segunda-feira, 3 de junho de 2013

O diabo não existe ? O Papa Francisco não fez nenhum exorcismo, Só assim escreve quem não sabe o que isso é


 O diabo não existe ? 

Desde os 14 anos que não acredito na existência do diabo. Com essa idade, li uma biografia de Santo Agostinho. Aquele que viria a ser um grande san­to, na sua juventude percorreu as mais diversas estradas. Muitas delas “pouco católicas”. Todavia, nunca desistiu de procurar o sentido último das coisas, a verdade sobre Deus e a existência humana. Quando se debatia com o problema da existência do mal, segun­do essa biografia, ter-se-á encontrado com Santo Ambrósio. Este ter-lhe-á dito:

- Dá-me a tua mão. O que sentes?

Agostinho respondeu:

- Sinto a sua mão.

Então, o bispo de Milão retirou a mão e perguntou ao jovem:

- E agora o que sentes?

- Sinto a falta da sua mão.

Desde o dia em que li este diálogo também eu entendi que o Mal é a ausência do Bem, como a doença é a falta da saúde e a escuridão é a ausên­cia de Luz. Compreendi, então, que o diabo não é uma existência, mas uma ausência de Deus.

Com o aprofundamento dos estudos teológicos, percebi o que aconteceu naquele diálogo. Agostinho, na falta de uma explicação melhor, inclinava-se para aceitar a existência dos dois princípios absolutos e eternos pro­postos pelo maniqueísmo: Deus e o Diabo. Depois do encontro com Santo Ambrósio, abandonou essa crença, que passou a combater, e aderiu à fé num único princípio absoluto: Deus, princí­pio e fim último de todas as coisas.

Como Agostinho, acredito em Deus e tenho dificuldade em aceitar a exis­tência do diabo, porque o Mal carece de consistência ontológica. Contudo, admito que a ausência de Deus possa ser de tal forma intensa que adquira uma consistência, mesmo física. São os casos das possessões demoníacas. Mas essas ocorrências são raríssimas. Não se verificam com a frequência que os média noticiaram nos últimos dias. A esmagadora maioria dos casos são perturbações psíquicas, erroneamente atribuídas ao Maligno.

No Catecismo da Igreja Católica, reco­menda-se que, “antes de proceder ao exorcismo, é importante ter a certeza de que se trata duma presença diabóli­ca e não de um caso clínico” (n.º 1673). Por isso, mesmo antes da confirmação da Santa Sé, não me pareceu crível que o Papa, sem qualquer verificação, de passagem, tivesse exorcizado o doente que lhe apresentaram.

Fernando Calado Rodrigues, Padre,

In Correio da Manha, 24.05.2013

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