quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

O Presidente da Câmara, Engº José Maria Costa

 
O Presidente da Câmara saudou oa ceia dos Sós, no dia 24 à noite, enquanto a sua família esperava. Foi muito bem recebido pelos presentes; alguns de até de pé bateram palmas... D. Anacleto, bispo de Viana consoou com os Sós, às 19.30H. do dia 24 de Dezembro.
 

OLHAR E ESCUTAR O DIFERENTE - São Motinha - Arcos


OLHAR E ESCUTAR O DIFERENTE

POR SISTELO (Arcos de Valdevez) COM SÃO MOTINHA

José Rodrigues Lima

  
 

Fomos seguindo a estrada que ladeia o rio Vez que corre apressado desde a nascente no Alto da Seida, Lamas do Vez. O território aparece-nos mesmo na curva da estrada. Lançámos os olhares para o Alto da Estrica e para os socalcos onde se cultiva o milho, cereal para a cozedura da broa apetitosa. É a zona mais assocalcada do Alto Minho.

Ingressámos na zona do Parque Nacional Peneda-Gerês.

Veio-nos à mente o pequeno texto do escritor Guerra Junqueiro: “O Minho é bom demais. A vida desliza suavemente, cristalinamente, como regato bucólico. Nada que fira, que morda, que contrarie.

O sol ri, a verdura canta, o vinho é alegre, o celeiro cheio…

É bom demais, decididamente.”

Recordámos as narrativas de Tomáz de Figueiredo, José Augusto Vieira, Orlando Ribeiro, Eugénio Castro Caldas e outros escritores, bem como o livro “Alto-Minho” do saudoso Carlos Alberto Ferreira de Almeida

Localizámos no centro da aldeia de Sistelo, de casario concentrado, a denominada «Casa do Castelo», revivalista e romântica, autêntico “solar do brasileiro”. Trata-se de uma volumosa construção levantada pelo Visconde de Sistelo, filho da terra embalada pelas águas do rio Vez, que emigrou para o Brasil, onde fez fortuna e se afirmou como figura prestigiada na sociedade do Rio de Janeiro.

Era o brasileiro da fala doce… Sonora, cativante e amiga!

As benfeitorias do brasileiro benemérito e do seu irmão Visconde do rio Vez estão bem sinalizadas em testemunhos variados na igreja paroquial, na escola, no cemitério, nos fontenários e vias rurais da aldeia do concelho de Arcos de Valdevez.

Entrámos na alma do lugar percorrendo caminhos íntimos, «aqueles onde sentimos o mítico e conhecemos a história».

Há tempos tivemos conhecimento da existência do culto ao “santo popular denominado São Motinha”.

A revelação foi-nos feita por Manuel Dias, sacerdote da Igreja Católica, que pastoreou a localidade durante breves anos, e afirma que a “devoção” remonta ao início do séc. XX.

A «história» ou a «estória» é linda de se ouvir.

Motinha era um pobre que mendigava pelos caminhos da aldeia de Sistelo. Mal vestido e mal comido, e com o alforje ao ombro. Por vezes calçava uns tamancos de amieiro. A barba crescida no rosto ajudava ao seu calvário, ou «mistério de vida humilhante e sacrificada».

Nas roupas mostrava pauperismo e até falta de higiene, pois dormia aqui e acolá, nos cortelhos ou palheiros, e na zona mais alta aproveitava as cardenhas. A sua miséria era merecedora de compaixão e ternura dos habitantes que na Portela de Alvito têm feira quinzenal e anual a 12 de Setembro, onde o gado bovino, ovino, caprino e cavalar é transacionado em escala considerável.

Os garranos são apresentados como exemplares regionais, de características únicas, com presença milenar e elementos integrantes da paisagem humanizada do Minho.

As mulheres de Sistelo ou Padrão ofereciam ao Motinha uma malga de caldo de farinha com feijões e couves e adubado com carne de porco. Por vezes saboreava um pouco de toucinho, uma febra, uma chouriça, ou um pedaço de orelha do «cerdo» da última matança. Um bom pedaço de pão acompanhava o presigo. As batatinhas eram sempre desejadas.

E ouvia:

«P’ra onde bás, Motinha?».

Respondia: «Bou por i!».

Ia com ele e com Deus…

Sim, com Deus sempre… E com a sua pobreza ou miséria.

Ia caminhando meditativo e derreadinho. «Como triste é ser pobre!… Mas sou respeitado em todas as porta. Deus é meu pai, pronto!… Bou com Deus!» Da sua boca nunca saiu uma palavra mais atrevida, de maldição ou de azedume…

Por certo ouviu dos seus conterrâneos: “Quando o loureiro der baga e a cortiça for ao fundo, é que se hão-de acabar as más línguas deste mundo”.

Ao receber uma dádiva dizia sempre: «Seja p’las almas de quem lá tem. Deus o cubra de muitas bênçãos e aumente o que tem… “Padre nosso.”

Era pobre mas rico de sentimentos. Fazia lembrar as Bem-aventuranças: «Bem-aventurados os puros de coração».

MENDIGAR É UM TRISTE OFÍCIO

Aquando dos nossos olhares antropológicos em Sistelo recordámos a figura do «Velho Garrinchas» descrita por Miguel Torga (1978).

“Mendigar é um triste ofício”.

Avivamos na memória o que um pároco escreveu num registo de óbito referente à profissão do falecido: “POBRE”.

Conforme se lê no “Catecismo do Labrego” de Valentim Lamas Carvaxal, pobres “são aqueles que não conhecem um dia de fartura”.

