segunda-feira, 18 de março de 2013

Fé e Caridade – Nunca podemos separar e menos ainda contrapor fé e caridade


Fé e Caridade – Nunca podemos separar e menos ainda contrapor  fé e caridade

 

A celebração da Quaresma, no contexto  do Ano da Fé, proporciona-nos uma  preciosa ocasião para meditar sobre a relação entre fé e caridade: entre o crer em Deus, no Deus de Jesus Cristo, e o amor, que é fruto da acção do Espírito Santo e nos guia por um caminho de dedicação a Deus e aos outros. Na minha primeira Encíclica, deixei já alguns elementos que permitem individuar a estreita ligação entre estas duas virtudes: a fé e a cari­dade. Partindo de uma afirmação fundamental do apóstolo João: «Nós conhecemos o amor que Deus nos tem, pois cremos nele» (1 Jo 4, 16), recordava que, «no início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo. [...] Dado que Deus foi o primeiro a amar-nos (cf. 1 Jo 4,10), agora o amor já não é apenas um “mandamento”, mas é a resposta ao dom do amor com que Deus vem ao nosso encontro» (Deus Caritas Est, 1).
 
 

 

A fé constitui aquela adesão pessoal - que en­globa todas as nossas faculdades - à revelação do amor gratuito e «apaixonado» que Deus tem por nós e que se manifesta plenamente em Jesus Cristo. O encontro com Deus Amor envolve não só o coração, mas também o intelecto: «O reco­nhecimento do Deus vivo é um caminho para o amor, e o sim da nossa vontade à d’Ele une inte­lecto, vontade e sentimento no acto globalizante do amor. Mas isto é um processo que permanece continuamente a caminho: o amor nunca está “concluído” e completado» (ibid., 17).

 
 
Daqui deriva, para todos os cristãos e em par­ticular para os «agentes da caridade», a neces­sidade da fé, daquele «encontro com Deus em Cristo que suscite neles o amor e abra o seu íntimo ao outro, de tal modo que, para eles, o amor do próximo já não seja um mandamento por assim dizer imposto de fora, mas uma con­seqüência resultante da sua fé que se torna ope­rativa pelo amor» (ibid., 31).

O cristão é uma pessoa conquistada pelo amor de Cristo e, movido por este amor - «caritas Christi urget nos» (2 Cor 5,14) -, está aberto de modo profundo e concreto ao amor do próximo.

 

 
Esta atitude nasce, antes de tudo, da consciên­cia de ser amados, perdoados e mesmo servidos pelo Senhor, que Se inclina para lavar os pés dos Apóstolos e Se oferece a Si mesmo na cruz para atrair a humanidade ao amor de Deus.

À luz de quanto fica dito, torna-se claro que nunca pode­mos separar e menos ainda contrapor fé e caridade. [...] A exis­tência cristã consiste num contínuo subir ao monte do encontro com Deus e depois vol­tar a descer, trazendo o amor e a força que daí derivam, para servir os nossos irmãos e irmãs com o próprio amor de Deus. Na Sagrada Es­critura, vemos como o zelo dos Apóstolos pelo anúncio do Evangelho, que suscita a fé, está es­treitamente ligado com a amorosa solicitude pelo serviço dos pobres (cf. Act 6, 1-4). Na Igre­ja, devem coexistir e integrar-se contemplação e acção, de certa forma simboli­zadas nas figuras evangélicas das irmãs Maria e Marta (cf. Lc 10, 38-42). A prioridade cabe sempre à relação com Deus, e a verdadeira partilha evangélica deve radicar-se na fé.

Uma fé sem obras é como uma árvore sem frutos: estas duas virtudes implicam- -se mutuamente. [...] A fé precede a caridade, mas só se revela genuína se for coroada por esta. Tudo inicia no acolhimento humilde da fé, «saber-se amado por Deus», mas deve chegar à verdade da caridade, «saber amar a Deus e ao próximo», que permanece para sempre, como coroamento de todas as virtudes (cf. 1 Cor 13,13).                          In Além –mar de Março

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