A Escola como
espaço de Relação
Temos consciência de que graças aos outros
nos tornamos as pessoas que hoje somos. Graças ao que nós somos hoje outros se tornarão
no futuro, assim dizia, mais ou menos, alguém e que não recordo.
De facto a Escola como instituição
socializadora que envolve a modelagem dos indivíduos, é um lugar tão importante
na vida de cada um que não cumprirá os seus objectivos se não for um espaço
privilegiado de relação ou mais do que isso, comunidade de interacção.
É objectivo geral da escola ajudar o aluno a
crescer, a aprender, assimilando conhecimentos, despertando a consciência
crítica, a criatividade para resolver problemas do quotidiano e a viver sempre
com os outros. Isto é fundamental na relação. Só assim será verdadeira
comunidade educativa onde cada um sentirá a necessidade de inclusão,
despertando interesse no outro e a interessar-se também por ele; sentirá a
necessidade de controlo, isto é, de influenciar e ser influenciado, ou dar e
receber, à comunidade e da comunidade; e sentirá a necessidade de afeição, de
amar e ser amado.
Quando faltar alguma destas necessidades
sentidas deteriora-se o objectivo fundamental duma comunidade onde o professor
transmite com alegria e firmeza conteúdos educativos, desperta interesse para
as matérias que domina com familiaridade, admitindo o debate e sem fechar a
porta aos alunos que, por esta ou aquela irreverência própria da idade, e da
falta, muitas vezes, de bases ou capacidade para encaixar o que se lhes propõe,
parecem alhear-se de tudo o que os envolve na aula. O professor procura, por
isso, o diálogo e com disponibilidade e saúde para acompanhar o crescimento, a
vivência e a aprendizagem para que o caminho do aluno seja mais perfeito que o
caminho do professor que, apesar de tudo, vai à frente, como uma chama, que
avança sem recuos, sem medos e com a coragem própria de alguém que está seguro
do que faz.
No entanto, não basta que o professor, que é
um pedagogo que transmite conhecimentos e educa para os valores humanistas
corresponda às exigências relacionais da comunidade escolar porque aquilo que
se diz-se a propósito do professor, diz-se a seu modo, do auxiliar de educação,
do empregado de limpeza e até do funcionário administrativo que deve, cada um
por si, ser veículo de relação na Escola.
Neste espaço de relação interpessoal não
podem ficar de lado os alunos que são os principais protagonistas e que
precisam de cumprir regras de conduta normal e as preestabelecidas e
consignadas em regulamento próprio.
Os pais por sua vez, têm de intervir muito
mais na Escola, acompanhando os filhos e facilitando o diálogo, a relação dos
filhos para que as relações sejam mais autênticas e significativas. Um clima
positivo relacional desejado na comunidade escolar há-de ser o resultado de
situações psicológicas colectivas, será produto de percepção da experiência dos
comportamentos que os alunos têm dos professores e do outro pessoal, dos
processos psico-dinâmicos que acontecem no interior da sala de aula, nos
corredores, nas salas de estudo, no bar ou nos espaços envolventes.
Há que promover na escola relações
interpessoais significativas onde os alunos possam sentir a Escola como uma
nova família adoptada, onde se sentem bem, se entusiasmam, aprendem a viver com
alegria, têm vontade de trabalhar, de se cuidar, de serem bons e gentis, bem
humorados, humanos e cordiais, interessados pelos outros, interessados pelos
professores, pelo resto do pessoal, interessados em conhecer a todos pelo nome,
compreensivos, sempre com atitudes democráticas, participativas, o exercício da
cidadania e sempre com uma vontade enorme de terem a todos em muita
consideração.
Dum comportamento relacional entre todos
nascerá uma comunidade escolar verdadeiramente apostada em preparar mulheres e
homens para o futuro.
Os pais não podem pensar que este trabalho de
comunidade escolar é só um trabalho de professores ou de Conselho Executivo, ou
Pedagógico, ou dos funcionários e que aos encarregados de educação ou aos pais
só compete assinar papéis, tomar conhecimento e só intervir apenas em caso de
aflição. Os pais têm um lugar neste espaço interactivo muito importante e, pelo
qual, devem entrar na escola aberta, para que não se comprometam negativamente
os objectivos de uma escola verdadeiramente comunitária.
Por sua vez, a escola não pode deixar de se
integrar num projecto familiar, abrindo as suas portas às famílias para
investir no sucesso escolar, de se integrar no mundo laboral para investir em
respostas profissionais às necessidades do meio ou do mercado de trabalho.
Só assim o aluno não esquecerá a Escola por
onde passou. Levará o seu espírito pela vida fora e procurará não perder aquilo
que sempre o ligou aos professores, aos funcionários, aos colegas e até ao
edifício que lhe serviu de abrigo no crescimento, na aprendizagem e na vivência
com os outros, fora da família natural.
\ 2001 Artur
Coutinho
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