terça-feira, 18 de junho de 2013

“Porque continua bem viva a consciência de que todos os cristãos são missionários”


Porque continua bem viva a consciência de que todos os cristãos são missionários”


II - Todos Somos Missionários
Obedecendo ao mandato de Cristo, “ide por todo o mundo”, os primei­ros não se ficaram pela evangeliza- ção doméstica de que falei no artigo anterior. Mas partiram em diversas direções e para as diferentes regi­ões do mundo então conhecido. Desde a sua gênese que o cristia­nismo se apresentou como uma religião essencialmente missioná­ria. Os termos “apóstolo”, “enviado” ou “apostolado” estão na base da sua identidade e realidade históri­cas. Diz-se que, no dia do Pentecos- tes, os Apóstolos “anunciavam as obras de Deus” em diversas línguas, para se fazerem entender por todos os povos (cf. At 2,5-11). É um pre- núncio do que irá suceder ao longo da história, em que o cristianismo adotou as mais diversas línguas e meios de comunicação para che- história da evangelização está, por isso, muito ligada à geografia física e humana. Na verdade, os missioná­rios dirigiam-se de preferência às cidades ou centros de maiores aglo­merados, percorrendo as estradas do Império.
De facto, a missão desenvolveu- -se, nos primeiros tempos, de três modos diferentes mas complemen- tares: pelo testemunho de vida (cf. lPd 2,12); pelos contactos e conver­sas pessoais (cf. At 28,30-41), e pela pregação (cf. At 17, 1-2). Por isso, muitas vezes, os contactos comer­ciais, as viagens, os encontros de amigos eram a primeira ocasião paira o anúncio de Cristo. Neste con­texto, desde muito cedo surgiram, no seio das comunidades, pessoas com o carisma da missão. Eram cristãos itinerantes, sem pátria nem família e sem propriedade, que leva­vam à letra o Evangelho da missão: Não leveis nada para o caminho... (Lc 9,3). Estes missionários de que muito falam as fontes mais antigas, percorriam, como Paulo, as vias romanas, passando pelos princi­pais centros populacionais, onde se dirigiam tanto aos judeus como aos pagãos que lhe pareciam mais sim­patizantes. Justino (séc. II), um dos primeiros a usar o ensino e a escrita como forma de missão acL gentes, confirma essa preocupação missio­nária que todo o cristão deve assu­mir: «Nós cristãos procuramos per­suadir aqueles que injustamente nos odeiam, para que, vivendo segundo os bons ensinamentos de Cristo, connosco os mesmos bens da parte do Senhor de todos».
Não existe nestes primeiros tempos uma propaganda fidei ou uma ação preparada e organizada. Os pagãos acusam mesmo os cristãos de se “esconderem” e não se organiza­rem e manifestarem publicamente. Isto porque, como já vimos, se dava prioridade aos contactos domésti­cos, o que levava os pagãos a olhar para o novo movimento como mais uma associação religiosa de culto privado. Sabemos quantas suspeitas e boatos nasceram desta forma per­sonalizada e “doméstica” de os cris­tãos viverem e comunicarem a sua fé. Segundo Orígenes, muitos pagãos «mostram repugnância em se apro­ximarem dos cristãos, mesmo para uma simples conversa». Mas nem sempre a reação era esta. Muitos acolhiam o anúncio com simpatia e assim nasciam novas comunidades. A extensa e dispersa rede de sina­gogas da diáspora judaica facilitou, pelo menos numa primeira fase, o trabalho destes missionários. Segundo Orígenes, os cristãos do seu tempo (séc. III) «não deixam, sempre que é possível, de difundir a sua doutrina por toda a parte, neste mundo. Alguns assumiram mesmo o dever de partir em missão pelas cidades, aldeias e casais, com o intuito de tomar fiéis a Deus outros homens. E ninguém poderá dizer que o fazem para enriquecer, já que por vezes nem o sustento aceitam, e se se vêm em necessidade, conten­tam-se com o indispensável, ainda partilhar com eles os seus bens». Uma vez consolidada, cada comu­nidade local tomava-se ela própria centro de irradiação da fé cristã. O desenvolvimento destas comu­nidades vai, de algum modo, dimi­nuir progressivamente o papel dos missionários a tempo inteiro. Isto sobretudo porque continua bem viva a consciência de que todos os cristãos são missionários.
Num mundo em que a cristianofobia parece renascer e onde as más notí­cias persistem em silenciar os sinais de Deus, fazem falta missionários e cristãos que não tenham medo de se assumir como discípulos de Cristo e portadores da sua Boa Notícia.
Texto escrito ao abrigo do A.O.L.P. de 1990, in Missões Franciscanas de Junho

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