Colocámos em prática o «olhar e escutar várias vezes»…

Comungámos o ar fresco do território marcado pelo Rio Vez e fomos envolvidos pelos poemas do poeta popular José Soldado, de Padrão!

“Eu também já vi você

Na minha casa a pedir;

Também lhe dei a esmola

Com bom modo de rir”

Conhecemos a Branda do Rio Côvo e do Alhal, e as costumeiras da pastorícia com longas pegadas e suores dos brandeiros.

Ouvimos o canto da passarada e o afoutar ao gado.

Registámos na máquina fotográfica imagens panorâmicas e de pormenores das memórias dos homens e das coisas.

Dizíamos: «Boa tarde!».

Ouvíamos: «Pois boa tarde nos deia Deus!».

Acompanhados por um companheiro também interessado em descobrir o Alto Minho profundo e inédito, lá nos decidimos a perguntar pelo São Motinha.

«- Bem, não sei onde estará! Estebe na igreja, num altar, mas depois um padre mandou-o tirar de lá e foi pra uma casa. Era um santo pobre e bondoso! Nunca dizia uma maldade e não fazia mal a ninguém. Até as crianças o respeitabam. Morreu e foi santo! Não sei onde está! Talbez…»

Por fim, a casa onde é venerado surgiu…

A senhora que cuida e guarda o São Motinha estava no lavadouro público… Vestia de preto.

Dissemos ao que vínhamos: «Seria possível ver o São Motinha?»

«Esperem um pouco, que eu bou lá a casa.»

Entrámos numa casa de granito escurecido pelo tempo. Passámos pela cozinha, olhando o grande pote de três pernas. Chegámos à grande sala, a denominada “Sala da Páscoa”, em terras minhotas.

No meio do espaço doméstico mais valorizado, numa mesa com uma toalha de linho estava colocada a escultura/imagem de madeira de São Motinha, esculpida por um artista local.

Uma linda toalha e uma malga tradicional com esmolas, contendo notas e moedas… Testemunhos da devoção ao santo canonizado pelo povo. Vox populi, vox Dei (Voz do povo, voz de Deus).

O silêncio respeitoso foi eloquente e ouvimos «estórias lindas» que percorriam latitudes longínquas, com saudades dos tons, dos sons, das vozes do mundo de Sistelo.

Como escreve o antropólogo Pina Cabral, «Faz-se o pagamento ao Santo, pede-se a sua ajuda e protecção».

Mas o ritual tem de ser completado e perfeito.

Numa mesa ao lado e com rendada toalha, está uma garrafa de vinho branco, outra de vinho do Porto e um pratinho com bolachas, talvez “Maria”!!!

LITURGIA LOCAL E INÉDITA

Todos aqueles ou aquelas que visitam o Santo que nasceu, viveu, mendigou e morreu na sua terra e «não tinha maldade», pois «era um autêntico profeta de outro modo de vida”, devem terminar o seu cerimonial numa autêntica liturgia local e inédita, criadora e simbólica, de reciprocidade e comunitária, num verdadeiro sentido do «facto social total», segundo o pensamento de Marcel Mauss.

E ficámos a reflectir, com muito respeito, pela luz que cada um transporta…

“Seria um poeta clarividente?” (J. Heers)

A leitura do livro «Formas Elementares da Religião», de Emille Durkheim, fornece-nos doutrina consistente sobre as leituras do “facto social total originário”.

E o que se sente na alma e a boca por vezes confessa, faz parte dos tais caminhos íntimos e das bênçãos que se desejam para continuar a peregrinação pelas estradas da vida.

De acordo com A. Custódio Gonçalves “a apreensão das diversas memórias colectivas dos grupos faz-se sobretudo através da comunicação oral. A memória colectiva interage igualmente com a memória individual, caracterizada pela capacidade pessoal da evocação de uma imagem recordação.”

Recordámos do Livro do Apocalipse: «Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo» (3:20).

Continuaremos atentos à religiosidade popular, que no dizer do antropólogo compostelano Marcial Gondar, «é um bô miradoiro donde ollar unha sociedade».

Conforme o sociólogo António Joaquim Esteves, “nas terras minhotas a arte da solidariedade conviveu com a arte da solidariedade ativa.”

No regresso de Sistelo e transportando emoções sentidas pelas comunidades, lemos de Armando Cunha:

“O Vez passando, tão descuidado…

Como um sonho que não se esvai,

Dá-nos lembranças do que é passado;

Dá-nos saudades do que lá vai…”

Lembrámos de Pierre Bourdeux: “O que fala nunca é o discurso, a palavra, mas toda a pessoa social”.

 

José Rodrigues Lima

sábado, 26 de dezembro de 2015

Alegrai-vos!...


Alegrai-vos!...

 

É Natal, É Natal, é Natal…

 

Alegrai-vos

Glória a Deus nas Alturas

Porque hoje nasceu um salvador

Para os homens de boa vontade

Jesus Cristo Nosso Salvador

 

Ele é Amor.

 

Deus manifesta-se num Menino!

Ele apresenta-nos um Deus

que se fez homem pequenino

 

E deste modo

Mostra-nos o rosto do Pai,

Um rosto de Misericórdia

Fraterno, justo e Bom

Connosco a  fazer história.

 

Alegrai-vos irmãos!... Alegrai-vos!...

 

Porque recebemos um dom

Este rosto de Deus é próximo

Está nos corações

Tão próximo como os pobres, os ricos

 

Os sós, os tristes,

 

os que vivem com medo.

Com dúvidas, injustiçados,

 

Incompreendidos

Idosos, doente e perseguidos

 

Os que choram, os presos…

Os que vivem obstinados no erro

Com dúvidas, incompreendidos,

 


Alegrai-vos todos vós
Porque somos todos nós
Próximos uns dos outros
 
 
Alegrai-vos porque é Natal
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

É Natal!...


