Pão da vida
Padre Manuel Mendes
Não duvidar
É na
tragédia da Cruz que se funda a nossa salvação. Não há dúvidas que, em Cristo,
vale a fé que actua pelo amor. Ter um olhar crente significa reconhecer a Sua
presença na vida quotidiana e dar tes¬temunho d’Ele; contudo, quando se confia
em Jesus, isso pode custar sangue, suor e lágrimas. Ao assumirmos as dores do
pró¬ximo, sem termos medo, mesmo que sur¬jam fracassos aparentes, este estilo
de vida constitui um caminho seguro de conversão. Quando Jesus veio da Galileia
ao Jordão, também se colocou na fila, para manifestar a Sua comunhão com o
povo.
Por
via de um simples documento, mas indispensável, para uma criança física e
afectivamente fragilizada, foi-nos dado esperar pacientemente longas horas num
serviço oficial até às cinco da tarde; e diga- -se que fomos atendidos com
delicadeza. Ainda não foi possível consegui-lo, pois o seu pai está
desempregado. Não se trata de pedir algum subsídio, mas de permitir assim ao
menino o acesso à escolaridade obrigatória. O pequeno, que estava em risco,
está devidamente sinalizado e com processo de promoção e protecção em curso.
Por
vezes, parece que os passos são mal andados e infrutíferos. Foi nessas
andan¬ças que também levámos o J. Cá para ir a tempo de se despedir da sua mãe,
inactiva e deprimida; pois, ao cabo de cinco anos teimava em regressar a
África, onde tinham ficado mais filhos. Da rua foi levan¬tada por samaritanos
que a encaminharam bem para um pastor atento ao seu rebanho, em zona com
notórias misérias. Por nossa petição, foi acolhida pelas Missionárias da
Caridade, cuja missão junto dos pobres é um sinal exemplar de uma Igreja de
vivos. O rapaz tem medicação crônica para pato¬logia cardíaca, pelo que não
pôde regres¬sar. A despedida proporcionou-se, mas deixou-nos alguma incerteza
do seu rumo, já que o adolescente precisa muito de ser acompanhado.
A
confiança na Providência ainda nos reservou outro encontro decisivo, numa
situação de perigo, com outra família desempregada. Aquele dia, em que
escutá¬mos os seus lamentos, era o fim do prazo para pagar a renda do modesto
abrigo. Não se podia falhar nem adiar. Estando o tugúrio desprovido de trastes,
chegaram- -nos entretanto alguns, mesmo a propósito. Para além daquela partilha
e de alimentos básicos, nesses lugares também ficaram agasalhos. Nestes
trabalhos de remenda- gem, nalgumas ocasiões esbate-se a cora¬gem, pelo
esmorecer da confiança, perante entraves e recuos num panorama de braços caídos
e feridos, com tragédias humanas de desânimo. Homem de pouca fé, porque
duvidas?!
□in Gaiato de 29 de junho de 2013
Sem comentários:
Enviar um comentário