sábado, 13 de julho de 2013

A FÉ CRISTÃ E A JUSTIÇA SOCIAL - Diálogo com o mundo contemporâneo --Dr Carlos Anselmo Soares


A FÉ CRISTÃ E A JUSTIÇA SOCIAL

Diálogo com o mundo contemporâneo

Carlos Anselmo O. Soares


 

 A justiça social da Igreja sus­tenta-se na "caridade na verdade (caritasin veritate)", sendo que este princípio ga­nha especial forma operativa nos critérios orientadores da acção mo­ral, entre os quais se destacam a Justiça e o Bem Comum. Ambos os conceitos, Justiça e Bem Comum, integram o com­promisso em prol do desenvolvimento societário, mormente nas sociedades em vias de globalização, de que o exemplo mais próxítno é, sem dúvida, a Europa a que pertencemos.

Cada sociedade elabora e faz executar um sistema próprio de Justiça, onde, a par de normas reguladoras, relevam especial­mente os valores e princípios emergentes da doutrina cristã, dentre todos ressal- seu ideal e na prática dos seus princípios. E entende que o desenvolvimento global terá sempre de ser concebido na "integra- lidade humana": se não é desenvolvimen­to do ser humano todo, e de toda a sua pessoa, não é verdadeiro desenvolvimen­to. Esta é a mensagem central que nos foi cometida, válida ontem, hoje e sempre.

A pessoa humana é a causa e a des­tinatária das regras sociais, sendo que a evolução tecnológica e a voracidade dos mercados é motivação para o desenvol­vimento, sem que se cuide de ética nem de moral. Dessa mercantilização do mun­do, sem ética nem moral que as balizem, emergem os lucros que vão conduzir à primária e determinante distinção dos homens e dos povos, decidindo-se limi­narmente, através da sua apropriação e

Porém, a realidade da grande maioria dos países - quase diria da sua generali­dade! —, está bem longe dessa filosofia social quase idílica. E por uma razão bem simples, comum a todo o universo: o lucro das economias dos Estados deriva essen­cialmente do somatório dos resultados das economias particulares. E esses re­sultados da economia particular, os ditos lucros, têm tido, quase exclusivamente, o destino da acumulação da riqueza indivi­dual, particular ou pública, sem cuidar do que deveria ser o seu primeiro dever, qual fosse o Bem Comum.

E é aí, nessa ausência da intervenção dos Estados, que a atitude dos cristãos se torna mais relevante, mais interventi- va, mais necessariamente presente. Nos hiatos onde os sistemas não chegam, nas falhas decorrentes da corrupção e da usu­ra dos Estados, exactamente onde a "lon­ga manus" da justiça social pública não é eficaz, é aí, nesses vazios, que aparecem os Bons Samaritanos. Cabe-lhes "dar de comer aos famintos", suprindo carências e oferecendo o braço em amparo. E quan­tas vezes o próprio cavalo, para os trans­portar até à hospedaria mais próxima... Sempre sem cuidar de saber quem é o be­neficiário do gesto, sempre anônimo para outros anônimos.

Apropriando-me das palavras do Beato João Paulo II, perante a adversida­de imanente dos mais pobres, direi: “Dar de comer aos famintos, é um imperativo ético para toda a Igreja, é resposta aos ensinamentos de solidariedade e parti­lha do seu fundador, o Senhor Jesus”.
in Aurora do Lima de 11 de Julho de 2013
 

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