sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Muitos católicos ignoram o tema da ecologia, enquanto outros buscam respostas em crenças que se afastam da fé cristã


Existe uma ruptura entre a fé e a ecologia?

Muitos católicos ignoram o tema da ecologia, enquanto outros buscam respostas em crenças que se afastam da fé cristã

12.09.2013


José Miguel Yturralde


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Quando eu estava na faculdade, lembro que vários estudantes de biologia se afastaram da sua cristã ao pensar que ela era incompatível com o conhecimento científico que iam adquirindo. Em um encontro, um colega tirou sarro da Igreja por nos ensinar "a ideia idiota de que o mundo foi criado em 7 dias". Certamente, em seu pobre conhecimento religioso, ninguém lhe explicou que o Gênesis é um livro escrito com muito simbolismo e que a Bíblia em geral é um manual de salvação, não uma enciclopédia acadêmica.

Do primeiro capítulo do Gênesis, podemos aprender, por exemplo, que Deus é o criador do universo. Sem importar se o processo demorou milhões de anos, Ele continua sendo seu autor. Ao terminar cada dia, lê-se que tudo o que foi criado "era bom"; e, quando Deus cria o ser humano, Ele o faz "muito bom".

No segundo capítulo, está escrito que o homem deve cultivar e cuidar da criação. Isso seria uma excelente fonte de inspiração para qualquer cristão estudante de ciências biológicas, mas nem sempre é o que acontece.

Parece existir uma ruptura entre e ecologia no mundo. Muitos católicos não se importam com o meio ambiente e não fazem nada para cuidar dele. Não percebem que ser administradores responsáveis da criação é uma boa maneira de agradar Deus.

No outro extremo, existem os apaixonados pela Mãe Terra, que pensam não encontrar nos ensinamentos da Igreja uma preocupação suficiente com relação à natureza. Isso não significa que a Igreja não diz nada sobre o cuidado da criação; de fato, o Compêndio da Doutrina Social da Igreja tem um capítulo completo dedicado ao tema, mas quem o leu? Então, estas pessoas preenchem seu vazio com a Nova Era, a "ecologia profunda" ou qualquer outra filosofia estranha.

É verdade que é complicado, atualmente, encontrar textos cristãos que reflitam sobre o problema ecológico. Levo anos pesquisando sobre o tema e só encontrei 8 livros, a metade de autores protestantes e os demais de autores católicos, mas que foram questionados (alguns gravemente) por não se aterem ao magistério da Igreja.

Um dos autores católicos que mais refletiu sobre o tema foi Pierre Teilhard de Chardin (1881-1955), sacerdote jesuíta, paleontólogo e filósofo. Porém, suas obras apresentavam ambiguidades e erros doutrinais e acabaram sendo proibidas.

No entanto, mais recentemente, alguns teólogos resgataram aspectos da sua teologia que não contradizem os ensinamentos da Igreja, e inclusive o Papa Bento XVI se referiu de maneira positiva ao teólogo francês durante uma homilia em Aosta (Itália), em 2009:

"A função do sacerdócio é consagrar o mundo a fim de que se torne hóstia viva, para que o mundo se torne liturgia: que a liturgia não seja algo ao lado da realidade do mundo, mas que o próprio mundo se torne hóstia viva, se torne liturgia. É a grande visão que depois teve também Teilhard de Chardin: no final, teremos uma verdadeira liturgia cósmica, onde o cosmos se torne hóstia viva.

E peçamos ao Senhor que nos ajude a ser sacerdotes neste sentido, para ajudar na transformação do mundo, em adoração a Deus, a começar por nós mesmos. Que a nossa vida fale de Deus, que a nossa vida seja realmente liturgia, anúncio de Deus, porta na qual o Deus distante se torna o Deus próximo, e realmente dom de nós mesmos a Deus."

Um dos seguidores de Chardin foi o sacerdote passionista Thomas Berry (1914-2009), famoso historiador cultural e "ecoteólogo". Este autor mistura a doutrina católica com a ecologia profunda, a cosmovisão dos nativos americanos e o xamanismo. Definitivamente, suas obras não são recomendáveis para o leitor que conhece pouco de sua , pois poderia se confundir.

Seguindo esta mesma linha, encontra-se o ex-sacerdote dominicano Matthew Fox (1940-). Ele é um dos principais expoentes do movimento chamado "Espiritualidade da Criação", inspirado em alguns místicos católicos, mas que inclui critérios do budismo, judaísmo, sufismo e tradições indígenas, buscando um "ecumenismo profundo".
 
 





Em 1983, a hierarquia da Igreja começou a analisar a linha teológica de Fox e ele foi proibido de lecionar durante um ano. Em 1993, foi expulso dos dominicanos por desobediência e entrou na Igreja Episcopal. Sua posição teológica pode ser categorizada dentro do monismo e do paneteísmo (não confundir com panteísmo).

Contemporâneo a Fox, temos o ex-sacerdote franciscano brasileiro Leonardo Boff (1938-). Ele é um dos autores mais famosos da Teologia da Libertação, mas, desde que participou da cúpula do Rio de Janeiro sobre o meio ambiente (1992), sua reflexão se inclinou fortemente à ecologia. Neste período, ele decidiu abandonar a Igreja, depois de ser sancionado pela Congregação para a Doutrina da .

Boff faz uma distinção entre ecologia ambiental, social e mental, mas, segundo ele, todas devem culminar em uma ecologia integral. Também defende o conceito de paneteísmo, que indica que tudo está em Deus e Deus está em tudo – diferente do panteísmo, segundo o qual tudo é Deus.

Como observamos, a maioria dos autores católicos que refletem sobre a ecologia o faz à margem da ortodoxia e, em alguns casos, de maneira abertamente oposta aos ensinamentos da Igreja.

A única maneira de garantir que um texto que vamos ler está livre de erros em matéria de doutrina e moral católica, é que conte com um selo oficial de aprovação da Igreja. O "imprimi potest" ("pode ser impresso") se aplica aos membros de ordens religiosas e significa que a obra foi revisada por um superior maior.

O "nihil obstat" ("nada se opõe") indica que a obra foi analisada e aprovada por um especialista da diocese e não foram encontrados erros doutrinais ou morais nela. Finalmente, a obra recebe o "imprimatur" ("imprima-se"), que é a aprovação final do bispo.

Dos livros que encontrei, infelizmente nenhum conta com estes "selos de qualidade", razão pela qual devem ser lidos com cautela, contrastando-os sempre com o ensinamento oficial da Igreja.

É claro que ainda temos muito trabalho pela frente, para que, no futuro, nossos filhos encontrem em suas universidades textos e professores que os ajudem a entender que não há maior motivação para ser ecologista que a gratidão a Deus pelo dom da Criação.


 

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