 
É Natal!... é Natal!...é Natal!...
 
 
 
 
Hoje nasceu numa grande Luz.
Essa Luz é o rosto de Deus
Feito menino nascido em Belém.
Ele chama-se Jesus!

 

Jesus Cristo é o rosto da Misericórdia do Criador.
Ele é o rosto do verdadeiro Amor.
É o Amor incondicional do Pai
Que chama a cada um pelo seu nome.

 

João, Anacleto e Maria
José, Francisco e a Lia

 
Joaquim, Isabel e Ana,
David, Rabeca, e Marta

 

“Hoje nasceu-nos um salvador”
Hoje nasceu-nos uma luz
Ela se manifesta num rosto
Que é o rosto do Menino Jesus.

 

Ele é o rosto da Misericórdia
É o rosto do Pai.

 

E Deus Pai é Amor
Sempre pronto,
De braços abertos,

 

Para receber com desconto
O que é do pecador.

 

Para que amando assim

Até ao fim.

 

Não usou do Poder
Para castigar,
Mas para Amar,
Ainda que com seus braços abertos
Fossem pregados numa cruz
Pendendo dela o corpo de Jesus

 

Contemplemos este rosto do Menino, no Presépio,
Olhemos e meditemos
Porque neste rosto descobriremos
Uma Humanidade com história 
o grande rosto de Deus
Um Deus de Misericórdia.

 

Um Deus que salva
Um Deus que Ama
Um Deus que não se afasta
Mas um Deus que se aproxima
O rosto de Deus aparece.

 

Um Deus presente!

Alegrai-vos porque é Natal…

 

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Dar Alma à Vida LXXXIII


Dar Alma à Vida LXXXIII

Dar Alma à Vida é dar importância às pessoas de mais idade, pois elas representam um papel fundamental na Família… segundo o Papa Francisco.
 


Dar Alma à Vida é compreender que os idosos são aquilo que o Papa diz e merecem, pois são os mais velhos que conhecem melhor as histórias da Família, os que mais trabalham pela coesão da mesma e os que têm mais conhecimentos empíricos da vida, seja qual for o grau de formação.

Dar Alma à Vida é respeitar os mais velhos até ao fim sejam pais, avós ou bisavós.

Dar Alma à Vida é rezar com a Profetiza Ana e o Velho Simão no templo porque tanto um como outro sentiram um dom para Israel como foi um dom para o Mundo o Deus fazer-se homem para mostrar o seu rosto à Humanidade.
 


Dar Alma à Vida é aceitar este Rosto de Deus em Jesus Cristo que nos mostra um rosto de Misericórdia, de Amor e de Perdão, de um Deus Todo Poderoso que nos acompanha, que anda connosco e nos procura quando nos afastamos na nossa fragilidade humana, como uma criança que foge da mão da mãe ou do pai.


Dar Alma à Vida é aceitar este Deus do qual nos esquecemos dele. Às vezes vamos à procura d’Ele onde Ele não está, do bem que não é o Bem, onde Deus está, mas onde nos afogamos e Ele, mesmo assim, vem em nossa salvação.

Mário Rocha condecorado




Mário Rocha é um pintor vianen.se, na­tural da freguesia de Perro. Ainda há pou­co tempo este jornal o entrevistou. A sua intensa actividade artística em Portugal e no estrangeiro, muito reflectida na bem conhecida "Arte na Leira", que anualmente se realiza na Serra de Arga, já com 17 edi­ções, justificava esta conversa que com ele tivemos.

Pelas mesmas razões e pela sua liga­ção artística às causas da solidariedade promovidas pela Casa Ermelinda Freitas, distinta no país pela produção e comercia­lização de vinhos, o Presidente da Repúbli­ca, no dia 19, sábado passado, atribuiu-lhe uma ordem de mérito.

A cerimônia aconteceu na inauguração da Adega Leonor Freitas, da Casa Ermelin- da Freitas, em Fernando Pó, Palmela. 0 PR aproveitou ainda para condecorar várias personalidades ligadas à vitivinicultura da região sul, com o grau de Comendador da Ordem do Mérito Empresarial, Classe do Mérito Agrícola.

A Aurora do Lima felicita este artista vianense pelo  reconhecimento que lhe feito pela mais alta figura da nação. Transcrição do último Aurora do Lima

NOITE DE NATAL 2015 – Já la vão 60 e tal anos…


NOITE DE NATAL 2015 – Já la vão 60 e tal anos…

Era eu ainda muito jovem, iniciava-se o período de Natal e minha mãe obrigava-me a ir à igreja. Era um ritual que se repetia todos os anos, tão intimo e tão vulgar que incorporava o simbolismo da Santa Noite de Natal.

 

Era eu e todos os meus irmãos unidos num espirito de grupo que envolvia, novos e velhos, grandes e pequenos A família. Todos lá de casa.

