segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

A MEUS IRMÃOS

Era bom ser assim. Agora a vergonha perde-se e não batem, escondem-se, ou dedicam-se à violência ao roubo, etc....

 

 

A MEUS IRMÃOS

 
Batam-me à porta
Os que andam lá por fora, à neve;
Batam
Os que tiverem frio ou sede;
Os que sintam saudades de um carinho;
Os desprezados;
Os que há muito não vêem um flor
E encontram só poeira no caminho;
Os que não amam já nem já os ama
ninguém;
os esquecidos de como se sorri;
os que não têm Mãe...
 
 
Batam-me à porta os Desgraçados
Os que têm os dedos calejados
Dos dedos ásperos da Miséria,
Os que travam desordens nas tavernas
E brincam às facadas,
Os que não têm abrigo nem Amigo,
Os que o Destino escarrou,
Os que não foram crianças,
Os que nesceram num bordel
E por quem passam todos sem olhar.
 
 
Batei à minha porta, Irmãos,
entrai,
que eu tenho Amor pra vos dar...
 
 
E se eu também bater
(que eu também choro
muitas vezes, lá por fora;
também amargo tristezas;
que eu também sou Desgraçado)...
pois se eu bater,
vinde logo depressa abrir-me a porta;
aquecei-me no meu lume;
dai-me do pão que eu parti
e do Amor que vos dei...
 
 
Deixai-me estar entre vós
como se fosse um de vós,
que eu também sou Desgraçado...
 
 
 
Ah! Se eu bater
(mas é preciso que eu possa
Ter força ainda nas mãos),
Por Deus abri a porta, meus irmãos,
Como se a casa fôra vossa!...

Sebastião Gama


 

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