ARTISTA ALBINO RODRIGUES LIMA
DE MODELALOR A ESCULTOR
José Rodrigues Lima
Albino Lima seguiu a arte dos “Limas” abrindo novas
perspectivas na modelação, escultura e desenho.
Seu bisavô foi
o Mestre José Pereira Lima; seu avô o Mestre Domingos Pereira Lima; e seu pai o
Mestre Emídio Pereira Lima, com testemunhos da sua acção de mestria artística
na região minhota, duriense, Galiza e Angola.
Viveram todos no lugar de Milhões, freguesia de Vila
de Punhe, nos limites com Vila Fria.
Albino nasceu a 29 de Março de 1932.
Matriculou-se a 14 de Agosto de 1945 na Escola
Industrial e Comercial Nun’Álvares, em Viana do Castelo, à data instalada no
belo edifício do jardim D. Fernando, onde hoje funcionam os serviços do
Instituto Politécnico.
Terminou o curso de Modelador e Entalhador em 1950,
tendo obtido nas disciplinas de Desenho Profissional 18 valores; Modelação 17
valores; e em Arte da Talha 17 valores. Foi o melhor
aluno do curso, tendo sido premiado.
Na sua história de vida a arte ocupou um lugar de
mérito reconhecido. O seu espirito sonhador e de rara sensibilidade estética,
levou-o a materializar a arte como” epifania do mistério”. A sua sensibilidade,
que ultrapassou as “fronteiras do território, do tempo e dos cânones”,
manifestou-se ainda na poesia, sendo de referir os poemas “O Santo” e o “Zé do
Telhado”.
(Introduzir o poema)
Era de certo modo “clarividente”.
Sendo filho de “artista de mestria”, e com a
capacidade revelada nas artes, mereceu a confiança da Confraria de Santa Luzia
e do Arquiteto Miguel Nogueira para executar os modelos do escultor Leopoldo de
Almeida. Os querubins que estão no Templo Monumento de Santa Luzia.
Assim, dava-se início à vida artística de Albino
Rodrigues Lima com a concretização rigorosa dos modelos do referido escultor.
O escultor lisboeta só veio uma vez verificar a
execução artística dos querubins em mármore, dando parabéns ao Mestre Lima e a
seu filho Albino, pela capacidade artística e pela expressão conferida às duas
obras de arte.
A data que consta na base das esculturas é de 1955.
(foto Albino no Templo a contemplar a sua obra)
CARTA DO ARQUITETO MIGUEL NOGUEIRA
O Arquitecto Miguel Nogueira era o Diretor da Escola
Industrial e Comercial N’Álvares e tinha muito apreço pelo Albino, conforme
testemunha a carta escrita em 25 de Maio de 1953, aqui apresentada.
.
A carta
arquiteto
São da sua autoria de Albino Lima diversos modelos
escultóricos estando alguns referenciados e registados, como a Senhora de
Fátima que se encontra na fachada da igreja da Congregação dos Padre Passionistas
em Barroselas; “Consta no acervo documental da congregação e foi confirmado no
dia do seu funeral, com a presença de representantes da Congregação
Passionista, que lhe prestaram homenagem.
São ainda da sua autoria a escultura de Santa Ana na
capela de S. Romão do Neiva; a Senhora de Assunção existente no alçado no
alçado principal da igreja de Riba de Âncora; a Senhora Auxiliadora da
Congregação dos Padres do Espirito Santo, Igreja da Missão Católica do Sambo em
Angola; a Senhora do Ó, S. Pedro e outras, pertencente ao espólio da família; os
modelos em gesso do Sagrado Coração de Jesus e Maria encomendados a Mestre
Lima, pelo Reverendo Padre David da Silva Monteiro, no ano de 1954, e
cinzelados por José Clemente Gonçalves, no atelier de cantaria do Mestre Lima,
e que se encontram no adro da Igreja de Vila de Punhe.
Dava forma artística aos blocos de granito ou mármore
como descreve Padre António Vieira.
(foto de escultura)
O Estatuário
Vede o que faz em uma pedra a arte.
Arranca o estatuário uma pedra dessas montanhas,
tosca, bruta, dura, informe; e, depois que desbastou o mais grosso, toma o maço
e o cinzel na mão e começa a formar um homem, primeiro membro a membro e depois
feição a feição, até mais miúda; ondeia-lhe os cabelos, alisa-lhe a testa,
rasga-lhe os olhos, afia-lhe o nariz, abre-lhe a boca, avulta-lhe as faces,
torneia-lhe o pescoço, estende-lhe os braços, espalma-lhe as mãos, divide-lhe o
dedos, lança-lhe o vestido; aqui desprega, ali arruga, acolá reclama, e fica um
homem perfeito e talvez um santo que se pode por num altar.