Na lareira – uma grande pedra espessa, em granito, pousada no soalho, ardiam os canhotos que junto aos potes coziam as batatas, esta elevada também por uma outra pedra mais estreita que lhe servia de apoio, para colocar as panelas. À direita, o forno de cozer a boroa; à esquerda o lava-loiças também em granito e, logo por cima, um louceiro em madeira de pinho, com prateleiras para enfiar os pratos lavados. O fumo saía por entre as telhas e ripado do telhado. Não havia tecto nem propriamente uma chaminé! Era a cozinha daquela época. Na sala, construía-se o presépio. Ali se dispunham os três Reis Magos, o grupo de pastores, as ovelhinhas em rebanhos, o açude, os pequemos regueiros ou riachos, as casinhas, as azenhas, todas aquelas figuras exóticas por aqueles atalhos feitos em serrim pelas montanhas sagradas, construídas em musgo verde. O Menino Jesus gorduchinho e bom “em palhinhas deitado” e a Sagrada Família. Não faltava a vaquinha e o burrinho ou a mulinha - como lhe queiram chamar - com os seus meigos olhares naquela cabaninha algo tosca, erguida com muito amor e carinho pelas mãos ingénuas e puras de 6 crianças (eu e meus irmãos) e, rematada com a estrela prateada que indicava o atalho que todas aquelas figuras tinham de observar para se orientarem e encontrar o Menino Jesus nascido.

A simbologia do Natal, à época, era patenteada por presépios e não por pinheirinhos.

Era uma alegria para gaudio dos mais pequenos como eu.

A família juntava-se. Chegavam familiares que trabalhavam noutros locais do país. Seguiam-se abraços e beijos e a casa enchia-se. Toda a gente se instala, passeando por toda a casa

Na cozinha não há mãos a medir! As mulheres tratam de tudo.

O bacalhau demolhado que estava já há alguns dias em água e necessitou de continuadas mudas. As tronchudas e as couves-galegas, as hortaliças foram escolhidas pela minha mãe na leira, propriedade nossa, que cultivávamos junto á escola primária de Vila de Punhe. A doçaria vinha sendo feita durante o dia, também por ela, com ovos das galinhas do nosso galinheiro.

As nozes, amêndoas, figos, estavam guardadas por meu pai para serem introduzidas no sapatinho de cada um de nós – filhos - que, no fim da ceia, colocávamos na padieira sobranceira à lareira, aguardando a visita do Menino Jesus que descia pela “chaminé” durante a noite.

Enquanto se aguardava a comida, sentados à volta da lareira, contavam-se histórias. Lembravam.se os que partiram. Outros natais… A vida e cada um em amena cavaqueira.

Uma noite de Natal tipicamente minhoto.

Na mesa, minha mãe estendia a melhor toalha. Ao lado as terrinas, travessas e talheres, os pratos, malgas, canecas de barro branco, pintadas às riscas de azul, eram retiradas do antigo armário lá de casa.

“A comida está pronta”! “Vamos, Todos prá mesa”.!...A ordem vem da cozinha! “Vamos que fria não presta”- convidava minha mãe.

Na lareira, vão ardendo os canhotos. Ao lado, as pinhas mansas que depois de queimadas ou chamuscadas se abrem para quebrar os pinhões. Paira um cheirinho a resina. O bacalhau chegou à mesa, os ovos e os legumes. Tanta hortaliça! O molho de azeite fervido com alho e o vinho verde tinto nas canecas bojudas, que o frio já lhe tinha dado a volta. Era Inverno. Toda a gente se senta à mesa colocada bem perto da lareira para ter aquecimento.

Não faltam as rabanadas de vinho verde da nossa safra e leite do vizinho, lavrador- “tio Joaquim Puxa”. No fim da ceia, comem-se os doces. Não se levanta a mesa – fica para os anjinhos e as alminhas comerem de noite. Se quiserem, claro! (que tenham bom proveito) - dizia minha mãe. Assim ditam algumas das tradições cá do Alto Minho, da minha aldeia, da aldeia onde nasci.

A meia-noite aproxima-se e toca a ir para a cama. O sapato ou a chanca, já lá está à espera do Menino Jesus. Das prendas que trás.

No dia seguinte, toca acordar pressurosos para ver o que havia deixado o Menino Jesus - eu e meus irmãos. Era Natal. Reinava aquela ansiedade e euforia de criança. Sem grandes surpresas! Tínhamos amêndoas nozes e figos no sapatinho. Era o que aguardávamos...mas contentes, muito contentes, porque só acontecia uma vez no ano!

Apesar de tudo, naquela época, nenhum de nós sabia o que lhe tocava. Havia sempre uma espectativa a pensar na surpresa. Meu pai, guardava o que tinha comprado, em segredo, para nos surpreender.

Depois, havia a missa do galo, e naquele dia toca a saborear as gulosices, era dia Natal!…Aquele Natal… tão desejado por qualquer criança durante aquele mês de Dezembro. Uma alegria!

Era sensivelmente assim, a Noite de Natal da minha infância que recordo com muita saudade e que, certamente, faz recordar a alguns de vós, a vossa infância o vosso Natal outrora.

É tempo de respirar bem fundo. É Tempo de Natal. Juntam-se amigos e fazem-se almoços e jantares alusivos. Que bom seria se fossem todos os dias, dias de Natal com …PAZ, AMIZADE E AMOR!

A todos desejos um Santo Natal e Um Próspero Ano Novo

Leandro Matos                                                           12.12.2015                                            

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Um ano para viver a Misericórdia


