sexta-feira, 12 de outubro de 2012

A recuperação aos verdadeiros valores humanos




  O materialismo demonstrou, de maneira a não deixar mar­gem a dúvidas, que não con­segue proteger e garantir o bem- estar da humanidade. As crises, quando profundamente analisadas, também servem para alertar as pes­soas para os valores morais que são esquecidos nos períodos de grande prosperidade. Temos obri­gação de os desenvolver e pôr em prática nas relações humanas em todos os períodos e épocas his­tóricas. Se o homem não esque­cesse a sua dimensão espiritual e fosse, por isso mesmo, mais ho­nesto, mais justo, mais humano e nada ganancioso, o mundo seria menos desigual e as crises eco­nômicas e sociais' seriam em me­nor número, muito mais ligeiras e menos traumatizantes.

O mundo está a tornar-se exces­sivamente complexo e as pessoas não se sentem felizes. Predomina a melancolia, a ira, o cinismo, a in­dignação e a insatisfação contínua, porque falta a educação, a justiça, a compreensão e a solidariedade hu­mana, que deram lugar a um es­pírito materialista cego e desuma­no. Se o homem atual se preocu­passe mais com o que é e fosse menos dominado pelo ter, não vi­veria tão ameaçado. A grande ne­cessidade da sociedade moderna é a de apressar a formação do cará­ter e da educação harmoniosa, tan­to em casa, como na escola e até em muitas instituições eclesiais, para poder acompanhar o progres­so tecnológico e científico.

Os jovens (e não só) possuem uma cultura geral muito limitada. Bas­ta ouvi-los nos seus diálogos in­formais, nos concursos e nos pro­gramas radiofônicos e televisivos, para ficarmos aterrorizados com os seus comportamentos e com os seus conhecimentos. E o mais grave é que os autores desses pro­gramas também ignoram as coisas mais elementares. Como é que, pe­rante milhares de espectadores, são apresentadas como corretas afir­mações como esta: “o cordeiro é filho da cabra e do bode”. Até os analfabetos de outrora conheciam tudo o que implicava sabedoria bá­sica, quer em linguagem oral, quer em temas de História e Geografia. Ao que chegaram os conhecimen­tos gerais do homem contemporâ­neo! É por estas e por outras que os países estão a ser governados por tantos ignorantes e incompe­tentes. 0 mesmo se pode afirmar em relação a certas escolas ou ins­tituições de ensino, incluindo as universidades. Que ignorância por

O mundo está a tornar- se excessivamente com­plexo e as pessoas não se sentem felizes. Pre­domina a melancolia, a ira, o cinismo, a indig­nação e a insatisfação contínua, porque falta a educação, a justiça, a compreensão e a soli­dariedade humana

lá campeia! Muitas pessoas ape­nas procuram o entretimento pra- zenteiro, não mostrando o mesmo interesse pela cultura e pelo enri­quecimento intelectual.

Nós temos de saber escolher um conjunto de valores humanos bem definidos e viver de acordo com eles. Enquanto o ser humano pu­ser os bens materiais acima dos valores morais, estéticos e espi­rituais, não tem qualquer futuro, nunca sendo capaz de alcançar uma forma de viver real e genui­namente digna. Só quando o ho­mem se der conta da realidade e dos valores permanentes da vida é que escapa à sua própria pri­são. Os jovens não aprendem o valor da disciplina, da responsabi­lidade, da urbanidade, da dignida­de, da ética, do civismo, do gos­to pelo estudo, do reconhecimento da importância do saber e do res­peito pelos pais, pelos professores e pelos outros. Os estudantes de hoje têm pouca reverência e consi­deração pelo passado e pouca es­perança pelo futuro. Tentam viver o presente o mais prazenteiramen- te possível. Quando se lhes lembra a nossa herança de valores, os jo­vens respondem com certo desinte­resse, desdém, desconfiança, sus­peita e até intolerância. A história humana tem-nos dado muita coisa boa e positiva. IMão é certamente derrubando o que está bem feito e nos foi legado que se resolvem os problemas atuais.

Muitos pais endinheirados deram aos filhos tudo o que o dinheiro pode comprar. Só que não os en­sinaram a cultivar os valores uni­versais. Criaram os filhos num vá­cuo moral e num clima de niilis- mo. Perdeu-se a arte de formar autênticos homens. A única segu­rança permanente que o homem pode atingir é o sentido dos valo­res cívicos e morais. Ter “tudo” é tê-lo tanto por fora como por den­tro. Quando o homem combina os bens materiais com os morais, a natureza humana revela-se sob o seu melhor aspecto.

 

In Diário do Minho, de Artur Aguiar Fernandes, nº 28 dos artigos de opinião

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