segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A nobreza da naturalidade e da simplicidade


 

A naturalidade e a simplicida­de são majestosas. Todos os homens autênticos fo­ram naturais e simples “como os lírios do campo”. 0 que está de acordo com a natureza é sempre o melhor, enquanto que o que lhe é contrário é sempre desagradável e desvirtuado. A naturalidade é um estado de ser fácil de adquirir, se nos apresentarmos como somos, esquecendo a impressão que, mui­tas vezes, tentamos causar peran­te os outros. A humanidade afas­tou-se imenso da sua “condição natural”. O homem que preten­de voltar à origem da sua própria vitalidade tem que romper as fal­sas barreiras da vida e os artifí­cios da nossa civilização, que se afasta cada vez mais das realida­des da vida. O homem bem avi­sado procura renovar-se com as coisas que pode ver, ouvir e sen­tir, pelo contacto direto com a na­tureza, atuando por suas próprias mãos, sem se desviar da essência da sua natureza.

Poucas coisas são tão vigorantes para o espírito humano e para o corpo exausto como uns dias ou semanas de contacto íntimo com o sol, a água e os campos. Fugir das cidades de cimento e asfalto pode compensar (mais profunda e eficazmente que qualquer tran­quilizante artificial) as futilidades, as frustrações, os enganos, os de­sencantos devidos aos problemas do dia a dia. Essas lutas interio­res não só são reais como tornam imperativo o regresso periódico à nascente que a humanidade outro- ra tão intimamente conheceu, ou seja, o mundo natural.

No meio da confusão e da preo­cupação da vida moderna, o nos­so espírito suspira pela simplici­dade. Desejar uma vida simples é um dos objetivos mais impor­tantes dos seres humanos. O ho­mem moderno torna a sua vida complicada e confusa. Estamos a criar os nossos próprios proble­mas e conflitos, o que nos torna irritáveis, fictícios e infelizes. Os­car Wilde escreveu: “A vida não é complexa; nós é que somos com­plexos.” A vida é simples e as coi­sas simples são as melhores. A nossa vida perde-se em porme­nores e em esquisitices. A pres­sa e o bulício da vida contempo­rânea são os desperdícios mais re­ais e profundos da palavra. Anda­mos tão atarefados atrás de ob­jetivos fora do nosso alcance ou então tão supérfluos que não da-- mos conta dos valores perenes e autênticos que estão mesmo à mão de semear.

Nos tempos que correm, todos os problemas de ordem econômica, financeira e social só existem por­que o homem complicou a vida de tal modo que não sabe como sair da teia em que se enredou. Ve­ja-se a crise em que nos encon­tramos por causa da leviandade, da incompetência, da imprepara- ção e da precipitação dos nossos governantes do passado recente e dos atuais, que causaram, per­mitiram e estimularam o esbanja­mento do patrimônio e do erário públicos, através de luxos, obras dispensáveis, protocolos, branque- amentos de capitais, vencimentos chorudos de gestores e responsá­veis pelo bem comum que foi de­lapidado em proveito próprio, em­penhando as gerações presentes e futuras que estão a mergulhar no abismo da pobreza de onde difi­cilmente sairão. Estamos a chegar à concretização do tão propalado conceito de “terra queimada”. Eles complicaram de tal modo o pro­gresso que tornaram impossível a simplificação que o poderia fa­zer resolúvel. Esqueceram os va­lores humanos que são mais va­liosos que qualquer progresso téc­nico que, sem eles, foi, é e conti­nuará a ser desvirtuado, desones­to, explorador, atentatório e viola­dor dos mais elementares direitos do homem.

                                                          De Artur Gonçalves Fernandes in D. M. de 25/10

 

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