sábado, 27 de abril de 2013

O Cheiro das Ovelhas. Papa Francisco. O Odor da Santidade


O Cheiro das Ovelhas


Em dias ditos maiores e crescen­tes de luz, pois a Encarnação culmi­na no Mistério Pascal, o orvalho do céu persistiu em encharcar prados verdejantes, para além de arrozais. A água regeneradora e purificado- ra, no entanto, é um bem escasso e a defender. Também no cuidado dos animais é evidente que se exige para que haja salubridade, embora os javalis que ainda se vêem por estas serranias, lá se governam. Entre nós, ajudar e tratar o gado é tarefa rotativa e imperativa; porém, limpar currais de ovelhas e porcos não é apelativo. Aqueles Rapazes a quem se vai destinando este ser­viço, quando a incumbência é mais suja, ficam imundos e repelidos pelos companheiros. É um dos tra­balhos custosos que os pode pre­parar para desafios duros. Contu­do, diga-se que todo o serviço humano, benéfico, tem igual digni­dade. Sendo a maioria deles provenientese das amálgamas e periferias urbanas, é salutar sentirem eles próprios os cheiros e sons das cri­aturas, e úteis, como os animais domésticos. Desde o princípio, Deus viu que isto era bom. É preci­so, desde cedo, aprender a comer o pão com o suor do rosto.

Ocorreu-nos, nestas andanças tão baixas, o retrato daquela primei­ra dúzia de mendigos, guiados pelo Pobrezinho de Assis, com as suas grosseiras indumentárias. Certo é que, assim, naquela pobreza, foram outros renovadores da humanida­de. Embrenhados no nosso ambi­ente pastoril, chegou um apelo do novo Pastor eclesial, universal, Francisco: Sede pastores com o cheiro das ovelhas.

 
 
 
Assim, num âmbito mais huma­no, do nosso modus vivendi, vai havendo, de forma recorrente, uma preocupação quotidiana, que é a enurese. A garotada, com as corre- rias e os chutos na bola e até nas canelas, manifesta sede abundan­te. E, mesmo com chuva a potes, abrem muitas vezes o bico para a bica corrente. Não vem dia ao mun­do, antes do leite matinal, em que alguns miúdos não tenham de levar o seu fardo molhado até à lavandaria, aqual não tem paranço. A incontinência não- é exclusiva dos pequenitos da casa-mãe. Há progressos humanos que são lentos e gradu­ais, considerando também motivos emocionais. Um deles, pequeno, exige banhos amiúde, logo que se escuta: - F. está borra­do, outra vez...

Parece que derivámos para coisas banais, mas tínhamos em vista, sim, a grande lição do serviço que Jesus deu naquele dia memorá­vel da Sua despedida convivial. No corrente ano, antes da Ceia do Se­nhor, o reboliço para o lava-pés foi por demais evidente. Do vestuário que nos vai chegando, foram esco­lhidas paveias, a preceito, de rou­pas de ver a Deus, sendo uma exi­gência diária de quem deles cuida maternalmente. No momento pró­prio, no supedâneo do altar, foram chamados pelos nomes doze garo­tos, reguilas, para se descalçarem. Na sua vez, sentados num banquito de madeira, aos nossos olhos e sob o olhar atento dos participantes, foram-se desfiando no nosso cora­ção histórias de vidas feridas, cujas lágrimas afinal foi a água que os lavou e recolheu numa bacia que deu para regar as aleluias dojardim.

A crueza dos seus percursos e de outros que vamos encontados perdidos, não nos tira a esperança. Alguns miúdos chegaram a apresentar ambos os pés. Foi Pedro que replicou a Jesus: - Senhor não somente os pés, mas também as mãos e a cabeça. Todos aqueles filhos da rua receberam o ósculo, pois Jesus tocou mesmo naqueles que libertou das suas enfermidades. O corpo é espaço de graça. Convidou-nos, assim, de servil, para o caminho d ‘Ele: o serviço aos outros e ao Outro.

Como em qualquer família, os pequeninos não dispensam dados maternos, que o afago de mãe e da Mãe é  único! Toda a pessoa humana se encontra nos encontros com o próximo e desce para o servir, especialmente frágil, cresce e percorre um itinerário às avessas da mundanidade.

Ao fazer-Se homem, Jesus não  deixou de ser Deus verdadeiro Deus. O Deus  altíssimo tornou-Se baixíssimo: despojou-Se a Si mesmo, tomando a condição de Servo. Ao longo da Sua vida escondida e pública, sempre recusou a vã glória humana. E, para vencer a miséria fez-Se Pobre com os pobres. Só o que é assumido é curado e salvo. Aquele que desceu é o mesmo que  subiu acima de todos os céus, a fim  de encher o universo!

 

PADRE MANUEL MENDES in Voz Porucalence

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