onde cada um sentirá a necessidade de inclusão, despertando interesse no outro e a interessar-se também por ele; sentirá a necessidade de controlo, isto é, de influenciar e ser influenciado, ou dar e receber, à comunidade e da comunidade; e sentirá a necessidade de afeição, de amar e ser amado.

Quando faltar alguma destas necessidades sentidas deteriora-se o objectivo fundamental duma comunidade onde o professor transmite com alegria e firmeza conteúdos educativos, desperta interesse para as matérias que domina com familiaridade, admitindo o debate e sem fechar a porta aos alunos que, por esta ou aquela irreverência própria da idade, e da falta, muitas vezes, de bases ou capacidade para encaixar o que se lhes propõe, parecem alhear-se de tudo o que os envolve na aula. O professor procura, por isso, o diálogo e com disponibilidade e saúde para acompanhar o crescimento, a vivência e a aprendizagem para que o caminho do aluno seja mais perfeito que o caminho do professor que, apesar de tudo, vai à frente, como uma chama, que avança sem recuos, sem medos e com a coragem própria de alguém que está seguro do que faz.
 




No entanto, não basta que o professor, que é um pedagogo que transmite conhecimentos e educa para os valores humanistas corresponda às exigências relacionais da comunidade escolar porque aquilo que se diz-se a propósito do professor, diz-se a seu modo, do auxiliar de educação, do empregado de limpeza e até do funcionário administrativo que deve, cada um por si, ser veículo de relação na Escola.

Neste espaço de relação interpessoal não podem ficar de lado os alunos que são os principais protagonistas e que precisam de cumprir regras de conduta normal e as preestabelecidas e consignadas em regulamento próprio.

Os pais por sua vez, têm de intervir muito mais na Escola, acompanhando os filhos e facilitando o diálogo, a relação dos filhos para que as relações sejam mais autênticas e significativas. Um clima positivo relacional desejado na comunidade escolar há-de ser o resultado de situações psicológicas colectivas, será produto de percepção da experiência dos comportamentos que os alunos têm dos professores e do outro pessoal, dos processos psico-dinâmicos que acontecem no interior da sala de aula, nos corredores, nas salas de estudo, no bar ou nos espaços envolventes.

Há que promover na escola relações interpessoais significativas onde os alunos possam sentir a Escola como uma nova família adoptada, onde se sentem bem, se entusiasmam, aprendem a viver com alegria, têm vontade de trabalhar, de se cuidar, de serem bons e gentis, bem humorados, humanos e cordiais, interessados pelos outros, interessados pelos professores, pelo resto do pessoal, interessados em conhecer a todos pelo nome, compreensivos, sempre com atitudes democráticas, participativas, o exercício da cidadania e sempre com uma vontade enorme de terem a todos em muita consideração.

Dum comportamento relacional entre todos nascerá uma comunidade escolar verdadeiramente apostada em preparar mulheres e homens para o futuro.

Os pais não podem pensar que este trabalho de comunidade escolar é só um trabalho de professores ou de Conselho Executivo, ou Pedagógico, ou dos funcionários e que aos encarregados de educação ou aos pais só compete assinar papéis, tomar conhecimento e só intervir apenas em caso de aflição. Os pais têm um lugar neste espaço interactivo muito importante e, pelo qual, devem entrar na escola aberta, para que não se comprometam negativamente os objectivos de uma escola verdadeiramente comunitária.

Por sua vez, a escola não pode deixar de se integrar num projecto familiar, abrindo as suas portas às famílias para investir no sucesso escolar, de se integrar no mundo laboral para investir em respostas profissionais às necessidades do meio ou do mercado de trabalho.

Só assim o aluno não esquecerá a Escola por onde passou. Levará o seu espírito pela vida fora e procurará não perder aquilo que sempre o ligou aos professores, aos funcionários, aos colegas e até ao edifício que lhe serviu de abrigo no crescimento, na aprendizagem e na vivência com os outros, fora da família natural.

 

                                    \                                                     2001 Artur Coutinho

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