sábado, 6 de fevereiro de 2016

Irmã Clara e as interpelações do Papa Francisco






Na sua Carta Apostólica inaugural do "Ano da Vida Consagrada", o Papa Francisco manifesta cinco desejos ou expetativas, esperanças, desafios. Ao repassá-los um por um, parece-me estar a ler na alma da nossa Irmã Clara.

1-      Que onde houver Consagrados haja alegria.

Apesar de muitos espinhos e contrariedades, a vida e

os escritos da Irmã Clara estão salpicados de alegria.

Que lição de mestra! A vida cristã e consagrada só será atraente e apetecível para os jovens, se lhes soubermos oferecer uma alegria que ultrapassa e transcende as ofertas da sociedade atual.

2-      Despertem o mundo.

Os Profetas despertaram o mundo, anunciando o projeto de Deus e denunciando tudo o que se lhe opõe. São Francisco alvoroçou o mundo com a sua liberdade evangélica: "todo ele era língua", palavra, fala - escreve o seu biógrafo Tomás de Celano.

Quando o Papa Francisco visita o Equador, fazem-lhe um pedido singular: "Sacode esta igreja enferrujada". A nossa Irmã Maria Clara escuta o mesmo apelo, vindo das situações dolorosas do seu tempo e, em reposta, espevita o mundo chamando, proclamando, reclamando. Com uma goleada de virtudes e de obras, acorda as consciências e aquece o motor de muitos corações.

39 Sejam peritos em comunhão.

"Quem se doutorou em ser irmão, irmã?" - perguntava, num retiro, Dom Luciano Mendes de Almeida, arcebispo de Mariana, no Brasil. Maria Clara do Menino Jesus podia responder afirmativamente: era, de facto, a irmã de todos, especializada no serviço aos mais pobres.

Apesar de incompreendida e muitas vezes atacada, manteve sempre sólidos e firmes laços com prelados, sacerdotes, membros de outros institutos, e leigos. Queria que as Irmãs da sua Congregação fossem todas doutora­das em caridade e concórdia.

49 Saiam para as periferias.

Papa Francisco sonha com uma Igreja sempre em saída, em êxodo, em movimento para os arrabaldes e as perife­rias. No "centro" vivem os ricos, os poderosos. Os pobres, os mais débeis, os excluídos habitam nas margens, nas periferias. Que ao menos tenham lugar e poiso no coração dos seguidores de Cristo.

Maria Clara "saiu" sempre. Saiu da sua casa nobre para o mundo dos periféricos. Mandou às suas Filhas que "saíssem" para terras afastadas dentro do seu país e para além dos oceanos, que fossem para o meio dos enfermos, dos meninos sem berço nem biberão, dos idosos sem uma sopa quente, dos homens e mulheres mais desnutridos, também do Pão do Evangelho.

5- Indaguem o que Deus e a Humanidade querem das pessoas consagradas.

De uma coisa estamos certos: Deus quer-nos autênti­cos, fieis. Não está o nosso ganho em sermos muitos, mas em sermos santos-dizia Teresa de Jesus. Por isso, a Irmã Clara pugnou sempre pela qualidade humana e espiritual das suas Filhas.

E que espera das pessoas consagradas a Humanidade? Espera que sejamos sinais e instrumentos da ternura de Deus. Que a ajudemos eficazmente nas suas necessidades corporais. E que não a privemos do melhor que possuímos: o tesouro Jesus Cristo e a esperança eterna.

P. Abílio Pina Ribeiro Colégio Universitário Pio XII, Lisboa

 

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