Um ano para viver a Misericórdia

Hoje gostaria de meditar convosco sobre o significado deste Ano Santo, respondendo à pergunta: por quê um Jubileu da Misericórdia? O que significa isto? A Igreja precisa deste momento extraordinário. Não digo: é bom para a Igreja este momento extraordinário. Digo: a Igreja precisa deste momento extraordinário. Na nossa época de profundas mudanças, a Igreja é chamada a oferecer a sua contribuição peculiar, tornando visíveis os sinais da presença e da proximidade de Deus. E o Jubileu é um tempo favorável para todos nós a fim de que, contemplando a Misericórdia Divina que supera todos os limites humanos e resplandece na obscuridade do pecado, possamos tornar-nos testemunhas mais convictas e eficazes. Dirigir o olhar para Deus, Pai misericordioso, e para os irmãos necessitados de misericórdia, significa prestar atenção ao conteúdo essencial do Evangelho: Jesus, Misericórdia que se fez carne, que torna visível aos nossos olhos o grande mistério do Amor trinitário de Deus. Celebrar um Jubileu da Misericórdia equivale a pôr de novo no centro da nossa vida pessoal e das nossas comunidades o específico da fé cristã, ou seja Jesus Cristo, o Deus misericordioso. Portanto, um Ano Santo para viver a misericórdia. Sim, caros irmãos e irmãs, este Ano Santo é-nos oferecido para experimentar na nossa vida o toque dócil e suave do perdão de Deus, a sua presença ao nosso lado e a sua proximidade sobretudo nos momentos de maior privação. Em síntese, este Jubileu é um momento privilegiado para que a Igreja aprenda a escolher unicamente «o que mais agrada a Deus». E o que é que «mais agrada a Deus»? Perdoar os seus filhos, ter misericórdia deles a fim de que, por sua vez, também eles possam perdoar os irmãos, resplandecendo como archotes da misericórdia de Deus no mundo. É isto que mais agrada a Deus! Num livro de teologia que tinha escrito acerca de Adão, santo Ambrósio medita sobre a história da criação do mundo e diz que cada dia, depois de ter criado algo – a lua, o sol ou os animais – Deus diz: «E Deus viu que isto era bom!». Mas quando criou o homem e a mulher, a Bíblia diz: «Viu que era muito bom». E santo Ambrósio interroga-se: «Mas por que motivo Deus diz que é “muito bom”? Por que se sente Deus tão feliz depois da criação do homem e da mulher?». Porque, finalmente, tinha alguém a quem perdoar. E isto é belo: a alegria de Deus é perdoar, o ser de Deus é a misericórdia. Por isso, neste ano devemos abrir o nosso coração para que este amor, esta alegria de Deus, nos encha a todos desta misericórdia. O Jubileu será um «tempo favorável» para a Igreja, se aprendermos a escolher «o que mais agrada a Deus», sem ceder à tentação de pensar que existe algo mais importante ou prioritário. Nada é mais importante do que escolher «o que mais agrada a Deus», ou seja a sua misericórdia, o seu amor, a sua ternura, o seu abraço, as suas carícias! [FRANCISCO, Alocução Aud. Geral 9/12/2015]-In Igreja Viva, Ermesinde

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

ENCONTRO MISERICORDIOSO DE DEUS COM A HUMANIDADE


NATAL 2015

ENCONTRO MISERICORDIOSO DE DEUS COM A HUMANIDADE

 Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do Pai

“Na plenitude do tempo” (Gl4, 4), quando tudo estava pronto segundo o seu plano de salvação, mandou o seu Filho, nascido da Virgem Maria, para nos revelar, de modo definitivo, o seu amor.

Quem O vê, vê o Pai (Jo 14, 9).

 

É Natal de Jesus…

Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados.

Aos homens e mulheres de boa vontade, construtores de um mundo mais solidário, fraterno e justo.

Alegrem-se os corações dos que vivem sós.

Alegrem-se os corações dos que vivem tristes.

Alegrem-se os corações dos que vivem angustiados.

Alegrem-se os corações dos que vivem com medo.

Alegrem-se os corações dos que vivem com sombras.

Alegrem-se os que são vítimas da incompreensão.

Alegrem-se as crianças e os idosos.

Alegrem-se os que estão na cárcere-prisão.

Alegrem-se os que estão nos hospitais.

Alegrem-se os que vivem nas ruas (os sem-abrigo).

Alegrem-se os que se sentem marginalizados, os desempregados e os que choram!

Alegrem-se os que vivem na dor.

Alegrem-se os que têm fome e sede de justiça…. Os pobres.

Alegrem-se os abandonados pelos homens, mas amados por Deus!...

Alegrem-se todas as famílias.

É tempo de ser bom…

 

 

É Natal! Boas Festas para todos.

Alegre-se o céu e rejubile a terra.

A criação.

Glória in excelsis Deo.

Glória… Glória e paz na terra ao homem nosso irmão.

Jesus foi o primeiro a testemunhar o amor a todo o homem.

No dizer de Gil Vicente:

“NASCEU A ROSA DO ROSAL, DEUS E HOMEM NATURAL!”

O Menino nos foi dado.

“Ele espalhará a justiça entre as nações” (Isaías 4, 1)

“Ele será a reconciliação do povo e a luz das nações” (Isaías 42, 6)

“E O VERBO FEZ-SE HOMEM E VEIO HABITAR ENTRE NÓS” (Jo. 1, 14)

A oferta da salvação realizou-se.

ALEGREMO-NOS.

Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do Pai.

 

Feliz Natal

 

José Rodrigues Lima

93 85 83 275
jrodlima@hotmail.com

domingo, 20 de dezembro de 2015

A arte natalícia como epifania do Mistério




A ARTE NATALÍCIA COMO EPIFANIA DO MISTÉRIO

 José Rodrigues Lima




Texto e Fotos

 

O Inverno é o período do ano em que as pessoas estão mais voltadas para o espírito.

A temperatura é mais fria e a luz solar mais reduzida, e por isso os grupos humanos passam mais tempo no espaço doméstico. O convívio familiar é mais extenso e vive-se com maior intimidade.

Existem diferenças no estilo de vida, dependendo do meio rural ou urbano.

