segunda-feira, 11 de março de 2013

10 razões para ter filhos: “Há um lado olímpico em ter muitos filhos. Eles testam os nossos limites e são um desafio permanente”


10 razões para ter filhos

“Há um lado olímpico em ter muitos filhos. Eles testam os nossos limites e são um desafio permanente”

Há dias, uma leitora, farta de me ouvir resmungar, fez-me esta pergunta: se eu me queixo tanto dos miúdos, se eles me dão cabo da cabeça e me tiram tanto tempo, por que raio decidi eu tê-los, e ainda por cima logo quatro? E de repente, percebi que nunca respondi cabalmente a esta importantíssima questão. Porquê?, de facto. Vai daí, decidi alinhavar 10 razões para ter filhos, como penitência por es­tar sempre a dar razões para não os ter.

1. A razão ontológica. Ser ou não ser não é para mim uma questão. Sófocles escre­veu que o mais feliz dos seres era aquele que nunca tinha nascido. Faulkner escre­veu que entre a dor e o nada, escolhia a dor. Eu voto em Faulkner. Mil vezes ser do que não ser. E nascer é fazer ser.

2. A razão estoica Há um lado olímpi­co em ter muitos filhos. Eles testam os nossos limites e são um desafio per­manente às nossas capacidades físicas e mentais. Não sou capaz de saltar à vara nem de correr a maratona. Mas criar quatro putos dá uma abada a tudo isso.

3. A razão ulrichiana. Numa civilização acolchoada, sem guerras nem catástrofes, o pessoal tende a amolecer e a confundir chatices com tragédias. Ter muitos filhos sinto­niza-nos com a máxima do banqueiro Fernando Ulrich: “Ai aguenta, aguenta.” Que remédio.

4. A razão romântica. Quando se ama alguém, os desejos do outro contam. Se a felicidade da minha mulher passa por ter uma família grande e se a minha felicidade passa pela felici­dade da minha mulher, então a minha felicidade passa por ter uma família grande. Chama-se a isto “propriedade transitiva”. É muito importante na matemática. E no amor.

5. A razão revolucionária. Citando o sábio Tiago Cavaco na luminosa canção “Faz Fi­lhos”: nos nossos dias “constituir família é a suprema rebeldia”. Ambos partilhamos a fé neste verso: “Conquistas fabulosas através das famílias numerosas.”

6. A razão coppoliana. Está escrito em ‘Lost in Translation’, de Sofia Coppola: “O dia mais assustador da nossa vida é o dia em que o primeiro nasce. A tua vida, tal como a conheces, acabou. Para nunca mais voltar. Mas eles aprendem a falar e aprendem a andar, e tu queres estar com eles. E eles acabam por se tornar as pessoas mais adoráveis que irás conhecer em toda a tua vida.”

7, 8, 9 e 10. As mais importantes razões de todas. Carolina, Tomás, Rui e Rita. Se calhar, eu até passava bem sem filhos. Mas não sem eles.

João Miguel Tavares, jmtavares@cmjornal.pt, In Correio da manhã, 24 Fevereiro 2013

Sem comentários:

Enviar um comentário