terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Divorciados...separados... recasados...


Divorciados...separados... recasados...
 

Todos, a partir do baptismo, somos chamados à Santidade. É por isso  que é para uma comunidade um grande sofrimento quando nela existem irmãos em sofrimento como os separados ou divorciados. Nós sabemos que Deus os ama e prometeu felicidade a quem enfrenta o sofrimento da separação ou do divórcio, que aparece “como uma loucura para o mundo”.



Quantas vezes os separados vêem os seus bens materiais degradados. Ainda outro dia conheci uma senhora sofredora de uma doença de fibromialgia que o marido levou a um psiquiatra. Como não deu conta dela, então, o marido deixou-a com 3 filhos menores, sem saúde e sem trabalho ... Esquecemo-nos dos Bem-aventurados... porque o mundo nos apresenta a felicidade fora do âmbito dos Bem-aventurados para Jesus. O mundo afirma: “felizes são os que têm uma vida sexual bem sucedida”. De facto, Deus só quer a felicidade e o paraíso para a Humanidade, mas qual felicidade e qual paraíso?
 

Nesse sentido, os separados, os divorciados não poderão ser heróis como os viúvos e os celibatários por opção?

Somos todos chamados à Santidade que exige conversão contínua. Esta vocação é para os divorciados e para os separados, apesar de alguma mancha na vida sacramental. Esta vocação é também para os recasados uma esperança. Basta lembrar como Jesus atendeu a mulher adúltera. O que aproxima os recasados, os divorciados ou separados fiéis é bem mais que aquilo que muitos pensam. Como eles são baptizados, confirmados, chamados à Santidade, podem fazer crescer sempre as forças que neles existem, do Espírito.

Todos nós sentimos que os que passam por situações de divórcio sofrem imenso e experimentam feridas bem profundas e naturalmente procuram a sua cura, pois pelo sacramento do matrimónio receberam o ministério parental que devem procurar vivê-lo na nova situação que ambos criaram. São também convidados ao perdão em relação àquele que foi seu primeiro cônjuge, unidos pelo laço do casamento, celebrado religiosa e validamente. Apesar de tudo continuam a ser chamados a uma reconciliação dos corações com o outro pela troca do perdão mútuo, mesmo se uma retoma de vida em comunidade não for possível.

 
 
 
Como separados e divorciados, não recasados, são chamados à fidelidade e só nisto diferem as opções escolhidas. O caminho proposto por Jesus, ou pela Igreja, não é um caminho impossível.

Jesus, na Cruz, deu-nos sólidas lições para um sentido novo do sofrimento.

Muitas vezes constata-se um traumatismo, sobretudo de culpabilidade, sendo mais trágico quando há filhos. Há que lembrar a traição de Judas, a Agonia no Getzêman, o Julgamento, a Flagelação, a Coroação de espinhos. Tudo isso fez que a Cruz gloriosa e fecunda de Cristo fosse o desabrochar dum “novo céu e duma nova terra”. - “Meu Deus, meu Deus porque me abandonaste”? – “Hoje estarás comigo no Paraíso”, diz para o Bom Ladrão. E para a Mãe: - “Mulher, eis aí teu filho” – “Eis aí a tua mãe”. “Tenho sede”. “Tudo está consumado” .”Pai nas tuas mãos entrega o Meu espírito”. Este é o ideal apontado.

No sofrimento, se fixarmos os olhos em Jesus Cristo, somos capazes de descobrir um amor verdadeiro com uma longa e paciente fidelidade (separados ou divorciados). A Virgem Maria ajuda-nos a repôr de pé a nossa vida. São testemunhos de muitos que assim permanecem nas trevas da Luz. O Coração de Jesus é fonte de perdão e de cura: “felizes os que choram porque serão consolados”.

Quem sou eu para julgar?

Mas há os que preferem a Comunhão ao recasamento. Os divorciados ou separados, desde que nesta linha de perdão e de fidelidade, podem exercer todas as funções na Igreja, mesmo a da Comunhão. Enquanto os recasados podem e devem fazer comunidade, mas afastar-se da comunhão. É este o espinhoso problema do recasamento.

Alguns recasam-se e, se voltam a recasar a seguir... o sofrimento é ainda maior!...

O recasados podem construir e conhecer de novo a felicidade humana, mas a procura duma solução somente humana para o sofrimento pode ser  ilusória: ”só Jesus que veio penetrar em nosso sofrimento, pode transfigurá-lo hoje ainda pelo Espírito”. O que possa parecer ilusório, quem sabe se por esta transfiguração espiritual será uma grande esperança...

Ainda que o amor humano esteja morto, importa redescobrir sua unidade mística que permanece eternamente pela Graça do Sacramento do Matrimónio, na esperança de uma reconciliação, segundo Paulo VI.

“Embora afirmando que o amor humano está morto, cremos contudo que, reanimado pelo Espírito Santo, ele pode ressuscitar. Além disso, o facto de que o amor humano esteja morto não acarreta o desaparecimento do vínculo sacramental entre esposos. É o que afirma claramente Paulo VI em seu discurso às Equipas de Nossa Senhora: “O casamento (não cessamos de recordá-lo) é uma comunhão fundada sobre o amor e tornado estável e definitivo por uma aliança e um compromisso irrevogáveis. O amor verdadeiro, então, é o elemento mais importante desta comunhão: o que é dom, renúncia, serviço, superação. Mas essa comunhão, uma vez e selada, não está mais à mercê de altos e baixos de um querer humano subjectivo, mutável e instável. Ela ultrapassa as alternâncias da paixão, do arbítrio dos cônjuges. É por isso que o casamento não pode ser entregue às vicissitudes do sentimento, por tão nobre que seja, mas, enquanto tal, sujeito a variações, ao enfraquecimento, aos desvios, à ruína. Nós queremos ainda reafirmar esta doutrina tradicional já lembrada pela constituição pastoral Gaudium et Spes, 48, contra a enganadora argumentação segundo a qual o casamento acaba quando o amor (mas que amor?) se extingue”.  Em 2004, por A. Coutinho

Observação
Hoje o Papa Francisco quer de facto a reintegração de todos, mesmo os que nos parecem fragilizados e, para o efeito, já decidiu que a declaração de nulidade do matrimónio ficasse pela primeira ou segunda instância, sem precisar de ir à Santa Sé.

Tudo isto para que, mesmo sem mudar uma vírgula à doutrina repor a disciplina misericordiosa e não pesar mais na dor de quem sofre.

Ainda bem! 

P. C.

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