segunda-feira, 8 de julho de 2013

NÃO SE SECULARIZEM AS FESTAS DOS SANTOS


NÃO SE SECULARIZEM

AS FESTAS DOS SANTOS

Por esta altura, um pouco por todo o país, surgem, com toda a pujança, as festas pa­tronais. São manifestações cheias de valores: dos artísticos aos conviviais, dos económicos aos espirituais. Mas nem tudo é ouro de lei.

Há tempos, a Ana Luísa, uma adolescente contestatária, mas arguta e empenhada na vida da Paróquia, disparava-me: “Que Igre­ja é esta que faz festa pelo assassinato dos seus mártires? Não é uma Igreja louca e de loucos?”.

Será, se não compreendermos o sentido da festa cristã. Para muitos, festa significa tão somente exterioridade, folguedo, diversão, quando não leviandade, excitação e ultra­passar o risco da moralidade. É um não pôr limites aos limites habituais. Neste sentido, sim, seria loucura. Loucura pecaminosa! Seria sacrílego que a Afurada celebrasse o martírio de São Pedro, que Barcelos fizesse festa por causa da Cruz e que em Viana se exaltasse a… Agonia. É verdade: bombos, foguetes, far­turas, «majorettes», música «pimba» e brejeira para comemorar… a Agonia!

Mas a festa cristã é outra coisa. Etimologica­mente, a palavra latina que lhe deu origem significa ritual, reactualização de um aconte­cimento passado e sua elevação à categoria de simbólico. Como tal, de exemplar. Ou de transformação do tempo prosaico em tempo salvífico, poético, cheio de sentido existen­cial. Por isso, cristãmente, a festa é a expe­riência dos acontecimentos nos quais Deus realiza e manifesta a salvação.

Se lhe retirarmos esta dimensão, ficamos com um monstro nos braços. O que está lar­gamente a acontecer. Em grande parte por­que autarquias e comissões auto-nomeadas, a quem só interessa o folguedo, operaram uma tal metamorfose que da festa cristã fi­cou apenas… o nome do santo. Na melhor das hipóteses! E são hoje as “festas do Con­celho” ou a “Romaria de qualquer coisa”. Em nome do pluralismo e da tolerância para com os não crentes, caiu-se num tal laicismo cuja fundamental preocupação é evitar, osten­sivamente, que nada de religioso apareça. Vejam-se, por exemplo, os cartazes com que se anunciam ou as iluminações nocturnas. Enfim, festa «religiosa» sem santo e, muito mais, sem santidade…

Mas este laicismo rançoso representa, ob­jectivamente, uma grave lacuna de conheci­mento das razões pelas quais a comunidade faz isto naquelas datas. Como tal, fica um acto privado de razões ou de fundamentos. E a falta de códigos de reconhecimento gera o vácuo, o sem-sentido e, mais tarde ou mais cedo, a repulsa. Creio bem que para salvar­mos as festas populares, só há uma via: sal­varmo-nos deste laicismo provinciano, gros­seiro, bacoco e parolo.

+ Manuel Linda, 2013-06-13

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