quinta-feira, 11 de julho de 2013

OS FERREIROS NA ABELHEIRA -1986


OS FERREIROS NA ABELHEIRA

Modestos nas suas ambições pessoais, mas grandes nas obras que realizav em qualidade e acabamento, competindo com os melhores fabricantes de en Desde quando a geração de ferreiros neste lugar existe, não se sabe, ma natural que ela tenha surgido simultaneamente com os carreteiros.


 

Foi grande a fama que alcançaram e serviam o comércio local, o de Ponte Lima, Caminha, Valença e até Melgaço. O Joaquim Rodrigues da Silva, um gra artista, ia a Melgaço a pé levar ferragens. Mas havia também outros e de geraç mais antigas, como o José Pedro Viana, o seu filho Manuel Pedro Viana, o r Luís Arnaldo Pedro Viana e o Joaquim Pedro Viana; o Domingos Rodrig Cambão e os sobrinhos João Rodrigues Cambão, o Bate-o-Malho, que tinha i tasca de petiscos na casa que ficava no caminho de S. Francisco para onde ia Domingo de tarde muita gente para o jogo da sueca e para apreciar os delicio petiscos; o Joaquim Rodrigues Cambão, que deixou a arte e montou, na casa hoje é de João Cambão, uma padaria e mercearia (padaria essa que manteve 1970, ocasião em que o seu sobrinho José Correia Rodrigues Cambão sociedade com a Liga Vianense de Panificação e hoje funciona como depósito pão, mercearia e tasco); o Manuel Rodrigues Cambão, que também deixo ferragem e foi trabalhar para a fábrica do gás que existia nas Azenhas D. Prio João Rodrigues Cambão morreu novo, por causa dos gases da Guerra de 191' Antônio Correia Rodrigues Cambão, falecido em 1984, tinha uma oficina junto ao Cambão, onde, com muita habilidade, «recauchetava» os cascos de bois p poderem melhor puxar os carros aos carreteiros, (casou com Rosa Maria Outeiro); Antônio Rodrigues Cambão Maduro (o Arturinho das Hortas), falecido 1983, com 82 anos, continuou-lhe o sobrinho Manuel da Silva Lopes que, por: vez, era neto de Joaquim Rodrigues da Silva. Manuel da Silva Lopes, estabelec junto ao Café Lopes, é hoje o único das gerações dos ferreiros a mante tradição.

Há mais duas oficinas de serralharia na Abelheira: a do genro do José Camt que veio da Meadela e a do João Campainha, natural da Abelheira, usada apei nas horas vagas e que se situam junto à Estrada da Senhora das Necessidad

Como era a oficina antiga destes ferreiros despretenciosos, mas dignos admiração e que muito honraram a nossa terra, com a devida autorização, pass transcrever o seguinte texto de Filipe Fernandes (23):

«Seja-nos permitido descrever uma destas modestíssimas oficinas, regra gt montadas num anexo ou coberto levantado num quinteiro da casa que servia residência ao agregado familiar dos artífices.

(23) FERNANDES, FILIPE, Cadernos Vianenses, A Indústria e a Arte do Ferro Forjado em Viana, (Viana Castelo, 1985), Tomo V, pp.88

 

Construção rudimentar, com cobertura de telha-vã, através da qual se esgueirava o fumo negro que saía da forja, improvisada sobre algumas lajes, umas postas a prumo, outras deitadas e apoiadas nas primeiras. Ao centro, vinha dar o tubo do grande fole de couro enegrecido que, accionado à mão pelo aprendiz, geralmente um dos filhos mais novos, avivava o braseiro de carvão de madeira, pedra ou coque, em que era introduzida a peça a trabalhar, depois, sobre a bigorna, assente num cepo de eucalipto ou pinheiro. A um dos cantos da oficina escura, toda negra, jazia uma grande mó de pedra de Amonde, montada num pequeno estaleiro de madeira, com eixo de ferro, terminado, no lado de fora, por haste que servia de pedal, e que um dos pés do artífice fazia mover. Sobre a mó, uma pequena lata, com torneira, pousada em pequena prateleira, deixava cair um fio de água. Era nesta mó que se afiavam as ferramentas cortantes, «pulsetas» e «talhadeiras», estas seguras entre a racha aberta num galho de madeira fibrosa, com argolas de ferro nas extremidades, utilizadas para corte, a pancadas do malho, das chapas e dos ferros mais grossos; aquelas, usadas para cortar material de espessura mais delgada, seguras com a mão esquerda, enquanto a dextra manejava o martelo de bola.

A mó servia, ainda, para polir certas partes da obra.

Depois de acabada a peça - chumbadouro, aldrava, trinqueta, dobradice ou fecho - era untada com óleo de linhaça e colocada em cima de chapa previamente aquecida. Deste jeito o óleo secava e dava à peça um bonito tom acobreado, que evitava a ferrugem, durando longos anos.

Até neste pequeno pormenor se distinguiam as ferragens da Abelheira das congêneres de Rio Meão ou Vila da Feira, pintadas a piche ou sem qualquer «banho», o que as tornava de mais fraco aspecto, para venda, e mais sensíveis à humidade e ferrugem.

O antigo comerciante desta praça, Sr. Rodolfo Vieira, (3) que sucedera a seu pai e ficara com o estabelecimento de Vieira & Irmão, tentara, um dia, montar uma oficina destas ferragens, na Rua da Bandeira, chegando a mandar construir um edifício adequado para tal fim. Porém, dado certas dificuldades de ordem financeira, não logrou fazer vingar tão meritório intento, frustrando-se tal iniciativa digna de melhor sorte. Por fim, desiludido, sem forças para lutar contra a maré - esta Terra foi sempre madrasta para os seus filhos - , teve de trespassar a «fábrica», que foi adaptada à indústria de plásticos.

Com a morte, há poucos anos, de Joaquim Lopes da Silva, derradeiro abencerragem de várias gerações de ferreiros da Abelheira, acabou, de vez, esta pequena indústria local de ferro forjado.

Fique, ao menos, como preito de homenagem aos laboriosos Ferreiros do populoso e bucólio subúrbio de Viana este ligeiro apontamento.

(3) - Falecido em 16 de Fevereiro de 1980.

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