domingo, 2 de junho de 2013

A primeira Comunhão pode ser um acto de muita superficilidade para os familiares?


 

 Os bispos são nossos pais na fé. Se não são, deveriam sê-lo na sua missão pro­fética e como vigilantes da qualidade da educação cristã.

Sirvo-me do testemunho de um bispo, não o meu, também capaz de dizer isso e mais, mas do arcebispo de Toledo, D. Bráulio Ro­dríguez.

O arcebispo espa­nhol adverte, peda­gogicamente, que os pais não devem considerar algumas celebrações cristãs na vida dos seus filhos, por exemplo, a Primeira Comu­nhão, como uma mera “tradição” ou um acto de “consu­mo religioso”. Tam­bém não devem fa­zer da sua paróquia ou de algum colégio católico que ainda se preocupa com a educação cristã dos seus alunos “uma estação de servi­ço ou uma grande superfície”, onde podem escolher e comprar o que “mais gostam ou lhes ape­tece’.

D. Bráulio Rodrí­guez teme que, para os pais, a Primeira Comunhão dos seus filhos se reduza so­cialmente a uma “missa de festa”, não cuidando, bem pelo contrário, que as crianças “se acostumem a celebrar a Eucaristia dominical” da qual não têm prática ou dela se despedem para sempre. Outros só aparecem na profissão de fé e os mais resistentes no crisma, ao menos para poderem ser padrinhos de baptismo, se for caso disso e lhes exigi­rem. Se houver mais ocasiões, serão bem contadas e escassas de quem se habitua à rotina das emoções religiosas, alheias a qualquer convicção.

A vivência da Primeira Comunhão está muitas vezes e em muitos casos longe daquilo que é a expectativa da Igreja. Pouco importa que as paróquias invis­tam tanto na catequese das crianças, se os resultados são tão precários e desen­raizados da catequese familiar.

É assim que as paróquias vão perdendo crianças, adolescentes e jovens, tendo investido pouco em casais e famí­lias a quem nem sequer chegou a evangelização.

Lembro-me ter lido, no site da diocese de San­tarém, uma das p r e o c u p a ç õ e s pastorais do seu bispo, D. Manuel Pelino. Era tam­bém sobre a Pri­meira Comunhão. Na sua opinião, “corre o risco de se tornar mais uma festa da infância no meio de tantas outras”, fruto de um “secularismo reinante, fonte do relativismo, da su­perficialidade e do vazio”.

Quem dera que a Primeira Comu­nhão fosse uma experiência reli­giosa marcante que motivasse as crianças para con­tinuar o percurso da iniciação cristã até à fé adulta.

Infelizmente, essa não é a regra, pesem embora as louváveis excepções.

A Primeira Comunhão não passa, na generalidade, de uma festa sazonal de cristãos que continuam a engordar as estatísticas dos católicos “não pratican­tes”; seria melhor dizer “incoerentes”.

O que vale às crianças é a sua cativante simplicidade. Quanto aos adultos têm a ideia que já fazem muito com a Primeira Comunhão dos filhos, mas estragam-lhes a festa com a falta de compromis­sos de fidelidade à prática religiosa.

São apenas cristãos epidermicamente felizes!

Cónego RUI OSÓRIO (conegoruiosorio@diocese-porto.pt)

Sem comentários:

Enviar um comentário