RUBENS MARTINS
Seu nome
completo é Pedro Paulo Rubens Martins, nascido em Santa Maria Maior, em
13/3/1866 e foi morador na Abelheira, no sítio do Souto. Era filho do pintor
espanhol, radicado desde criança em Viana, Julian Martinez, de quem existem
algumas obras de arte espalhadas por todo o lado.
A morte de
Julian Martinez, decorador, pintor de alegorias religiosas, algumas das quais
existem, embora com os seus defeitos, nos tectos dos templos, retratista de
especialidade, foi muito chorada, pois para além de ser um artista, era um
homem bom e, por vontade testamentária, o féretro foi conduzido por seis pobres
internados na Caridade tendo-se incorporado no préstido muitos pobres.
É
importante falar do pai, porque isso poderá ajudar a descobrir o filho.
Rubens
Martins seguiu a profissão do pai e, ainda jovem, apresentou ao público
trabalhos de inegável talento, merecendo os melhores encómios, embora, nesta
cidade, nunca se dê valor aos artistas da terra.
De alguns
pormenores, porque me parecem interessantes, vou passar a transcrever um texto
que me chegou às mãos e que é de uma neta de Rubens Martins, D. Natália
Cardona, mãe de treze filhos.
«Do
casamento de Julian Martinez e Maria Rodrigues (meus bisavós) nasceram dois
filhos: Maria e Pedro Paulo Rubens Martins (1). Do casamento deste com Maria
Angélica de Freitas Tinoco (2) (meus avós), nasceram quatro filhos: Maria das
Dores, Antônio Martins Tinoco (meu pai), Henriqueta e José.
Meus avós
viveram, durante longos anos, na Rua de S. José (Casa dos Tinocos, grandes
beneméritos da cidade), depois vieram, com seus filhos, viver no Largo Infante
D. Henrique, n.e 29. Aí estiveram algum tempo, mas, entretanto,
adquiriram uma casa com quintinha, no lugar da Abelheira, mesmo em frente à
Casa dos Abrunhosa. Lembro-me de me dizerem que essa casa era pertença de duas
irmãs. Era uma casa grande, com uma grande galeria envidraçada que meu avô
adaptou para seu atelier de pintura. Era aí que se isolava dias e dias,
pintando continuamente. Aí descansava e idealizava os seus trabalhos.
Nessa casa,
nascemos eu e as minhas três primas (filhas de sua filha Henriqueta). Entre
minha casa e esta, passou-se parte da minha infância. Por vezes, deixavam-nos
estar a ver meu avô pintar, mas era quase como estar em frente a um Sacrário.
Caladinhas, observávamos a mistura das cores na palheta. Ele gostava de pintar
a óleo, embora também fizesse aguarelas e muitos estudos a crayon. Meu bisavô
pintava por vocação. Foi um grande pintor e retratista. Meu avô estudou nas
Belas Artes, pois meu bisavô queria que ele continuasse a sua grande paixão: a
pintura.
Esta casa
era rodeada por uma grande vinha e o lugar era grande, mas como na altura não
havia luz eléctrica, nem água, tínhamos água própria que se retirava de um poço
existente lá e também de uma pena de água comprada at Abrunhosa.
Meus pais,
quando casaram, foram viver para a Rua da Bandeira, para un pequena casa
recuada, mesmo em frente à igreja da paróquia. Mais tard mudámos para a Avenida
dos Combatentes e, mais tarde ainda (tinha eu no' anos), tivemos a nossa
própria casa (a casa onde está instalada a Singer).
Meu pai
trabalhava bem e foi o gerente da Firma João Alves Cerqueira.
Entretanto,
meus avós mudaram para a casa do Largo Infante D. Henrique. M( avô foi
professor na Escola Comercial e Industrial que, na data, se encontra instalada
no antigo Ciclo Preparatório Freu Bartolomeu dos Mártires. Pouco tem| esteve
aí, recolheu-se em casa, dedicando-se de novo à pintura. Era amigo íntin do
Director da «Aurora do Lima», Sr. Bernardo Silva, e de Salvato Feijó, com <
quais se encontrava no Café do Zé (agora Café Sport, na Rua dos Manjovos). ,
conversavam, trocavam ideias e meu avô e o Sr. Bernardo eram os primeiros a I
os rascunhos das revistas feitas por este último.
Com esta
resolução de meus avós, meu pai vendo que a casa se deteriorav falou com eles e
com as irmãs e a casa passou para ele.
Aproveitando
unicamente os alicerces, remodelou-a totalmente sob orientação projecto de
Chico Passos, desenhista muito conhecido nessa época (funcionário ( Direcção de
Estradas) e tornaram-na numa bela casa à antiga portuguesa. No sida galeria
envidraçada, onde meu avô pintava, ficou a varanda com pérgola, outroí cheia de
trepadeiras e cor que tanto a embelezavam.
Havia lá um
moinho de pedra (lugar das nossas brincadeiras), um tanque i água sempre cheio
e uma grande pia, que ainda lá se encontram, embora noul sítio.
O moinho
foi retirado, pois o quintal foi também remodelado e surgiu com no traçado. Só
foi aproveitado o pomar virado à casa dos Balinhas, na parte trase da casa, e a
vinha que existia encostada aos muros que rodeavam a cas Fizeram-se
arruamentos, construiram-se escadas em pedra que ligavam as part de terreno
cultivado. Novas árvores, mais vinha e jardim. Só mais tarde, em 19^ foi construída
a garagem existente.
A nossa
casa de campo estava pronta e a nossa vida era repartida entre casa da Avenida
e a casa da Abelheira.
Como eu
casara para casa, acompanhada de meus pais, filhos e maric gozava muito desta
vida (enquanto pudemos mantê-la).
Mais tarde,
meu pai adoeceu e houve um pequeno período em que a min pequena família (meu
marido e dois filhos), vivemos lá.
Entretanto,
meu pai faleceu em 1947, com 52 anos. Grande período de dor luto. Passados uns
tempos, minha mãe pensou em alugá-la mais por amizade q por necessidade (3).
Alugou-se à família Dr. Paula Santos e, depois, ao Dr. Li Lacerda, um dos
directores dos Estaleiros Navais. Por necessidade de largue
À Mariinha (1):
1.
Todos temos de
morrer, Isso faz parte da vida,
E para não mais sofrer Já pensamos na partida.
2.
E assim
aconteceu, Depois de tanto sofrer! Porque ela «não morreu», Deixou só de cá
viver!
Ao Sagrado Coração de Jesus
1.
Quando subo a montanha Logo pela manhãzinha,
Sinto força tamanha
Que julgo não ser a minha.
2.
Subir, não
custa nada, Quando é por devoção, Subindo na estrada Nem se sente o coração.
3.
Indo ao Templo
rezar,
Ficam aliviados,
Para logo lá tornar Sem sentir cansados.
3.
Foi para o Céu
descansar Da vida que cá levou,
E temos de
concordar
Que foi «corpo» que cansou!
4.
Ela foi
martirizada,
Eu bem sei o motivo,
Era assim já marcada No mundo em que vivo!
4.
As Veigas e os
Montes, A Praia e o «Lima»,
São as principais fontes Que se vêem lá de cima.
5.
E se for ao
Miradouro,
Vai ficar maravilhado,
O que vê, é um tesouro Que em si fica gravado.
6.
E como
recordação Vai levar dentro de si,
O Sagrado Coração Que eu nunca esqueci!
2/5/1986
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