A linguagem habitual é dominada pelos adjectivos
mais iden- tificativos de situações ou massas, desde logo despersonalizadas e
vazias pela visão generalidade. Torna-se relativamente fácil falar sobre
doentes, pobres, desempregados, comodistas, instalados, interesseiros,
individualistas e outros. Com tais classificações envolvemos, fixamos e olhamos
a multidão, esquecendo e se- cundarizando as pessoas. Nesse horizonte,
avaliamos e enfrentamos a situação com gestos despersonalizados e vazios de
resposta clara às pessoas envolvidas.
Talvez seja mais viável focar as atitudes e
gestos para com os pobres, na realidade, olhamos a situação de pobreza numa
carência grave de alimentos, vestuário, remédios, possivelmente renda de casa
e, outras condições menos humanas ou mesmo inumanas. Procuramos respostas
genéricas comuns e iguais para todos.
A resposta vai ser para eliminar ou reduzir as
condições e peso da pobreza, mas pouco ou nada se cria ou desenvolve numa
resposta humanizante para as pessoas, estabelecendo diálogo, aprofundando o
conhecimento mútuo, provocando um olhar novo e de esperança nas capacidades
pessoais, no apoio solidário e com os outros, não se limitando a simples, fácil
e cômoda instalação esperando, ou por vezes, explorando a generosidade e
partilha dos outros.
Torna-se da mais actual urgência irmo-nos
libertando da linguagem simplesmente adjectiva e afirmarmos cada vez mais a
substantivação. Passando de olhar e falar dos pobres, dos doentes e tantos
outros adjectivos de carência ou riqueza e começar a ver e dialogar sobre e com
as Pessoas em situação de pobreza, na doença, no desemprego, no abandono e
exclusão. Aceitemos o desafio e conversão de falar de e com pessoas enfrentando
com elas as suas situações e contribuirmos para a sua libertação e superação,
ajudando-as a serem agentes da própria caminhada e história e construtora do
Bem Comum.
Na dimensão do Bem Comum, passa-se algo semelhante. Todos
somos corresponsáveis da definição e construção do Bem Comum. Acontece, porém,
que os governantes, a vários níveis, não conhecem as realidades sociais,
humanas, econômicas e políticas, pois as populações “desinteressadas e
descrentes”, não fazem ouvir a voz. É necessário e exigência levantar a voz,
identificar problemas reais e apontar soluções e propostas justas e realistas.
Todos temos o direito e dever de cooperar na construção do Bem Comum, não
abandonando com facilidade.
Reis
Ribeiro in Notícias de Viana
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