António Vieira – Sermões /1679)
RECONHECIMENTO ARTISTICO
Albino Lima mereceu admiração do Escultor Leopoldo de
Almeida, Martinho de Brito e do Arquitecto
Moreira da Silva, além do já referido Arquitecto Miguel Nogueira.
Do amigo pessoal e colega de curso, Engenheiro Alberto
Mesquita, recebeu em 17 de Julho de 2004 o seguinte comentário:
“Tive a felicidade de frequentar a Escola Industrial e
Comercial de Viana do Castelo, localizada no Palacete do Jardim D, Fernando,
onde hoje funcionam os serviços centrais do Instituto Politécnico. Fiz aí o
curso de Entalhador. Um dos Professores era o Arquitecto Miguel Nogueira que
orientava os trabalhos na construção do Templo Monumento, Nós trabalhávamos em
conjunto. Ele aproveitava a nossa mão de obra, ensinando-nos a fazer os
decalques e a dar os sombreados. Com ele visitámos o estaleiro do templo.
Lembro-me muito bem. O Arquitecto Miguel Nogueira Tratava o Mestre Lima por
Mestre, com respeito pela palavra Mestre. O Mestre tratava os operários com
muito respeito. A época era outra.
Lembro-me bem das varas de elevação das pedras com os
sarilhos, e as explicações que o Arquitecto Miguel Nogueira dava ao Mestre Lima
acerca dos sombreados que marcavam a espessura das volutas do granito, quando
tinham que ficar de fora…
Lembro-me da sugestão: “Não repare que os pequenos
aqui (os pequenos aqui eramos nós, seus alunos) deram mais dois milímetros.” É
curioso que naquele tempo trabalhava-se a pedra como se trabalhasse o ouro. Era
o rigor.
O estaleiro era enorme e ouvir cantar os cinzéis na
pedra era um sonho. Este era um senhor estaleiro, tinha qualquer coisa de
fantástico. Aqui trabalhava muita gente, mais ou menos quarenta homens; uns que
trabalhavam pedras, outros que elevavam pedras e as montavam, outros que
lavravam as pedras.
Tenho as melhores recordações do Mestre Lima como
artista. Nós que fazíamos a talha e que sabíamos o que custava faze-lo com
precisão, trabalhar o granito como se trabalha a madeira é uma diferença
abismal! Eles brincavam com a pedra!
É esta a minha homenagem ao Mestre Lima a quem recordo
com profunda saudade, admirando a grande mestria e grande arte daquele
construtor.
Fui colega, no curso de Modelador e Entalhador de
Albino Lima, filho do Mestre Lima. Os grandes mestres para a nossa idade eram
Francisco Franco e Albino Lima. Eles eram dois grandes artistas. Colaboravam
muito com o arquitecto Miguel Nogueira na edificação do templo Monumento em
Santa Luzia.
O Arquitecto Miguel Nogueira era um arquitecto sem
atelier, o atelier era a escola, na sala 5, cá em baixo, virada para o jardim
D. Fernando.
O Albino Lima é
que me ensinava a afiar os lápis
Ainda recordo com saudade o termos
trabalhado/estudado, entre outros, nos pormenores do púlpito do lado direito e
da qualidade do trabalho, grande mestria quer do colega Albino Lima, quer do
Franco.”
CARTA DO POETA LAUREANO SANTOS
O conterrâneo Laureano Santos, no seu livro “Verboso”
(2008) dirigiu uma carta ao:
“ Caro Albino
Rodrigues Lima
É a recordar-te
naquele trono natural de pedra, situado no alto das Carrascas, entre eucaliptos
seculares e velhos pinheiros mansos, aromatizado pelas especiosas flores de
mimosas, que inicio esta insólita narração.
No leito, a dormir, ora a contemplar quem me olha, ora
a divagar metafisicamente; fora da cama, ora a cobrir ou a nutrir a carcaça
(que enfado é comer), ora a barafustar por os olhos não verem direito os
tortos, ora, ainda, a sair à sorte (como se, fortuitamente, não podemos todos!)
Na rua., a gente fala, ou seja, diz asneiras, ri,
chora é importante, modesto olhado, admirado, ridicularizado, criticado,
cuspido, beijado, atormentado pelas arruaças provenientes do progresso… traído.
Enfim, o imaginado e o oculto!
