Ao correr da pena e da mente... (22)
"O atletismo é indiscutivelmente o mais universal de todos os desportos. Nenhuma outra federação congrega tantos países como a Federação Internacional das Associações de Atletismo. Nenhuma outra modalidade goza de semelhante acentuação olímpica".
Sequeira Andrade
Artigo de Opinião de Porfírio Silva, In Cardeal Saraiva - Ponte de Lima
Ao falar-se do atletismo - e para termos uma
noção clara de que o mesmo é a forma mais antiga de desporto e/ou a mais universal
das modalidades desportivas teremos que forçosamente recuar até aos
primórdios da nossa civilização, mesmo até ao tempo do homem das cavernas
que, de uma forma natural, praticava uma série de movimentos, nas actividades
da caça e de defesa, onde saltava, corria, lançava, ou seja desenvolvia uma
série de habilidades relacionadas com as diversas provas de uma competição de
atletismo. Contudo, o atletismo sob a forma de competição, teve a sua origem
na grande civilização grega, cujo espírito agónico era uma das suas
características, desde os mais remotos tempos. Esta realidade já se encontra
nos Poemas Homéricos, onde a preparação física é realçada como uma componente
essencial da mundividência helénica. Segundo o professor catedrático José Ribeiro
Ferreira - um dos grandes especialistas de estudos clássicos - “a paixão
atlética emerge, assim, no quotidiano de um povo, que desenvolveu o seu espírito
de competição, através da participação em diversos festivais e jogos que
proliferaram nas diversas cidades gregas. Imbuídos de [tal] espírito agónico,
amantes do exercício físico e desejosos de se supe- riorizarem aos demais, os
Gregos gostavam de participar em competições*© jogos desportivos que reunissem
a fina-flor dos atletas". As primeiras reuniões desportivas organizadas da
história foram os Jogos Olímpicos, organizados pelos gregos no ano de 776
a.C., cujo principal evento aí realizado foi o pentatlo, que compreendia lançamento
de disco, salto em comprimento e corrida de obstáculos. Celebravam-se no
santuário de Zeus em Olímpia e cujo principal motivo eram celebrações e
festividades religiosas, nas quais se integravam jogos atléticos, que ali se
realizavam de quatro em quatro anos. Os jogos serviam amiudadas vezes de palco
a conversações e a tratados de importância geral para os Gregos. Não é por acaso
que Olímpia foi escolhida, com frequência, como lugar ideal para depositar o
registo desses tratados e preservar tais documentos. Era o tempo em que os
atletas vitoriosos eram recebidos com festejos nas suas cidades e cumulados de
honras, sendo que os jogos davam a impressão mais nítida de uma unidade grega.
Esta realidade filosófi- co-desportiva é bem diferente
nos tempos que correm, já que a cumulação de honras vai mais para outro
desporto que nos escusamos aqui mencionar, para não ferir susceptibilidades,
muitas vezes clubistas. É dentro deste contexto civilizacional contemporâneo
que, em 1975, a coberto de uma juventude irreverente, seria fundado o
Grupo de Acção Cultural e Desportiva de Mazarefes (GACDM),
embrionaria- mente consumado por nós, Manuel Vaz da Silva, José Maria Rodrigues
Forte e Américo Afonso da Balinha. Das profícuas actividades deste Grupo, o
atletismo foi sempre a vertente associativa que mais longe levou o nome da
nossa terra, a ponto de, a determinada altura, ser uma das grandes fontes de
rendimentos para a sustentabilidade do mesmo Grupo. Em 1987, e porque se
precipitavam algumas incongruências e cris- pações em relação à modalidade, o
responsável pela mesma. Manuel Vaz da Silva, a conselho de algumas
personalidades ligadas ao meio desportivo federado, resolveu romper com o Grupo
que havia ajudado a criar, fundando o Centro de Atletismo de Mazarefes (CAM),
com a empenhada colaboração de outros aficionados, a saber: Manuel da Silva
Liquito, Armando Afonso Forte, José Napo- leão Ferreira Ribeiro, Agostinho
Dias Forte, João Paulo Dias Carvalho, José Gomes Forte e Antônio José Liquito
da Torre. Não foi fácil esta ruptura com o GACDM. levando a algumas
incompreensões e até a empolgadas reacções negativas por parte de quem se
manteve fiel ao Grupo, ora órfão do atletismo. Os ânimos exaltados foram-se
apaziguando ao longo dos anos e todos foram ganhando o seu espaço,
conquistando as suas cumulações de honras e a respeitarem-se mutuamente,
fazendo transparecer a certeza de que tal percurso foi o melhor que poderia ter
acontecido para a nossa freguesia, porque se duplicaram talentos, construíram-se
novas infra-estrutu- ras e promoveram-se proximidades. Tal como na Grécia,
essa mesma competitividade acabou por ser palco de conversações e tratados de
importância geral para todos nós e para a terra que nos viu nascer, e que a
alguns soube acolher. Compreendemos perfeitamente as palavras de Manuel Vaz
da Silva, aquando das comemorações do vigésimo quinto aniversário do Centro de
Atletismo de Mazarefes (27 de Outubro de 2012), a propósito das dúvidas
suscitadas pelos mais incrédulos, na tentativa de menosprezar o trabalho
levado a cabo ao longo destas duas décadas e meia, relevando-as para o caminho
percorrido em detrimento da desconstrução de uns poucos, que nada fizeram pela
freguesia e muito menos pelo atletismo, em especial.
Hoje o atletismo em Mazarefes goza de boa saúde, porque há uma excelente
e saudável articulação com as entidades oficiais, nomeadamente com a Câmara
Municipal de Viana do Cagftelo, Junta de Fre- $ guesia de Mazarefes, Associação de Atletismo de Viana do Castelo -
sendo que o CAM contribuiu de uma forma particular para a sua fundação -, e com
a Associação Social, Cultural e Desportiva da Casa do Povo de Mazarefes (saída
da fusão do Grupo de Acção Cultural e Desportiva de Mazarefes com a Casa do
Povo, da mesma freguesia). Fruto desta saudável articulação, Mazarefes dispõe
hoje de uma Pista de Atletismo, de uma excelente sede social e de um
polidesportivo sintético, há bem pouco tempo inaugurado.
Para terminar este nosso '‘deambular" da pena e da mente,
convém aqui salientar que o Centro de Atletismo de Mazarefes tem no seu
vastíssimo palmarés, desde campeões distritais a campeões nacionais, quer a
nível individual quer colectivo, e pelo quarto ano consecutivo é considerado
o clube do ano pela Associação de Atletismo de Viana do Castelo, por ser um
clube dos mais representativos, tanto em número de atletas como em títulos
conquistados. Como diria Manuel Vaz da Silva, o atletismo existe em
Mazarefes há trinta e sete anos - numa alusão clara ao Grupo de Acção - e “por
vezes digo que a nível distrital já ganhamos tudo que havia para ganhar".
Diremos nós que. com este espirito co- lectivo, ganhou a freguesia, a cidade e
a região.
Parabéns ao Centro de
Atletismo de Mazarefes e a todos aqueles que dão corpo a projectos desta natureza!
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