Se na cidade se liga o aquecimento, na aldeia ele é produzido pela lareira loozalizada no centro ou no canto da cozinha, onde se queimam os bons cepos de raízes que ajudam a prolongar as horas nocturnas em conversas de família, reavivando memórias, fazendo comentários a acontecimentos da comunidade aldeã, ou projectando celebrações para alegria de todos aqueles que se sentem ligados pelo mesmo sangue, e no respeito pelo tronco patriarcal.

A quadra natalícia aproxima ainda mais a família. Os que durante o ano permanecem longe dos seus por diversos motivos procuram um retorno às origens para o encontro muitas vezes desejado.

 

 

DAR AS BOAS FESTAS

 

Se o Natal é o período dedicado à família, ele também é o tempo de ser bom… Como diz o poeta, “como é bom ser bom”!

Se na época natalícia há mobilidade social, também há ternura.

Há rituais que se cumprem com mais afecto, como oferecer e receber lembranças.

O uso de dar as boas festas é muito antigo. Nas “Fastos”, Ovídio pergunta a certa altura a Jano: “E donde vem que nas calendas tuas/ nos demos mutuamente as Boas-Festas?...”

Além das reuniões familiares estabeleceu-se no costume de se fazerem visitas aos amigos. Os servos iam apresentar cumprimentos festivos aos seus senhores, deles recebendo por vezes qualquer lembrança, derivando possivelmente o termo “dar ou receber as broas”.

Conta-se que a velha rainha Mary de Inglaterra tinha o dom especial de contemplar no Natal cada uma das numerosíssimas pessoas que a visitavam com uma lembrança adequada ao seu gosto.

Um dia, alguém perguntou com que antecedência ela começava a dedicar-se à tarefa de as escolher. Sorrindo, respondeu. – A partir de 26 de Dezembro de cada ano!

A rainha de Portugal, D. Maria Pia, logo “depois das Janeiras”, como dizia, convidava os íntimos para o almoço onde cada um descobria, sob o seu guardanapo, um bonito presente.

A troca de boas-festas por escrito só surgiu em tempo relativamente moderno.

Aceita-se que o costume se deve ao artista inglês W. T. Dobson. Em 1845, enviou a algum amigo uma cópia litografada de um cartão de sua autoria sobre o espírito do Natal. A originalidade da mensagem agradou e foi imitada.

Os primeiros cartões impressos na Inglaterra eram muito simples, uma acha de lenha, os sinos e os cumprimentos tradicionais.

O costume passa aos estados Unidos da América cerca de 1874. A partir daí os cartões de Boas Festas apresentam os mais diversos motivos, alguns muito longe de qualquer inspiração religiosa ou do espírito natalício.

 

O ESSENCIAL É INVISÍVEL PARA OS OLHOS

Sain-Exupéry, no famoso livro “O Pincipezinho”, escreve que “só se vê bem como coração, o essencial é invisível para os olhos”.

Captar o acontecimento histórico do Natal de Jesus Cristo que marcou o calendário, seja-se ou não crente, é reconhecer o projecto desenhado pelo profeta Isaías: “Ele espalhará a justiça entre as nações… Sendo manso não clamará, nem fará excepção de pessoas. Fará a justiça conforme a verdade…”

“A história é o sextante e a bússola dos estados, os quais, agitados pelos ventos e correntes, se perderiam na confusão senão pudessem verificar a sua posição”, escreveu Nevins. Por outro lado atribui-se a João XXIII: “A História da Igreja não é um museu de antiguidades cristã, mas sim como uma fonte que deita água viva que mata a sede de uma aldeia”.

A arte representou sempre a memória colectiva da humanidade.

Não foi o Ocidente a inventar o próprio conceito de arte, como também o de uma obra destinada a ser fruída, interpretada, e concebida como objecto de reflexão estética.

Em termos genéricos nos sistemas não europeus, o objecto artístico é um símbolo do absoluto, confundindo-se com o mistério e o sagrado, e integrando-se numa relação profunda entre o homem e os cosmos.

Conforme F. Gonçalves depois do século VI, as composições artísticas sobre o nascimento de Jesus tornaram-se frequentes no Oriente, sobretudo nos livros iluminados da Síria e da Palestina. É através das miniaturas dos códices siríacos que a cena da Natividade passa à Arte Bizantina e ao Ocidente bárbaro.

Aqui, desde a época carolíngia que o modelo levantino começa a ser imitado pelos iluminadores. Assim se difunde o tipo iconográfico da Natividade em que estão presentes os dois animais do estábulo, ladeando a figura do recém-nascido. O homem repete-se, no Oriente e no Ocidente, em frescos, mosaicos e miniaturas de marfim.

O presépio merece atenção de Fra Angélico, Ghirlandajo, Jerónimo Bosch, Van de Goes, Leonardo da Vinci, Durer e outros notáveis artistas.

Merecem referência, os famosos, presépios de Machado de Castro, Alexandre Guisti e António Ferreira, bem como todos os barristas, inclusive os de Barcelos, abundantemente coloridos, onde não faltam os carros de bois e pastores, dando lugar a um sentido imaginário dos artesãos.

Todas as aldeias do Alto-Minho armam o presépio na igreja paroquial, contribuindo para o encanto das crianças e dos adultos. O Menino Jesus a sair no andor, transportado pelas crianças aquando as procissões festivas, são uma constante em todas as paróquias.

Nas terras do Alto-Minho existem diversas manifestações artísticas referentes ao mistério do “Verbo Encarnado”.

Assim, são de referir o fresco representando os três Reis Magos (século XIII/XIV) na Igreja Paroquial de Chaviães, Melgaço, e a Sagrada Família de marfim na aldeia do Luzio, concelho de Monção.

