sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Ensino técnico profissional em Portugal



“É lamentável e repugnante a arrogância e impunidade com que alguns dos autores (ainda vivos) da legislação que permitiu a extinção do ensino técnico profissional em Portugal, ainda se pavoneiam na cena política portuguesa. “

Antes de Abril, nem tudo era mau; após Abril, nem tudo foi bom.

A euforia revolucionária que se seguiu a abril não teve o bom senso de distinguir o trigo do joio e preservar o que de bom existia no antigo regime. Tudo era suposto ser mau e havia que destruir. Todos os que viveram este processo sabem como foi conduzido e qual o objetivo em vista.

Passados quase 40 anos, estamos agora a sofrer as consequências desses desmandos cometidos por alguns, com a conivência de outros, cuja impunidade nos surpreende.

Vem isto a propósito da falta de mão-de-obra qualificada que, de há uns anos a esta parte, se verifica em Portugal, mormente nas áreas que o ensino técnico profissional alimentava com técnicos: de contabilidade, de administração, de eletricidade, de pichelaria, de carpintaria, de soldadura, de serralharia e por aí além...

Quando há cerca de quarenta anos (na mesma altura da revolução de abril), andava na pesca do bacalhau, costumava ir a St. John's, na Terra Nova, onde tinha um amigo Canadiano que me dizia que era difícil conseguir contratar um carpinteiro, um eletricista ou um picheleiro - profissões que cativaram muitos portugueses a emigrar para o Canadá - por que o preço/hora desses profissionais era bastante maior que o de um advogado, de um engenheiro ou mesmo de um médico.

Este cenário está-se a passar no nosso país onde há dificuldade em contratar os serviços dessas áreas de trabalho técnico profissionais, por que a escola não formou gente para preencher as vagas que se iam verificando, por motivo de envelhecimento e fuga para outros países onde eram melhor remunerados.

A formação é, como já disse noutro texto anterior, a peça basilar da economia, onde a força de trabalho é a única riqueza do país.

A decisão de acabar com as escolas técnico profissionais (escolas industriais e comerciais) foi o maior rombo na nossa economia, porque, enquanto outros déficites se podem resolver em anos, esta lacuna leva décadas a solucionar.

A geração dos eletricistas, picheleiros, carpinteiros e outras profissões similares que existiam em 1974, trabalhou para dar um curso superior aos filhos: engenharia, advocacia, arquitetura, etc., na esperança de virem a ter uma vida melhor que a que eles tiveram. Hoje, a maioria deles sentem-se defraudados e revoltados quando constatam que foi em vão todo esse sacrifício para verem os filhos como: caixas de supermercados, balconistas, (com todo o respeito por estas profissões) ou então sem qualquer colocação, a viverem à custa dos pais.

Tenho ouvido alguns desabafos desses pais, desanimados e descrentes que explodem: - Mais valia que o meu filho(a) tivesse enveredado pela minha profissão. No meu tempo trabalhava-se muito, mas não faltava trabalho! - e outros comentários do gênero, tais como : - Quem está a sustentar o(a) meu (minha) filho(a) sou eu. É um(a) inútil! - tal é o desespero.

É lamentável e repugnante a arrogância e impunidade com que alguns dos autores (ainda vivos) da legislação que permitiu a extinção do ensino técnico profissional em Portugal, ainda se pavoneiam na cena política portuguesa.

Pobre país que tais políticos tem!
José Manuel 0. Martins, In Aurora do Lima
maolmar@gmail.com

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