Divorciados...separados... recasados...
Todos, a partir do baptismo,
somos chamados à Santidade. É por isso
que é para uma comunidade um grande sofrimento quando nela existem
irmãos em sofrimento como os separados ou divorciados. Nós sabemos que Deus os
ama e prometeu felicidade a quem enfrenta o sofrimento da separação ou do
divórcio, que aparece “como uma loucura para o mundo”.
Quantas vezes os separados
vêem os seus bens materiais degradados. Ainda outro dia conheci uma senhora
sofredora de uma doença de fibromialgia que o marido levou a um psiquiatra.
Como não deu conta dela, então, o marido deixou-a com 3 filhos menores, sem
saúde e sem trabalho ... Esquecemo-nos dos Bem-aventurados... porque o mundo
nos apresenta a felicidade fora do âmbito dos Bem-aventurados para Jesus. O
mundo afirma: “felizes são os que têm uma vida sexual bem sucedida”. De facto,
Deus só quer a felicidade e o paraíso para a Humanidade, mas qual felicidade e
qual paraíso?
Nesse sentido, os separados,
os divorciados não poderão ser heróis como os viúvos e os celibatários por
opção?
Somos todos chamados à
Santidade que exige conversão contínua. Esta vocação é para os divorciados e
para os separados, apesar de alguma mancha na vida sacramental. Esta vocação é
também para os recasados uma esperança. Basta lembrar como Jesus atendeu a
mulher adúltera. O que aproxima os recasados, os divorciados ou separados fiéis
é bem mais que aquilo que muitos pensam. Como eles são baptizados, confirmados,
chamados à Santidade, podem fazer crescer sempre as forças que neles existem,
do Espírito.
Todos nós sentimos que os
que passam por situações de divórcio sofrem imenso e experimentam feridas bem
profundas e naturalmente procuram a sua cura, pois pelo sacramento do
matrimónio receberam o ministério parental que devem procurar vivê-lo na nova
situação que ambos criaram. São também convidados ao perdão em relação àquele
que foi seu primeiro cônjuge, unidos pelo laço do casamento, celebrado
religiosa e validamente. Apesar de tudo continuam a ser chamados a uma
reconciliação dos corações com o outro pela troca do perdão mútuo, mesmo se uma
retoma de vida em comunidade não for possível.
Como separados e
divorciados, não recasados, são chamados à fidelidade e só nisto diferem as
opções escolhidas. O caminho proposto por Jesus, ou pela Igreja, não é um
caminho impossível.
Jesus, na Cruz, deu-nos
sólidas lições para um sentido novo do sofrimento.
Muitas vezes constata-se um
traumatismo, sobretudo de culpabilidade, sendo mais trágico quando há filhos.
Há que lembrar a traição de Judas, a Agonia no Getzêman, o Julgamento, a
Flagelação, a Coroação de espinhos. Tudo isso fez que a Cruz gloriosa e fecunda
de Cristo fosse o desabrochar dum “novo céu e duma nova terra”. - “Meu Deus,
meu Deus porque me abandonaste”? – “Hoje estarás comigo no Paraíso”, diz para o
Bom Ladrão. E para a Mãe: - “Mulher, eis aí teu filho” – “Eis aí a tua mãe”.
“Tenho sede”. “Tudo está consumado” .”Pai nas tuas mãos entrega o Meu
espírito”. Este é o ideal apontado.
No sofrimento, se fixarmos
os olhos em Jesus Cristo, somos capazes de descobrir um amor verdadeiro com uma
longa e paciente fidelidade (separados ou divorciados). A Virgem Maria
ajuda-nos a repôr de pé a nossa vida. São testemunhos de muitos que assim
permanecem nas trevas da Luz. O Coração de Jesus é fonte de perdão e de cura: “felizes
os que choram porque serão consolados”.
Quem sou eu para julgar?
Mas há os que preferem a
Comunhão ao recasamento. Os divorciados ou separados, desde que nesta linha de
perdão e de fidelidade, podem exercer todas as funções na Igreja, mesmo a da Comunhão.
Enquanto os recasados podem e devem fazer comunidade, mas afastar-se da
comunhão. É este o espinhoso problema do recasamento.
Alguns recasam-se e, se
voltam a recasar a seguir... o sofrimento é ainda maior!...
O recasados podem construir
e conhecer de novo a felicidade humana, mas a procura duma solução somente
humana para o sofrimento pode ser
ilusória: ”só Jesus que veio penetrar em nosso sofrimento, pode
transfigurá-lo hoje ainda pelo Espírito”. O que possa parecer ilusório, quem
sabe se por esta transfiguração espiritual será uma grande esperança...
Ainda que o amor humano
esteja morto, importa redescobrir sua unidade mística que permanece eternamente
pela Graça do Sacramento do Matrimónio, na esperança de uma reconciliação,
segundo Paulo VI.
“Embora afirmando que o amor
humano está morto, cremos contudo que, reanimado pelo Espírito Santo, ele pode
ressuscitar. Além disso, o facto de que o amor humano esteja morto não acarreta
o desaparecimento do vínculo sacramental entre esposos. É o que afirma
claramente Paulo VI em seu discurso às Equipas de Nossa Senhora: “O casamento
(não cessamos de recordá-lo) é uma comunhão fundada sobre o amor e tornado
estável e definitivo por uma aliança e um compromisso irrevogáveis. O amor
verdadeiro, então, é o elemento mais importante desta comunhão: o que é dom,
renúncia, serviço, superação. Mas essa comunhão, uma vez e selada, não está
mais à mercê de altos e baixos de um querer humano subjectivo, mutável e
instável. Ela ultrapassa as alternâncias da paixão, do arbítrio dos cônjuges. É
por isso que o casamento não pode ser entregue às vicissitudes do sentimento,
por tão nobre que seja, mas, enquanto tal, sujeito a variações, ao
enfraquecimento, aos desvios, à ruína. Nós queremos ainda reafirmar esta
doutrina tradicional já lembrada pela constituição pastoral Gaudium et Spes,
48, contra a enganadora argumentação segundo a qual o casamento acaba
quando o amor (mas que amor?) se extingue”.
Em 2004, por A. Coutinho
Observação
Hoje o Papa Francisco quer de facto a reintegração de todos, mesmo
os que nos parecem fragilizados e, para o efeito, já decidiu que a declaração
de nulidade do matrimónio ficasse pela primeira ou segunda instância, sem
precisar de ir à Santa Sé.
Tudo isto para que, mesmo sem mudar uma vírgula à doutrina repor a
disciplina misericordiosa e não pesar mais na dor de quem sofre.
Ainda bem!
P. C.
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