No concelho de Viana do Castelo, os presépios de Machado de Castro em S. Lourenço da Montaria, a Senhora do Ó ou Senhora da Expectação no Mosteiro de Carvoeiro, a Senhora do Parto na freguesia de Nogueira, a Nossa Senhora do Leite, em Vila de Punhe, são outros testemunhos.

Na cidade podemos contemplar dois belíssimos nichos, mesmo na “Rua de Viana”.

É uma residência com portaria do século XVIII na qual se abriu, talvez no século XIX, um portal largo. A fachada incorpora dois nichos, esculpidos em alto relevo, que provem da casa dos fins do século XV. À nossa esquerda o Anjo Gabriel saúda a Virgem, e, como se lê na facha que tem na mão, dizendo AVÉ MARIA. No nicho, do lado direito, Nossa Senhora de pé, sob dossel, ladeado de talha florida, que simboliza a Fonte de Vida, recebe a mensagem.

Porém foi no antigo Convento de Santa Ana que encontramos a melhor representação relacionada com o Natal.

Aqui obtivemos a confirmação “a arte é a epifania do mistério”.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

“A Misericórdia no Acolhimento”


Paróquia Nossa Senhora de Fátima - Formação de Adultos

Dia: 5 de Dezembro 2015 – Horas: 15:00horas

Local – Igreja da Sagrada Família (Abelheira)

Tema: “A Misericórdia no Acolhimento”

3ª sessão

1 – Objectivos

1.1.   Conhecer a Bula do Jubileu da Misericórdia, Papa Francisco;

1.2. Ler a Carta Pastoral “Sede Misericordiosos”, D. Anacleto – Bispo da Diocese;

1.3     Interiorizar: “Sede Misericordiosos como o vosso Pai é Misericordioso” (Lc 6, 36)

1.4. Aprofundar o termo “Misericórdia” em contexto bíblico;

1.5. Testemunhar a Misericórdia no Acolhimento entre Familiares, Vizinhos e Comunidade;

1.6. Acreditar: “Eterna é a Misericórdia de Deus” (Salmo 136);

1.7. Agradecer a Misericórdia de Deus revelada por Jesus.

 

2 – Textos

2.1 – Bula da Misericórdia

Na Sagrada Escritura, como se vê, a misericórdia é a palavra-chave para indicar o agir de Deus para connosco. Ele não Se limita a afirmar o seu amor, mas torna-o visível e palpável. Aliás, o amor nunca poderia ser uma palavra abstracta. Por sua própria natureza, é vida concreta: intenções, atitudes, comportamentos que se verificam na actividade de todos os dias. A misericórdia de Deus é a sua responsabilidade por nós. Ele sente-Se responsável, isto é, deseja o nosso bem e quer ver-nos felizes, cheios de alegria e serenos. E, em sintonia com isto, se deve orientar o amor misericordioso dos cristãos. Tal como ama o Pai, assim também amam os filhos. Tal como Ele é misericordioso, assim somos chamados também nós a ser misericordiosos uns para com os outros.

A arquitrave que suporta a vida da Igreja é a misericórdia. Toda a sua acção pastoral deveria estar envolvida pela ternura com que se dirige aos crentes; no anúncio e testemunho que oferece ao mundo, nada pode ser desprovido de misericórdia. A credibilidade da Igreja passa pela estrada do amor misericordioso e compassivo. A Igreja «vive um desejo inexaurível de oferecer misericórdia».[8] Talvez, demasiado tempo, nos tenhamos esquecido de apontar e viver o caminho da misericórdia.  Por um lado, a tentação de pretender sempre e só a justiça fez esquecer que esta é apenas o primeiro passo, necessário e indispensável, mas a Igreja precisa de ir mais além a fim de alcançar uma meta mais alta e significativa. Por outro lado, é triste ver como a experiência do perdão na nossa cultura vai rareando cada vez mais. Em certos momentos, até a própria palavra parece desaparecer. Todavia, sem o testemunho do perdão, resta apenas uma vida infecunda e estéril, como se se vivesse num deserto desolador. Chegou de novo, para a Igreja, o tempo de assumir o anúncio jubiloso do perdão. É o tempo de regresso ao essencial, para cuidar das fraquezas e dificuldades dos nossos irmãos. O perdão é uma força que ressuscita para nova vida e infunde a coragem para olhar o futuro com esperança.” Papa Francisco

 

2.2 – Carta Pastoral

“A própria terminologia o exprime, sobretudo aquela em que entram órgãos vitais. É o caso de “misericórdia”: remete-nos para o “coração” (cor, em latim), visto como a parte mais íntima do nossos ser, berço dos sentimentos, das emoções, do afecto, da coragem, do amor; e, na concepção bíblica, sede também das faculdades intelectuais e volitivas. É tudo isso, todo esse centro vital, que sofre e reage perante a “miséria” dos outros. “Que é a misericórdia – pergunta S. Agostinho – senão uma compaixão do nosso coração perante a miséria do outro, que nos leva a socorre-lo, se pudermos?

