Creio em Jesus Cristo, nascido do Pai antes de todos os séculos
A afirmação da identidade divina ae Jesus Cristo ocupa
uma parte significativa do «Credo Niceno- -constantinopoiitano». Nos outros
«Credos» (Batismal e Símbolo dos Apóstolos) essa referência está apenas
associada à filiação («seu único Filho»). As discussões posteriores sobre a
divindade de Jesus Cristo levaram a Igreja a explicitar com mais ênfase essa
mesma realidade, tal como está expressa no «Credo» que surgiu dos Concílios de
Niceia e Constantinopla. [Para ajudara compreender melhor, ter: João 17, 1-26;
Catecismo da Igreja Católica, números 249-256]
«Aquela glória que eu tinha junto de ti, antes de o mundo existir»
- é uma das afirmações que encontramos no evangelho segundo João para referir a
existência do Filho, a Segunda Pessoa da Trindade, antes do ato criador. Logo
no início o evangelista afirma: «No princípio existia o Verbo; o Verbo estava
em Deus; e o Verbo era Deus» (João 1, 1). E a terminar este prólogo acrescenta:
«A Deus jamais alguém 0 viu. 0 Filho Unigénito, que é Deus e está no seio do Pai,
foi Ele quem o deu a conhecer» (João 1, 18). «Eu e o Pai somos um» - afirma
Jesus numa das controvérsias com os dirigentes judaicos. E, num dos diálogos
com os discípulos, concluiu: «Eu saí de Deus. Saí do Pai e vim ao mundo» (João
16, 27-28). É desnecessário elencar aqui todas as referências bíblicas. O mais
importante é reforçar a ideia de que há uma profunda relação entre o Pai e o
Filho.
As afirmações do «Credo» que rementem para a divindade de Jesus
Cristo tornam quase inevitável a repetição dos conceitos. Por outro lado, é também
difícil evitar as terminologias e as categorias filosóficas que estão
associadas à elaboração do «Credo niceno-constantinopolitano». O objetivo é
sempre ajudar a entender melhor o que dizemos ao professar a fé na recitação do
«Credo».
Nascido do Pai antes de todos os séculos.
A referência a Jesus Cristo, pelo menos para nós cristãos, é
facilmente associada aos mistérios da Encarnação e da Ressurreição, Natal e
Páscoa. São acontecimentos centrais que têm ligação estreita com o ciclo anual
das celebrações litúrgicas. Por isso, para nós, não há qualquer reserva em
afirmar que Jesus nasceu da Virgem Maria (cf. tema 18). Mas, antes disso, no
«Credo», referimos um outro nascimento.
jesus urisio e nino ae ueus, «nasciao ao rai antes de todos os
séculos». Esta afirmação remete para a existência eterna do Filho e
conjuntamente para a sua eterna presença no seio da Trindade. Então, há dois
nascimentos de Jesus Cristo? 0 bispo Máximo de Turim, um santo do século
quinto, afirma num sermão sobre o Natal (a partir da tradução de «Année en
fêtes», Migne 2000): «Caríssimos irmãos, há dois nascimentos em Cristo, e tanto
um como o outro são a expressão de um poder divino que nos ultrapassa
absolutamente. Por um lado, Deus gera o Seu Filho a partir de Si mesmo; por
outro, Ele é concebido por uma virgem por intervenção de Deus. [...] Uma e
outra formas de nascimento são propriamente inexprimíveis e ao mesmo tempo
inseparáveis. [...] Quando ensinamos que há dois nascimentos em Cristo, não
queremos com isto dizer que o Filho de Deus nasça duas vezes; mas afirmamos a
dualidade de natureza num só e mesmo Filho de Deus. [...] Deus não nasce duas
vezes; mas, por estes dois gêneros de nascimentos - a saber, o de Deus e o do
homem o Filho único do Pai quis ser, a um tempo, Deus e homem na mesma pessoa».
Na reflexão sobre a Trindade, Hilário de Poitiers afirma: «0 Pai e o Filho
guardam cada qual o segredo deste nascimento. Se alguém quiser zangar-se com a
sua própria inteligência por não conseguir compreender o mistério dessa
geração, que saiba, pelo menos, que eu também sofro ainda mais que ele por o
ignorar. Não sei, mas não me inquieto... [...] Compreendes do Filho que é a
imagem, a sabedoria, o poder, a glória de Deus. [...] Então penetra neste
segredo, um só Deus não gerado, um Filho único, e mergulha no mistério desse
nascimento inconcebível. Começa, avança, persiste: bem sei que não conseguirás,
mas, apesar de tudo, felicitar-te-ei por teres começado» (citação retirada de
Ph. Ferlay, J.-N. Bezançon, J.-M. Onfray, «Para compreender o Credo», ed.
Perpétuo Socorro, Porto 1993,68).
As expressões do «Credo» são conseqüência das discussões
teológicas que vão culminar nas formulações doutrinais dos Concílios de Niceia
(325), Constantinopla (381) e Calcedónia (451). Com os recursos filosóficos ao
seu alcance, procuraram um modo de expressar a fé na divindade de Jesus Cristo,
sem quaisquer reservas: «Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus
verdadeiro; gerado, não criado, consubstanciai ao Pai».
in DM de 29-01-13
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