terça-feira, 23 de julho de 2013

Falar de Viana * Volume II, Série 2 Edição da Romaria da Senhora da Agonia, Viana Festas


Falar de Viana

Não é difícil falar da nossa terra mesmo que “bocê nã tenda”, pois quem nasceu primero “Foi o ôbo ou a galinha, quer se goste ou não de “ôbos”. “Óxé! A baca stá seléda, grôla.” “Biste-la fugir como um cabalo pó boi?”. (1)
Falar de Viana é falar do Lima, é falar de uma capital que é capital de distrito do Alto Minho, na Foz do Lima. O rio que nasce em Espanha onde houve um fórum limicorum em Xinzo do Lima, nessa altura era a capital dos povos límicos que tinham uma coesão social e cultural muito importante entre os gróvios, os límicos e os brácaros. Talvez por isso haver tradições, costumes e ditos muito semelhantes na Ribeira Lima desde a sua nascente até ao abraço com o mar.
É possível que muitos dos erros da linguagem venham ainda das suas raízes límicas. Algumas são de influência galaica, mais tardia já depois dos gregos, romanos e árabes terem deixado muitas marcas linguísticas quando se tem de falar da nossa terra.
Falar de Viana é falar do Alto de Santa Luzia, o “monte Tabor de Viana, o da transfiguração”; depois de alimentarmos a mente com os sentimentos do Sagrado Coração de Jesus somos levados a falar do mar, do rio, das terras, das povoações, dos hoteleiros, do urbanismo visto do alto; falar das pontes, falar das gentes que dão alma ao mar e à terra; é falar dos pequemos e dos grandes, dos pobres e dos ricos, dos costumes e tradições; da música e do folclore; do Comércio e da Indústria. É falar da Beleza, da Natureza; é falar de Deus e de Seu amor aos seus…
Ver Viana por um canudo lá do Alto é descobrir, à distância, pormenores positivos e negativos; positivos para louvar e desenvolver, negativos para corrigir…
Não é verdade que ao regressar a Viana do lado sul pela IC1, chegando ao alto do monte da Ola e se começa a descer sobre Mazarefes para a ponte nova até se dá um ai de alívio, de alegria porque a paisagem enche, logo pela vista, a alma, a mente e o coração… é o monte de Santa Luzia, a padroeira da vista, a cabeça que descansa na paisagem e o coração de Viana que ama. Há como que uma simbiose em que ficamos envolvidos, esquecendo tudo para trás, descobre a contemplação, serenidade, paz, amor…
É falar com alma da nossa terra, é querer partilhar a nossa vida pela terra natal, é querer uma terra com prosperidade, com desenvolvimento, com futuro.
Falar de Viana, não é fácil porque Viana é poesia, é música, é arte da natureza e, por isso, os vianenses… e dos vianenses rezam grandes homens nas artes, na literatura, e em todos os campos da ciência: uns já se registaram nos livros de óbitos e deixaram marcas da sua obra, no País ou terra Pátria e no Estrangeiro porque Viana não acolheu os seus, noutros tempos homens e mulheres, de que os outros nos falam e nos dizem “em Viana nasceu”…
No meio de muitos topónimos “Viana” na Espanha, na Europa, na África e nas Américas, Viana do Castelo é única, no país só temos Viana do Alentejo. Quem nela nasce nunca a esquece e sempre a canta com a boca, a mente e o coração ou, através da mão, pintando-a com cores do arco-íris, celestes, a reduz à poesia ou à prosa romântica de uma terra que tem Coração, mas mais do que Coração tem Alma e Vida.
Falar de Viana é dar vida à Vida da Cidade, é ressuscitar aqueles que nos precederam e que ao longe ou ao perto honraram a nossa terra.
Compete-nos a nós, hoje, dar-lhes vida dando vida à nossa mãe terra.
     Artur Coutinho

Nota: A linguagem já foi assim: Troca de v pelo b; o uso demasiado do você; a influência galega na linguagem, o ovo e os ovos (o ô no singular por ô no plural). Oxé! com o significado de Olá!; seléda por selada ou grôla por boieira.

José Rosa de Araújo, Abel Viana, entre outros autores tentaram reunir toda a linguagem da Ribeira Lima e disso há alguns escritos.

O Dicionário de Rodrigo da Fontinha porque era natural e viveu em Viana guardou e explicou alguns dos termos próprios desta zona.

 

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