A FÉ CRISTÃ E A JUSTIÇA SOCIAL
Diálogo com o mundo
contemporâneo
Carlos Anselmo O. Soares
A justiça social da Igreja sustenta-se na
"caridade na verdade (caritasin
veritate)", sendo que este princípio ganha especial forma
operativa nos critérios orientadores da acção moral, entre os quais se
destacam a Justiça e o Bem Comum. Ambos os conceitos, Justiça e Bem Comum,
integram o compromisso em prol do desenvolvimento societário, mormente nas
sociedades em vias de globalização, de que o exemplo mais próxítno é, sem
dúvida, a Europa a que pertencemos.
Cada sociedade elabora e
faz executar um sistema próprio de Justiça, onde, a par de normas reguladoras,
relevam especialmente os valores e princípios emergentes da doutrina cristã,
dentre todos ressal- seu ideal e na prática dos seus princípios. E entende que
o desenvolvimento global terá sempre de ser concebido na "integra- lidade
humana": se não é desenvolvimento do ser humano todo, e de toda a sua
pessoa, não é verdadeiro desenvolvimento. Esta é a mensagem central que nos
foi cometida, válida ontem, hoje e sempre.
A pessoa humana é a
causa e a destinatária das regras sociais, sendo que a evolução tecnológica e
a voracidade dos mercados é motivação para o desenvolvimento, sem que se cuide
de ética nem de moral. Dessa mercantilização do mundo, sem ética nem moral que
as balizem, emergem os lucros que vão conduzir à primária e determinante
distinção dos homens e dos povos, decidindo-se liminarmente, através da sua
apropriação e
Porém, a realidade da
grande maioria dos países - quase diria da sua generalidade! —, está bem longe
dessa filosofia social quase idílica. E por uma razão bem simples, comum a todo
o universo: o lucro das economias dos Estados deriva essencialmente do
somatório dos resultados das economias particulares. E esses resultados da
economia particular, os ditos lucros, têm tido, quase exclusivamente, o destino
da acumulação da riqueza individual, particular ou pública, sem cuidar do que
deveria ser o seu primeiro dever, qual fosse o Bem Comum.
E é aí, nessa ausência
da intervenção dos Estados, que a atitude dos cristãos se torna mais relevante,
mais interventi- va, mais necessariamente presente. Nos hiatos onde os sistemas
não chegam, nas falhas decorrentes da corrupção e da usura dos Estados,
exactamente onde a "longa manus"
da justiça social pública não é eficaz, é aí, nesses vazios, que aparecem os
Bons Samaritanos. Cabe-lhes "dar de comer aos famintos", suprindo
carências e oferecendo o braço em amparo. E quantas vezes o próprio cavalo,
para os transportar até à hospedaria mais próxima... Sempre sem cuidar de
saber quem é o beneficiário do gesto, sempre anônimo para outros anônimos.
Apropriando-me das
palavras do Beato João Paulo II, perante a adversidade imanente dos mais
pobres, direi: “Dar de comer aos famintos, é um imperativo ético para toda a Igreja, é
resposta aos ensinamentos de solidariedade e partilha do seu fundador, o
Senhor Jesus”.
in Aurora do Lima de 11 de Julho de 2013
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