Criador do céu e da terra, de todas as coisas
visíveis e invisíveis
A ciência
impõe-nos um critério evolucionista sobre as origens do ser humano e do
universo. A tradição religiosa judaica e cristã fundamentam-se num critério
criacionista. Será que estamos a falar de duas «teorias» diferentes? Aceitar a
evolução obriga a negar o ato criador de Deus? Não pode haver negação, mas
complementaridade. [Para ajudar a compreender melhor, ler: Gênesis 1, 1-2, 4a; Catecismo da
Igreja Católica, números 279 a 384]
«Esta é a
origem da criação dos céus e da Terra» - conclui a (primeira) narrativa bíblica
do livro do Gênesis. «Todos os povos se perguntaram alguma vez: Donde viemos?
Qual foi a nossa origem? Quem foi o fundador do nosso povo? Qual o nosso
destino? Umas vezes, essas perguntas eram formuladas a partir de situações de
desgraça coletiva: Que sentido tem o nosso fracasso e o nosso sofrimento? Que
sentido tem a morte irremediável? Há um Alguém que possa respondera todas as
interrogações do ser humano? [...] 0 Gênesis é, pois, o livro das grandes
interrogações e das grandes respostas, não só do povo de Deus, mas de toda a
humanidade» (Bíblia Sagrada, Introdução ao Livro do Gênesis, Difusora Bíblica).
0 relato da Criação não é uma informação histórica, mas uma profecia que aponta
para a resposta mais profunda às questões sobre as origens: o próprio Deus. 0
autor do texto apresenta todas as coisas criadas pela bondade de Deus: «E Deus
viu que isto era bom». Como numa língua a gramática serve para ordenar o uso
das palavras, assim também a Criação é a gramática que dá sentido a todas as
coisas a partir do Criador, orientando-as para o ser humano, «imagem e
semelhança de Deus».
Evolução e Criação. Durante muito
tempo, houve o interesse (em alguns meios ainda hoje se mantém) em colocar em
oposição supostamente duas teorias sobre as origens: criacionista e
evolucionista. Afirmar que Deus é «Criador do céu e da terra» não põe em causa
a possibilidade de uma evolução das coisas criadas. O ato criador não pretende
explicar o ‘como’, mas dar-lhe sentido. «Se a afirmação de Deus criador é parte
fundamental da revelação bíblica, o 'como' da criação fica sempre aberto a
novas interpretações, em função das aquisições da ciência» (AA. W., «A fé dos
católicos», Gráfica de Coimbra, Coimbra 1991, 191). Assim, a teoria
evolucionista ganha em sentido e em significado: é o contínuo ato criador de
Deus que proporciona a evolução dos seres e do universo.
«Assim como a
explicação científica do nascimento de uma criança não contradiz a afirmação de
que ela é o fruto do livre dom de amor dos seus pais, assim também acontece com
a criação do mundo e do ser humano» (Dionigi Tettamanzi, «Esta é a nossa fé!»,
Paulinas, Prior Velho 2005, 36). A Criação é um ato de amor, livre e gratuito.
A nossa
profissão de fé começa com as palavras: «Creio em um só Deus, Pai
todo-poderoso, Criador do céu e da terra». «Se omitirmos este primeiro artigo
do Credo, toda a história da salvação se torna demasiado restrita e demasiado
pequena» (Bento XVI, «A alegria da fé», ed. Paulinas, Prior Velho 2012, 18-19).
Criador. 0 ato criador narrado na Bíblia e professado no
«Credo» não é um conceito histórico, algo que aconteceu em determinado momento.
Na Criação, Deus não atua como «fabricante», como construtor. Deus não fez o
universo, num determinado momento; e depois deixou-o por sua conta e risco! 0
ato criador é um conceito teológico, isto é, faz parte de Deus. E, por isso,
está sempre a acontecer: Deus cria e recria continuamente todas as coisas, a
partir de si mesmo. Dizer que é o Criador é não só expressar que Deus está na
origem de todas as coisas, mas também que se compromete de forma ativa e
contínua com toda a Criação. São Tomás de Aquino - um grande pensador do século
XIII - disse que não podemos pensar no ato criador como um acontecimento
temporal, com um antes e um depois. Deus existe desde sempre, fora do tempo. 0
tempo começa a existir precisamente quando Deus fala e chama à existência o universo.
0 autor do Gênesis refere-o por diversas vezes na narrativa teológica e
catequética: «Deus disse: faça-se [...]. E assim aconteceu».
Do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis. Uma bela forma
de dizer que Deus é o Criador de todas as coisas, de tudo o existe, seja ou não
visto ou conhecido pelo ser humano. Visualmente, o céu e a terra eram os
extremos onde acontecia a experiência humana.
A Criação
engloba muito mais do que aquilo que somos capazes de ver, transcende aquilo
que podemos entender. Nada está fora do ato criador de Deus
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