sábado, 14 de setembro de 2013

Pão da vida - Não duvidar


Pão da vida

Padre Manuel Mendes

Não duvidar

É na tragédia da Cruz que se funda a nossa salvação. Não há dúvidas que, em Cristo, vale a fé que actua pelo amor. Ter um olhar crente significa reconhecer a Sua presença na vida quotidiana e dar tes¬temunho d’Ele; contudo, quando se confia em Jesus, isso pode custar sangue, suor e lágrimas. Ao assumirmos as dores do pró¬ximo, sem termos medo, mesmo que sur¬jam fracassos aparentes, este estilo de vida constitui um caminho seguro de conversão. Quando Jesus veio da Galileia ao Jordão, também se colocou na fila, para manifestar a Sua comunhão com o povo.

Por via de um simples documento, mas indispensável, para uma criança física e afectivamente fragilizada, foi-nos dado esperar pacientemente longas horas num serviço oficial até às cinco da tarde; e diga- -se que fomos atendidos com delicadeza. Ainda não foi possível consegui-lo, pois o seu pai está desempregado. Não se trata de pedir algum subsídio, mas de permitir assim ao menino o acesso à escolaridade obrigatória. O pequeno, que estava em risco, está devidamente sinalizado e com processo de promoção e protecção em curso.

Por vezes, parece que os passos são mal andados e infrutíferos. Foi nessas andan¬ças que também levámos o J. Cá para ir a tempo de se despedir da sua mãe, inactiva e deprimida; pois, ao cabo de cinco anos teimava em regressar a África, onde tinham ficado mais filhos. Da rua foi levan¬tada por samaritanos que a encaminharam bem para um pastor atento ao seu rebanho, em zona com notórias misérias. Por nossa petição, foi acolhida pelas Missionárias da Caridade, cuja missão junto dos pobres é um sinal exemplar de uma Igreja de vivos. O rapaz tem medicação crônica para pato¬logia cardíaca, pelo que não pôde regres¬sar. A despedida proporcionou-se, mas deixou-nos alguma incerteza do seu rumo, já que o adolescente precisa muito de ser acompanhado.

A confiança na Providência ainda nos reservou outro encontro decisivo, numa situação de perigo, com outra família desempregada. Aquele dia, em que escutá¬mos os seus lamentos, era o fim do prazo para pagar a renda do modesto abrigo. Não se podia falhar nem adiar. Estando o tugúrio desprovido de trastes, chegaram- -nos entretanto alguns, mesmo a propósito. Para além daquela partilha e de alimentos básicos, nesses lugares também ficaram agasalhos. Nestes trabalhos de remenda- gem, nalgumas ocasiões esbate-se a cora¬gem, pelo esmorecer da confiança, perante entraves e recuos num panorama de braços caídos e feridos, com tragédias humanas de desânimo. Homem de pouca fé, porque duvidas?!
□in Gaiato de 29 de junho de 2013

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