sábado, 20 de outubro de 2012

O Concílio vai há 50 anos. Para pensar seranamente


 
 

 


Serenamente

 Foi há 50 anos que teve início o Concilio Ecumênico do Vatica­no II, anunciado por João XXIII em 25 de janeiro de 1959. Para o assinalar, assim como para recor­dar os 20 anos da publicação do Catecismo da Igreja Católica, Ben­to XVI decidiu proclamar um Ano da Fé. Fé que há de manifestar-se no quotidiano de quantos a profes­sam, não se reduzindo a um con­junto de questões em que dize­mos acreditar, sempre que procla­mamos o Credo.

É preciso - lê-se numa Nota Pas­toral da Conferência Episcopal Por­tuguesa datada de 19 de abril do ano em curso, que a nossa fé en­carne num estilo de vida cristão na família e no trabalho, na vida social e política. Cristo exorta-nos à coe­rência entre fé e vida real: «Nem todo o que me diz ‘Senhor, Senhor’, entrará nó Reino do Céu, mas sim aquele que faz a vontade do meu Pai que está no Céu» (Mt 7, 21). E S. Tiago recorda-nos que «a fé sem obras está morta» (Tg 2, 26). É inexistente.

Na vida em coerência com a fé é que está a chave de muitos proble­mas. E aí é que residem o difícil e o importante do ser cristão.

Vida vivida em coerência com a fé a cada momento e em todas as circunstâncias e não apenas em atos pomposos para que se cha­ma a Comunicação Social, como se o Senhor não tivesse recomen­dado que a esquerda não saiba o que faz a direita.

Causa-me apreensão a tendência crescente para a vivência religiosa feita espetáculo e folclore. Vive-se a fé - ou dá-se a impressão dis­so - em momentos particularmen­te selecionados. Vistosos. Depois, no dia a dia...

«Caule sem espiga não produz fa­rinha» (Oseias 8, 7), mas às vezes pode ficar-se com a ideia de nos li­mitarmos a cuidar de vistosos cau­les, que não passam disso.

Celebrar o cinqüentenário do Va­ticano II não deve ser algo seme­lhante à comemoração da batalha de La Lys, por exemplo. 0 Conci­lio produziu importantes documen­tos que é preciso conhecer cada vez melhor e pôr em prática.

A referida Nota da Conferência Epis­copal sugere se «promovam o estu­do, a reflexão e a aplicação do Con­cilio Vaticano II, sobretudo dos do­cumentos mais relevantes, as Cons­tituições: Lumen Gentium, sobre a Santa Igreja; Sacrosanctum Conci- lium, sobre a sagrada Liturgia; Dei Verbum, sobre a Revelação divina; e Gaudium et spes, sobre a Igreja no mundo contemporâneo».

Tal celebração - diz a mesma Nota - «deve levar-nos a um exame de consciência, pessoal e comunitá­rio, para vermos o que falta fazer para implementar o espírito e a le­tra do Concilio». Há que ter a co­ragem de nos perguntarmos se a Igreja de Cristo a que pertencemos é hoje a Igreja do Concilio do Va­ticano II.

Ele, «ainda hoje, continua a ser (ou deve continuar a ser, se de facto já começou a sê-lo) a bússola segura que norteia a vida e a ação da Igre­ja de Cristo». E um modo muito re­comendável de assimilar o espírito e a letra do Concilio do século XX, de tanta atualidade ainda nos pri- mórdios do século XXI, consiste em «ler, estudar e dar a conhecer o Ca­tecismo da Igreja Católica», de que existe também uma edição adapta­da aos jovens, o Youcat.

Mas será que é lido por todos os cristãos? Existe em todas as fa­mílias?

A Igreja tem uma belíssima doutrina. Simplesmente, nem todos a conhe­cem. E aqueles que a conhecemos e a pregamos nem sempre a prati­camos. E aí é que está o problema. Falamos, mas nem sempre vivemos. Falta-nos, em muitos casos, a tal co­erência entre a fé e a vida.

É muito fácil, por exemplo, falar em solidariedade, mas manifestar isso com gestos solidários... É muito fácil lamentar a chaga do desem­prego, mas impedir a prática do pluriemprego ou dizer a aposen­tados com boas pensões de refor­ma que deixem o trabalho remune­rado para quem dele precisa como de pão para a boca...

       Silva Araújo in Diário do Minho- Opinião

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