O grego bíblico, nomeadamente do Novo Testamento, vai mais longe, ao alargar a sede dessa compaixão a todas as “entranhas”. Assim acontece no Benedictus de Zacarias: Graças às entranhas de misericórdia do nosso Deus é que Ele nos salva, pela remissão dos pecados (Lc 1, 78). E S. Paulo exorta-nos, como eleitos de Deus, santos e amados, a revestir-nos igualmente de entranhas de misericórdia (Col 3, 12). Daí o comentário do Papa Francisco: “É verdadeiramente caso para dizer que se trata de um amor “visceral”. Provem do íntimo como um sentimento profundo, natural, feito de ternura e compaixão, de indulgência e perdão.” D. Anacleto Oliveira

 

2.3 – Sagrada Escritura

“Eu quero a Misericórdia e não sacrifícios” (Oseias 6,6)

“Felizes os Misericordiosos porque alcançarão misericórdia” (Mt 5, 7)

“Não julgueis e não sereis julgados; Não condeneis e não sereis condenados; Perdoai e sereis perdoados… A medida que usardes com os outros será usada convosco” (Lc 6, 37-38)

 

3 – Acolhimento

3.1 – Fundamentação Bíblico-Teológica

“Jesus Cristo é o grande modelo do acolhimento, cuja fundamentação teológica encontra-se na Encarnação. Cristo recebe a humanidade, acolhe-a em sua fragilidade e em sua sede de Deus. Outro modelo de acolhimento eclesial é Maria Santíssima. Ela, pelo Sim da Anunciação, recebeu em seu seio o Filho de Deus, com tudo o que isso representava: responsabilidade, riscos e incertezas. O acolhimento +e um acto de amor. Quem ama acolhe e vice-versa.

Os Santos Padres, teólogos dos primeiros séculos, denominam a Igreja comunidade de fé, acolhimento e católica. A Igreja sintetiza a comunidade daqueles que seguem a mesma fé: Há um só Senhor, uma só fé, um só Baptismo. Há um só Deus e Pai de todos, que actua acima de todos, por todos e em todos, afirma São Paulo (Ef 4, 5-6). Esta comunidade caracteriza-se, externamente, pelo dinamismo e a criatividade do amor ao próximo, pois todos são filhos do mesmo pai, que é Deus. Isto é o que chamamos de acolhimento.”

 

3.2 – Referências Bíblicas

“Quem vos receber a mim recebe; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou.” (Mt 10, 40)

“A quantos O acolheram deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus.” (Jo 1, 12)

“Sede afectuosos uns para com os outros no amor fraterno.” (Mat 9, 36)

“Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, para que eles vejam as vossas boas obras, e glorifiquem o vosso Pai, que está nos céus.” (Mat 5, 16)

“Na verdade vos digo que todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes.” (Mat 25, 40)

“Se alguém vier a mim eu não o mandarei embora” (Jo 6, 37)

“Olha que eu estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, eu entrarei na sua casa e cearei com ele e ele comigo.” (At 3, 20)

 

3.3 – “Quem acolhe, a Mim acolhe”

“Por que acolher bem? O acolhimento fraterno e alegre nos leva a outra indagação: o que o fiel procura em nossas comunidades, ou melhor, quem é que eles vêm procurar? A resposta só pode ser uma: vieram, mesmo sem saber com clareza, à procura de Jesus Cristo! Jesus Cristo que, todavia, foi o primeiro a procurar-vos. De facto, o único significado para uma boa acolhida é levar quem chega a nossos ambientes sagrados a encontrar Jesus Cristo, o Verbo que Se fez carne e veio habitar entre nós. As palavras do Prólogo de São João, de certo modo, deve ser o “cartão de visita” do ministro que acolhe o seu irmão. “No princípio era o Verbo, o Verbo estava junto de Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava, ao princípio, junto de Deus” (Jo 1, 1-2). E diz a grande conclusão: “a quantos, porém, o acolheram, deu-lhes poder de se tornarem filhos de Deus: são os que crêem no seu nome”. (Jo 1, 12). O Senhor também, ao enviar os seus discípulos, vai lembrar-lhes que quem os “acolhe, acolhe a mim, e quem acolhe a mim, acolhe Aquele que me enviou.  D. Orani Tempesta

 

3.4 – Na casa de Zaqueu e Marta

“Zaqueu, desce depressa, porque convém que eu fique hoje em tua casa. E ele desceu a toda a presa, e recebeu-o alegremente. E, vendo isto, todos murmuravam, dizendo que tinha ido hospedar-se a casa de um homem pecador.” (Mat 19, 3-6)

“E aconteceu que indo em viagem, entrou em uma certa aldeia; e uma mulher, de nome Marta, o recebeu em sua casa.” (Lc 10, 38)

“E o que recebe em meu nome um menino como este é a mim que recebe.” (Mat 18 – 5)

 

3.5 – Hospitalidade

Virtude eminente no mundo nómada: Gn 18, 1-8; 19, 1-8; Nm 35, 9-34; Jz 19, 16-26; Sb 19, 14-17n; ritos de acolhimento: oferta de pão e vinho (Gn 14, 18-24), lavar os pés: Lc 7, 36-50; Jo 13, 1-17; 1 Tm 5, 9-10.

 

4 – Prática Cristã

4.1 – Acolhimento;

4.2 – Proximidade;

4.3 – Ternura;

4.4 – Compaixão;

4.5 – Misericórdia;

4.6 – Alimentação;

4.7 – Habitação.

 

5 – Sugestões/Reflexões

5.1 – Como sentir que Jesus vem ensinar a viver?

5.2 – Cantarei eternamente a Misericórdia do Senhor (Salmo 88). Como agradeço a Misericórdia de Deus?

5.3 – Como vai o meu acolhimento na Família, com os Vizinhos e na Comunidade?

5.4 – Qual é a minha capacidade de escutar os outros?

5.5 – Faço silêncio para escutar a Voz de Deus?

 

8 – ORAÇÃO

O Senhor nos guie, nos defenda, nos sustente sempre em seus braços, onde nos sentimos seguros. O Senhor nos mostre o seu rosto e nos dê a sua Paz e Misericórdia. Pronunciarei o Teu nome, meu Deus, solidariamente, no meio dos meus silenciosos pensamentos. Meu Deus dá-me um coração aberto aos outros! Ámen!