segunda-feira, 8 de julho de 2013

ABELHEIRA E A MATANÇA DO PORCO -1986


ABELHEIRA E A MATANÇA DO PORCO


 


Após a postura camarária em 1937/38 foi proibida a criação de animais suínos na cidade, à excepção da zona da Abelheira desde Sto. Antônio até à Cova onde foi mantida por muitos anos. Perdurou ainda por muito tempo aquela riação, fazendo chegar aos nossos dias alguma dessa prática.
 
Ainda assisti a matanças de porcos feitas com o seu ritual próprio neste lugar. Isso praticamente acabou, e o que é pior é que acabou como acabaram e acabarão outros sinais de identidade cultural de maior interesse sociológico na região.O lugar está a ficar descaracterizado de tudo o que constituia intrinsecamente a sua identidade, mas isso não é para agora.
 
Ora a matança do porco na Abelheira era diferente da de Perre. Os matadores mais famosos eram o nosso amigo Antônio do Outeiro e o falecido Pedro Viana. Não tinham mãos a medir, desde a Imaculada Conceição (8 de Dezembro) ao Carnaval era sempre o mesmo trabalho, de faca em riste, a ver se te avias... Quando eles não chegavam vinham os matadores de Perre ajudar...
Era logo, pela manhã, a morte do "bicho" e começava sempre com o ritual do "mata bicho", tradicional cálice do bagaço para aquecer, ganhar coragem e dispôr bem...
Juntavam-se os mais amigos, os vizinhos, os familiares e um estrado a propósito ou o cabeçalho do carro servia de leito para o matador com a ajuda de quatro ou cinco homens, se "vingar", do bicho que pesava sempre entre 10 a 15 arrobas.
Eram sempre dois e três porcos, conforme fosse a casa mais rica ou menos, casa de grande lavoura ou casa de muita família. É que com a matança dos ditos animais era sustentada a família durante um ano.
O trabalho para os homens era sempre o mais duro desde, a prisão do animal, o golpe de morte, a chamusca e a lavagem.
As mulheres batiam o sangue para não coagular, fazendo-o sempre para o mesmo lado para que o arrefecimento fosse mais lento e não fosse o movimento de paragem e voltar atrás contrariar os objectivos. Alguns pensavam que era apenas uma crendice, mas.defacto, a razão devia ser o perigo das paragens.
O sangue era mexido em alguidar de barro. As mulheres levavam ainda a água quente para a lavagem e
ajudavam na mesma até receberem nos alguidares vidrados e na louça vidrada Fervença, bacias grandes, o fato, a colada, as gorduras, o véu e o resto das carnes c saíam agarradas às gorduras.

Durante a chamusca e a lavagem, algumas brincadeiras se faziam ao procure primeiro distraído para lhe meter no bolso as unhas depois de as arrancar ao animal, outras miudezas não aproveitáveis.
A "esqueima" era feita sempre com palha de centeio e a lavagem com água que e um pedaço de telha, mas uma pedra e facas apropriadas também ajudavam e iam or a telha e a pedra não chegava ou não resolviam a situação.
Após a lavagem iam-se buscar os tendões das pernas para neles atravessar um [ resistente e aguentar com o porco içado a fim de ser aberto de cima a baixo e tirar ti o que fosse miudeza interior, até ficar totalmente limpo e lavado por dentro com vinl
Aproveitava-se o vinho desta lavagem para alguns dos cozinhados e temperar carnes dos chouriços...
Nesta operação alguns cuidados eram tomados em relação ao fel para além da bexi das tripas e dos rins.... O porco ficava dependurado para secar e arrefecer.
As gorduras e restos de carnes serviam para fazer logo as chouriças de verde,fe de sangue, de cebola, do véu, outras gorduras e salsa.
No dia em que se efectuava a matança ou no dia seguinte faziam-se as papas sarrabulho, sentando-se à mesa os familiares e todos os que tinham ajudado ocorrência. Eram feitas com farinha, gorduras e aparas da carne do porco, sangu alguns pedaços de miudezas, ao que se juntavam os temperos preciosos, sal, cominf pimentas e outros. Era uma sopa que, comendo-a, fazia suar.
No domingo seguinte, à mesa composta com boa toalha de linho com os respecti guardanapos, sentavam-se os familiares e amigos para trabalhar no consumo do bo do bem guarnecido arroz de sarrabulho, feito com os ingredientes costumados, arroz c sangue, miúdos, fêveras e gorduras a que já os chouriços verdes e os rojões constitu o suplemento. Os rojões, por vezes, eram acompanhados por castanhas assa metidas no molho e servidas na mesma travessa.
Esta refeição bem regada a vinho verde fresco e digestivo, começava pela 1 hora até às 3 ou 4 horas.
A matança era sempre um motivo de festa e de confraternização.
O porco era o "mealheiro dos pobres" ao longo do ano, por isso, ainda há à ve mealheiros com a figura de um porco. Isto quer dizer que houve tempo em que toda a ge fazia criação destes bichinhos para ter que comer em casa... Assim era na minha alc e nas aldeias por onde já andei...
A propósito da postura camarária sobre o assunto, em 1937, Zé Rancheiro fez letra apropriada e cantou as Janeiras de 1938 a favor dos Bombeiros Voluntários.Apenas apresentamos a introdução com a resposta do coro:
"Voz: As medidas de higiene / Suprimiram / Os porcos dentro da cidade!... / São precisos 30 metros / De intervalo, / Do cortelho à propriedade!...

Quem os tinha p'ra vender/À arrobação, / Barafustou e fez barulho!... /Quem comprava p'ra criar / E matar no fim do ano, / Já não faz o sarrabulho!

Coro: Foram-se os porcos / P'ra Argaçosa/ E p'ra Abelheira... / Já não há rejão / Do banco, / Acabou a salgadeira!... / Desta maneira, lá se foi a capadura!... / Só quem tiver alvará, / É que junta a lavadura..."

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