domingo, 28 de fevereiro de 2016

A indústria de curtumes na Bandeira


MEMÓRIAS

 

A indústria de curtumes na Bandeira

 

 

A Rua da Bandeira - entre o Carmo e S. Vicente - era, no século passado, um espaço periférico da cidade. Cruzada pelos romeiros que da cidade se deslocavam a S. Vicente, para livrar as crianças das "bexigas", a Rua da Bandeira constituía um dos pontos de passagem para aqueles que se queriam deslocar para as restantes terras da Ribeira Lima. Este afastamento do centro cívico vianense implicou a fixação de um conjunto de indústrias que marcará a memória da rua. Entre eles destacamos, hoje, a de curtumes.

A Aurora do Lima de 26 de Setembro de 1884 publicava uma carta de um dos seus leitores, morador na Rua da Bandeira, que se queixava dos estragos provocados pelos "cortumes". Dizia Ricardo José Couto que " na rua da Bandeira, d'esta cidade, se conserva um curtume de couros junto a uma casa minha, sita na mesma rua, contígua à viella dos Abraços (...). Junto ao poço da agua está também um tanque, aonde se curtem pelles com o lixo de cevados e cães, e quando de dias a dias mexem o dito tanque, não se póde supportar o mau cheiro que tudo aquillo exhala. Contiguo ao mesmo poço ha um cano por onde passa toda a imundice do curtume, a ponto de que nem eu nem o proprio cortidor podemos servirmo-nos da agua para consumo ". Este "curtume" não era o único na Rua da Bandeira. Ainda, segundo a mesma fonte, havia " dous cortumes, um dos quaes pertence ao sr. Cerqueira Lima e o outro a um visinho ".

Segundo o almanak de Vianna ( 1896 ), na Rua da Bandeira, existiam duas " fábricas de cortumes ": a de Inacio José de Passos e a de Moraes & Filho. Será que é a estas fábricas que se refere o autor do artigo do jornal? Ficam-nos algumas dúvidas quanto à parcela da rua a que o almanaque se refere.

Esta tradição industrial permanecerá até ao princípio do nosso século. Na década de trinta terá encerrado a fábrica dos Santinhos e, na década de cinquenta, a dos Veríssimos. Esta última corresponderia à zona do actual "Nosso Café" e foram seus últimos proprietários os srs. Américo e Carvalho.

 

Carlos Loureiro 

Sem comentários:

Enviar um comentário