Nos salões de café é diferente que coisa alguma muda do
ocioso. A não ser quando encontramos personagens como o poeta Al Berto no
“Frait d’Union” , em Paris, ou no
Restaurante Saudade na esquina da “grand Place” em Bruxelas. Apenas sentados! Na
rua não. Não, porque hoje chove de aluvião.
Como é banal ver (por lentes escuras defendidas dos
aguaceiros) uns a correr, tropeçando nas capas compridas que se usam este
inverno; outros nas esquinas das ruas devorando o “Officiel des Spectacles” para
descobrirem a melhor forma de se esquecerem um pouco deles mesmos, outros nos
carros a rir dos mal agasalhados, outros, também dentro de “calhambeques”, que
se exercitam com gestos amorosos, imaginando-se num palácio de cortinas
formadas pelos aguaceiros no exterior, e pelas exalações de eternos esfomeados
de caricias, no interior, outros nervosos quando o “flic” lhes pede os
documentos.
Não é por serem refugiados políticos, ladrões,
assassinos, escroques, sedutores, agitadores ou calmos, que o “senhor guarda”
lhes consulta os papéis. Não, é só para, entretanto, dar uma olhadela à viçosa
“colega” do 2culpado”, de mini-saia, a mostrar… as vizinhanças das regiões do
púbis…
Lá mais abaixo, no passeio da Av. St. Germain, um
casal deplora a sua situação exposta por falta de pagamento do aluguer. Vê-se
um colchão sobre umas tábuas, algumas panelas (ainda ensarranhadas) e, à chuva,
um mobiliário esquisito escoltado pelas figuras gigantes (intui-se estimadas)
de Che, de Marx, de Sartre, de Saint Simon, de Engeles, de Luther King e de Proudhon
o socialista (e não o Prud’hon, pintor de “A Justiça e a Vingança Perseguem o
Criminoso”, ou o Prudhomme personagem representativa da burguesia mesquinha).
Muitos viandantes, mesmo esbofeteados pelas chuvadas
impiedosas, observam a cena com um sorriso borrado de zombaria. Isto faz-me
lembrar que “ está todo o mundo à espera da queda da vítima para lançar uma
ovação sarcástica”.
No entanto as lamentações não vem só dos oprimidos,
pois, na Inglaterra, Rainha também se queixa de dificuldades financeiras
lembrando que os salários da Família Real não são aumentados desde há dezoito
translações, e que a libra esterlina (de Churchill), em 1952, valia mais 60%que
a libra de (Wilson) 1969.
Adeus para aqui, até logo, para acolá, e toca a ir com
a “pena” no braço em direcção a um cinema.
Não te digo mais. Fui, como os outros, para
esquecer-me um pouco de mim. Debalde, terminado o espectáculo, reencontrei-me e
fiz penas à “pena”. Deixei as coisas terrenas e fui até ao estado de
encantação… Egoísmo? Ao menos honestidade comigo mesmo, o que nem a todos é
possível…por hipocrisia.
Ainda um pouco estropiado, reencontrei-te… como já
aconteceu em diversos momentos de inspiração causada por alguns cantos esconsos
da nossa “selva”.
O teu digníssimo mutismo, nesse meio de indigência
espiritual atónita, é sinónimo duma riqueza interior nunca compreendida por
outrem. As vezes a honestidade conduz-nos a um silêncio fácil de ser
interpretado como egoísmo.
Procura ler esta carta no enlevado jardim da música
para não te torturares!”
Um abraço do Laureans
(foto do chapéu)
Albino Lima, faleceu a 4 de Setembro de 2010,
A sua memória ainda está bem viva.
De estatura alta, magro, calvo, olhos esbugalhados,
bigode impecavelmente aparado, boné ou chapéu na cabeça, educado, sereno, dava
longos passeios caminhando por sítios simbólicos e memoriais. O mundo não o
afectava, porque era maior do que a limitação do entendimento sobre as coisas
vivas. Era de tal forma singular que poucos conseguem reconhecer essa virtude
da mesma maneira humana.
“Vamos ver um livro”. Esta é a parte da herança
cultural de um homem, que amava os livros e as artes.
As ideias, a sabedoria, a sua escrita criativa, as
cantigas, os contos, a poesia, os projectos, os desenhos a lápis sobre papel
improvisado, as modelações em granito, as instalações, era o seu mundo.
Ficou-nos o seu legado de emoções, sentimentos, sonhos
e criações artísticas.
José
Rodrigues Lima
Telemóvel:
938 583 275
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