domingo, 10 de março de 2013

A Caminhar pelo “Ano da Fé”, Substância do Amor




Por: Padre Jorge Esteves

S. João, ao afirmar que «Deus é amor» (1Jo 4, 8.16), não diz apenas que Deus nos ama. mas que na Sua essência (ou substância) é amor. Assim, S. João coloca-nos face à fonte do amor, que é o mistério trinitário, já que em Deus uno e trino, há um intercâmbio eterno de amor entre as pessoas do Pai e do Filho, e este amor não é uma energia ou um sentimento, mas uma pessoa, é o Espirito Santo (Cf. BENEDICTUS PP. XVI, Mensagem para a XXII Jornada Mundial da Juventude. «Que vos ameis uns aos ou­tros assim como Eu vos amei» (Jo 13, 34))

Ora. «cada pessoa sente o desejo de amar e ser amada» (ld., ibid.). Cada pessoa realiza-se plenamente no e pelo amor, que recebe, oferece, e um dia alcançará real e verdadeiramente em Deus. Isto. depois de purifica­da por Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, «que assume os pe­cados do mundo e desenraiza o ódio do coração do homem» (ld., ibid.).

«A cruz de Cristo significa que Ele vai à nossa frente e connosco na via- sacra da nossa cura» (RATZINGER. Joseph, Olhar para Cristo, p. 105). Significa que cada um é convidado a olhar para o «madeiro da vida» e dele retirar ou tentar compreender o amor, livre e gratuito. Amor que não continua lá pregado, porque se fez caminho e connosco caminha e em cada pessoa humana, que deve amar e ser amada. «Amarás o teu próximo como a ti mesmo» (Lv 19, 18), quer então dizer que cada pessoa humana deve colocar à margem a sua auto-suficiência e colocar-se, sem desejar retribuição e reconhecimento, totalmente ao dispor do próximo. Amar a todos sem distinção, e até ao limite de todas as forças, como fez Cristo na Cruz. Ora, o «Mestre do amor» exige de cada pessoa humana, que o quer imitar, radicalidade: «se alguém vem ter comigo e não me tem mais amor que ao seu pai. à sua mãe, á sua esposa, aos seus filhos, aos seus irmãos, às suas irmãs e até à própria vida, não pode ser meu discípulo» (Lc 14.26).

O amor «é a única força capaz de mudar o coijação do homem e a huma­nidade inteira, tornando proveitosas as relações entre homens e mulheres, entre ricos e pobres, entre culturas e civilizações» (BENEDICTUS PP. XVI, ibid.). Deste modo, o amor é o «começo da nossa compreensão acerca da vida interior de Deus. de Deus enquanto Trindade de pessoas, em que cada uma das Pessoas se entrega totalmente» (SEMEN, Yves. La sexuali­dade según Juan Pablo II, p 42) à outra. Por isso, no Homem o amor deve revelar, encontrar, experimentar-se como algo que lhe é próprio, e viver como «base para a comunhão interpessoal e transpessoal, que encontra o seu lugar privilegiado no seio de uma família» (FLECHA, José-Ramán, Moral de Ia sexualidade. La vida en el amor, p. 197). Assim, atesta-se a verdade: o amor «não é unilateral por natureza» (WOJTYLA, Karol, Amor e responsabilidade, p. 75), mas bilateral, existe entre pessoas e é social («A sociedade justa não pode ser obra da Igreja: deve ser realizada pela política. Mas toca à Igreja, e profundamente, o empenhar-se pela justiça trabalhando para a abertura da inteligência e da vontade às exigências do bem» (BENEDICTUS PP. XVI, Littera Encyclica «Deus caritas est», 45)). E este elo de união entre várias pessoas constrói-se graças às qualidades de quem se aproxima e não através dos defeitos, que todos os humanos têm.

Amar alguém é, então, uma arte («Quem se quiser tornar um mestre em qualquer arte deve dedicar-lhe toda a sua vida; ou, pelo menos, fazer dessa arte um ponto fulcral da sua vida» (FROMM, Erich, A arte de amar, p. 112)), que concebe a mesma e a outra pessoa como boa. celebra a pre­sença ou a existência, que reconhece e agradece. «Exige conhecimento e esforço» (FROMM, Erich, ibid., p. 11). integra e define-se pela totalidade, vontade, compromisso e fidelidade, que levam a conceber a outra pessoa não como um objecto, mas como uma pessoa singular, digna de existir e de fazer existir, de realizar e de permitir realizar. O «amor não tem um “porquê", é dom gratuito, ao qual se responde com o dom de si» (BENE­DICTUS PP XVI. Oferecei o outro da vossa liberdade. Reflexão aos semi­naristas durante o encontro na Igreja de São Pantaleão (19 de Agosto de 2005), in BENTO XVI. A revolução de Deus. p. 59)

Enfim, o amor é crucial para a pessoa humana, porque abarca todas as dimensões da pessoa, inclusive a relacionai, aliás, exige que a pessoa esteja em permanente e perene relação. A pessoa que ama nunca se ama exclusivamente a si mesma e tenta amar segundo a perspectiva de Deus, para quem o «amor humano» deve estar direccionado. Não será, então. Deus o seio e o oceano onde desagua toda a pessoa humana?              Serra e Vale de Fev 2013

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