domingo, 21 de outubro de 2012

Lê-se no Evangelho de S. Mar­cos (11, 11-26) que, um dia, Jesus, tendo ido a uma figuei­ra à procura de figos- de Domingos Silva Atarújo, in DM




 


1.      Lê-se no Evangelho de S. Mar­cos (11, 11-26) que, um dia, Jesus, tendo ido a uma figuei­ra à procura de figos, verificou que naquela árvore apenas existiam  abun­dância de folhas.

Há quem dê uma interpretação sim­bólica a este texto evangélico. Nes­te sentido, a figueira era o povo de Deus e a sua prática religiosa. Vivia uma religião feita de exterioridades. De muita conversa, de muitos pen- duricalhos, rica de gestos exteriores. Mas, quanto a frutos de conversão, nada. Não mudava as pessoas.

2.   Também hoje há figueiras sem figos. A religião do folclore, das fardetas, das grandes concentra­ções, dos gestos teatrais, mas que, pelo que é percetível, não vai mui­to além disso.

A religião muito preocupada com rSêcüíiüãriõ, Cõm 0 fjLiãílIO mâiS vistoso melhor, mas esquecida do essencial.

Não deixa de ser significativo que um considerável número de pes­soas que, em 3 de junho, peregrina­ram ao Sameiro não tenha partici­pado na celebração eucarística com que a caminhada terminou.

3.  Há figueiras sem figos em muito da atividade política. Muita conversa, grandes discursos, mas a verdade é que, com tudo isso, o País chegou onde chegou e não se vê em mui­tos dos responsáveis um esforço no sentido de se darem as mãos e contribuírem, todos juntos, para sair­mos do pântano a que irresponsa­velmente nos conduziram.

Bem espremidos, o que resulta de muitos discursos parlamentares? Qual a matéria de fundo de tais dis­cursos? O que se grita em muitas manifestações?

Fala-se, fala-se, fala-se, mas atua- -se pouco, muito pouco. Todavia, o que faz falta são obras e não pala­vras. Levantam-se problemas, mas não se apresentam soluções. Criti­cam-se caminhos, mas não se apon­tam alternativas.

Existe o flagelo do desemprego. Tem dado origem a muito inflama­dos discursos e a muitas acusações. No meio de tanto palavreado, onde estão as sugestões viáveis para re­solver ou atenuar o problema?

Vive-se a ideia de que as pes­soas valem pelo que dizem, quando o importante é o que realmente fa­zem em benefício do bem comum. Muitos dos ramalhosos discursos apenas servem para ludibriar os ci­dadãos menos prevenidos. E há, de facto, quem vá no paleio de quan­tos falam mas não agem.

Há cidadãos pagos pela comuni­dade para agirem em benefício do bem comum. Na prática, o que se vê? Uma vaga de críticas destruti­vas. uma avalanche de discursos de bota-abaixo, o apelo insistente a teatrais manifestações, quando o que importa é a análise serena, desapai­xonada e apartidária, da situação e a busca concertada de soluções. Pessoas muito palavrosas relativa­mente ao bem comum, na prática o que buscam é a defesa dos pró­prios interesses e dos interesses dos seus. Servem-se, mas não servem. Arranjam-se, em vez de colaborarem na solução dos problemas.

4.   Todos beneficiamos se se pen­sar e agir mais e se falar menos. Se se buscarem consensos em vez de se lançarem diatribes. Se, em vez de se gastar tempo e dinheiro com questões de somenos, as pes­soas se debruçarem sobre a reali­dade do que nos aflige. Se, em vez de inflamados discursos para iludi­rem as pessoas e arrancarem im­pensados aplausos, se colaborar de verdade na saída da difícil situação para onde, irresponsavelmente, in­sisto, nos atiraram.

Temos figueiras muito vistosas e muito ramalhudas, mas sem figos, e não é com folhas que se mata a fome às pessoas.

                                                                                                                            In D. M. de Silva Araújo

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