A doutrina social da Igreja já
faz parte do seu ADN católico?
Nesta entrevista com María Teresa Compte, conheça melhor este âmbito do
catolicismo, necessário para "dar razões da própria fé" na sociedade
atual
12.09.2013
Enrique Chuvieco
Enrique Chuvieco
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María Teresa Compte, professora e colaboradora em
diversos meios de comunicação, defende que a doutrina social da Igreja (DSI)
opera na área econômica com a lógica da gratuidade, mas não de fora, e sim a
partir de dentro da economia.
Aos católicos que valorizam apenas os aspectos sociais da Igreja, ela recorda, com palavras do Papa Francisco, que a Igreja "não é uma ONG" e não podemos renunciar aos seus fundamentos.
A respeito das questões doutrinais, às vezes desprezadas inclusive dentro da instituição eclesial, María Teresa sublinha que elas servem para fundamentar a racionabilidade da nossa fé, que precisa ser formulada para ser comunicada.
O Papa Francisco insiste em envolver todos no trabalho com quem sofre. Você acha que ele está nos dizendo que esquecemos da caridade e, por conseguinte, da doutrina social da Igreja?
É evidente que a doutrina social ainda não está incorporada ao DNA de muitos católicos; em muitos seminários, inclusive, ela nem é estudada. Existem aqueles que a confundem e identificam, intencionalmente ou não, com um inventário ou uma análise sociológica.
Aos católicos que valorizam apenas os aspectos sociais da Igreja, ela recorda, com palavras do Papa Francisco, que a Igreja "não é uma ONG" e não podemos renunciar aos seus fundamentos.
A respeito das questões doutrinais, às vezes desprezadas inclusive dentro da instituição eclesial, María Teresa sublinha que elas servem para fundamentar a racionabilidade da nossa fé, que precisa ser formulada para ser comunicada.
O Papa Francisco insiste em envolver todos no trabalho com quem sofre. Você acha que ele está nos dizendo que esquecemos da caridade e, por conseguinte, da doutrina social da Igreja?
É evidente que a doutrina social ainda não está incorporada ao DNA de muitos católicos; em muitos seminários, inclusive, ela nem é estudada. Existem aqueles que a confundem e identificam, intencionalmente ou não, com um inventário ou uma análise sociológica.
De João XXIII até nossos dias, os papas sempre insistiram em sua eficácia e em sua natureza evangélica e evangelizadora. Foi Bento XVI quem, em sintonia com o Concílio Vaticano II, dedicou uma encíclica à caridade, como caminho da DSI.
O Papa Francisco se vincula a esta tradição com uma linguagem mais analógica, através do que a realidade torna mais evidente. Talvez isso esteja nos ajudando a enxergar melhor, mas não podemos renunciar às convicções e razões que nos levam a isso; o Papa Francisco nos lembra deste aspecto cada vez que afirma que a Igreja não é uma ONG.
Muitas vezes, o Papa tem um enfoque econômico mais humano, aludindo à responsabilidade na utilização dos bens e contra a "ditadura da economia, inspirada em formas neoliberais", que aumentam a pobreza. Em que aspectos da DSI se enquadram estas palavras?
A expressão "ditadura econômica" foi utilizada pela primeira vez em 1931 por Pio XI, na "Quadragesimo Anno", referindo-se aos processos de concentração da riqueza e do poder econômico naqueles que conduziam o capitalismo industrial.
Bento XVI voltou ao tema, ao pedir, mediante o termo "democracia econômica", a participação efetiva na ordem econômica das empresas, com fins diferentes dos que a mera lógica mercantilista propõe.
Em Lampedusa, o Papa Francisco insistiu no dever dos católicos de conscientizar-se de uma ordem que exclui e marginaliza quem não tem nada a oferecer. A resposta, proposta pela "Caritas in veritate", é introduzir a lógica do dom na ordem econômica, com a clara vontade de produzir valor.
A pobreza tem suas causas, entre elas um sistema econômico que só funciona se os bens da oferta e da demanda têm um preço que se possa pagar, pois o mercado não está interessado na benevolência. A DSI, como nos explica a "Caritas in veritate", opera a partir de outra lógica: a da gratuidade – mas não fora da ordem econômica, e sim dentro dela.
Que aspectos um político cristão deveria viver com relação à sociedade e dentro de suas próprias formações políticas?
Ser fiel à sua consciência, ser virtuoso no exercício da sua profissão, ser livre e não se esquecer jamais de que ele tem uma grande responsabilidade, e está obrigado a prestar contas das suas ações e omissões.
Ao dizer que "a Igreja não é babá dos cristãos", o Papa apela à responsabilidade dos católicos, para que tenham critérios claros sobre as questões atuais e não dependam unicamente das diretrizes eclesiais. Que aspectos da DSI os católicos deveriam conhecer melhor?
Acho que deveriam conhecer todos os aspectos, pois a DSI é uma desconhecida. Quanto à primeira parte da pergunta, nego a maior: o discernimento e a liberdade de consciência não são livre arbítrio. Não podemos esquecer que o sujeito da DSI não são só os leigos, mas a Igreja inteira.
Com sua linguagem direta e simples, o Papa pediu que todos nós sejamos protetores da criação. O que a DSI diz sobre o cuidado do meio ambiente?
A Criação não é o meio ambiente, mas o mundo visível, do qual a natureza é apenas um elemento. Deus colocou a vida e o mundo nas mãos do ser humano, e somos chamados por Ele a fazer da vida e do mundo lugares dignos do homem.
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