A Luz da Fé
A fé já não é o "ópio do povo", nem caminho de trevas, nem o limite das nossas certezas racionais, mas "lumen fidei" que vem do Alto que nos leva a ver com olhos novos, a falar o vocabulário de esperança, a ficar em silêncio quando for o caso e a ouvir a linguagem de Deus ou dos outros como quem escuta com vontade de entender e compreender que para além dos nossos limites da razão há sempre uma razão por descobrir que nos ilumina o presente e para se fazer estrela do nosso caminho tão carecido de luz.
O Ano da Fé serve para os que crêem aprofundarem aquilo em que acreditam e saibam compreender melhor a religião e a adesão tomando um conhecimento autêntico da verdade e do Amor.
Longe de pensarmos que a fé é apenas um "sentimento que vai e vem". É verdade que o amor tem a ver com a nossa afectividade, mas para a abrir a um caminho que faz sair da reclusão no próprio ou com base na relação com a verdade e com os outros.
Quem assim vive e se sente iluminado pela fé reconhece que é uma luz diferente que ilumina o seu próprio caminhar com os outros até atingir a meta da consumação.
É esta fé que sabe escutar e sabe ver que para além de todas as razões há outra que está por descobrir que é o mistério. "Se acreditares verás a Glória de Deus" (Jo 11, 40).
Ver e ouvir assim é seguimento seguro e refúgio no coração de Deus, andando em frente pelo Caminho, Verdade e Vida apontado pelo filho unigénito do Pai e confessá-lo a tempo e fora a tempo como dizia S. Paulo.
A fé que se vive ou se experimenta chega mais depressa que a razão ao profundo do ser humano que há em nós e nos ilumina conduzindo o diálogo harmonioso e salutar com as razões da ciência e as nossas razões. O beato João Paulo II mostrou como "a fé e a razão se reforçam mutuamente".
A fé que ilumina, é uma fé viva, uma palavra que resplandece no interior do homem, segundo Stº Agostinho ela "é luz do amor, própria da fé" e ilumina as perguntas do "nosso tempo acerca da verdade".
A fé faz ver Deus nas coisas e discernir o que nas coisas existe de mal que não são de Deus e do bem que é próprio de Deus.
Os Magos guiados por uma estrela, por uma luz foram encontrar o Messias e Deus teve piedade destes Magos como tem piedade daquele que vive hoje, sozinho ou em comunidade, no silêncio, à procura de Deus. Quem O procura sempre o há-de encontrar. "Batei, batei e abrir-se-vos-á". É que a humildade deixa-nos ser tocados por Deus.
Animado do espírito da fé, acreditamos e, por isso, vos falei e vós ouvistes e acreditastes até sermos transfigurados na imagem de Cristo, como luz que se reflecte de rosto em rosto como o rosto de Moisés que reflectiu a Glória de Deus.Esta visão é como a luz do Círio Pascal de onde se acendem muitas outras velas que iluminam e transmitem o calor da fé como uma semente que poderão encher o mundo de frutos da fé.
Cada cristão tem de espelhar essa fé através de atitudes e comportamentos, princípios que brotam dessa fé que vivemos e que nos deve deixar respirar um ar de esperança e de Caridade.
A fé só se compreende quando ela é partilhada. É um dom de Deus que não o podemos guardar para nós, mas vivida de tal modo que os outros vão querer viver numa relação de Amor a Deus e ao próximo, pois ninguém poderá salvar-se sozinho.
Através dos sacramentos transmitimos a fé porque eles nos conduzem às origens como corpo e espírito, interioridade e relação. Tudo começa no Baptismo, Crisma e Eucaristia, vivendo penitencialmente as nossas fraquezas, fragilidades apagadas pela Misericórdia infinita de Deus para a qual nos voltamos com a oração do Pai Nosso.
A doutrina Paulina da caridade e integridade da mesma, há um só corpo e um só espírito. Daí vivermos para servir a cidade dos humanos, construindo o bem comum tão necessário à realização humana, à felicidade de cada um, da família e da Comunidade.
Eis uma Luz para a vida social onde o homem quando a quiser apagar ela ilumina mais como a semente do sangue dos mártires.
Esta Luz não nos envergonha do que somos e dar-nos-á a todos uma força singular que só poderá ser compreendida com a fé, ainda que seja uma consolação mesmo no meio do sofrimento. Ao mesmo tempo fará que não nos esqueçamos a diversidade do sofrimento no mundo e a sermos mediadores um pouco ao modo de S. Vicente de Paulo, S. João de Deus, S. Francisco de Assis, Beata Teresa de Calcutá. Não podemos com a veleidade de resolvermos tudo definitivamente, mas para levarmos alívio, esperança, conforto e apoio em tudo o que estiver ao nosso alcance… e quando não pareça que fizemos alguma coisa útil, só a Deus pertence colher os frutos desde que façamos o que devíamos, a nossa consciência sentir-se-á feliz porque fez reavivar a esperança e fazer alguém feliz podendo dizer como S. Lucas: "Feliz de ti que acreditaste" (Lc. 1, 45).
Por outro lado podemos ver o exemplo bíblico mais importante para os cristãos que é o da fé de Maria quando disse: "Eis aqui a escrava do Senhor" e recebeu frutos de fé e de alegria para a humanidade que se elevou pela iniciativa de Deus.
Esta é a minha fé; a fé que me faz viver e a fé na qual gostava de morrer.
Conf.
Padre Artur Coutinho
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