segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Deus surdo para o Homem?


Deus surdo para o Homem?

Nunca como hoje se tornou necessário redescobrir as razões do crer. Aquele que acredita, se facilmente se confunde com o que não acredita, mesmo sem o querer, testemunha a inutilidade da fé. Quem não reconhece que este é o grande pecado de cada um? Ou mesmo o pecado que se atribui à Igreja? Não é verdade que o jogo fácil de acusar a Igreja, como se ela fosse apenas uma empresa humana, esconde a atitude covarde e ilusória de me colocar de fora a atirar pedras como se, pelo Bap­tismo, eu não fosse Igreja? A verdade é que a Igreja sou eu. E a partir daqui, tudo muda: o mal que eu vejo na Igreja é o mal que está em mim.

Vamos, então, cada um assumir a sua verdadeira identidade de cristão, de pessoa de fé, obrigando-se a agir de modo que a diferença entre o que é crente e o que não o é apareça como algo de natural. Trata-se de um elemen­to que identifica: sou/não sou crente.

O sofrimento abate-se sobre todos in­distintamente: o crente e o não crente ambos sofrem, ambos se situam diante de problemas insolúveis, de desgraças repentinas, de horizontes bem escuros: que diferença há entre as posturas do crente e as do não crente?

Diante da violência, do mal e da injus­tiça no mundo, que faz Deus? O crente bate-lhe à porta e reprova-Lhe o silên­cio. O não crente interpreta o silêncio como sinal da sua não-existência. O profeta Habacuc, diante de um povo queixoso do silêncio de Deus, lembra a fidelidade de Deus, manifestada num passado de proximidade permanente, algo que o povo esquecera quando deportado devido à sua própria infi­delidade. Ou seja, responde o profeta: Deus não abandonou o povo, foi o povo que abandonou Deus e se encontra agora em desgraça, pagando pelo seu erro. Mas há-de ser de Deus que virá a força de recuperação do que se perdera. Só que... que direito têm aqueles (nós...) insolentes que se atrevem a pedir contas a Deus, querendo impor-lhe a hora e o modo de Ele intervir? O verdadeiro crente põe a sua confiança no Senhor.

Diante do incompreensível agir misterioso de Deus, Jesus convida os Apóstolos a suplicarem a Deus que aumente a sua pouca fé. Suplicar é aceitar-se necessitado. Logo, aberto à intervenção de Deus. Ao contrário daquele que não pede porque se julga capaz, por si só, de transformar o mundo que o rodeia.

A Igreja vive, ao longo da sua história, esta experiência difícil de se pôr humilde­mente aos pés do seu Senhor, pedindo-lhe que aumente a sua fé. Diante de um mundo quase hermeticamente fechado à acção de Deus, homens e mulheres da Igreja aprendem a confiar em Deus mais que nas suas próprias estratégias. Faze­mos nós parte desse grupo? Senhor, aumenta a nossa fé!
O Prior - P. Abílio Cardoso

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