sábado, 10 de novembro de 2012



Ao correr da pena e da mente... (22)


"O atletismo é indiscutivelmente o mais universal de todos os desportos. Ne­nhuma outra federação congrega tantos países como a Federação Internacio­nal das Associações de Atletismo. Nenhuma outra modalidade goza de seme­lhante acentuação olímpica".

Sequeira Andrade
 
 
Artigo de Opinião de Porfírio Silva, In Cardeal Saraiva - Ponte de Lima



 
 
 

 
Ao falar-se do atletismo - e para termos uma noção clara de que o mesmo é a forma mais antiga de des­porto e/ou a mais universal das modalidades desporti­vas teremos que forçosa­mente recuar até aos primórdios da nossa civili­zação, mesmo até ao tem­po do homem das cavernas que, de uma forma natural, praticava uma série de mo­vimentos, nas actividades da caça e de defesa, onde saltava, corria, lançava, ou seja desenvolvia uma série de habilidades relacionadas com as diversas provas de uma competição de atletis­mo. Contudo, o atletismo sob a forma de competição, teve a sua origem na gran­de civilização grega, cujo espírito agónico era uma das suas características, desde os mais remotos tempos. Esta realidade já se encontra nos Poemas Homéricos, onde a prepa­ração física é realçada como uma componente es­sencial da mundividência helénica. Segundo o pro­fessor catedrático José Ri­beiro Ferreira - um dos grandes especialistas de estudos clássicos - “a pai­xão atlética emerge, assim, no quotidiano de um povo, que desenvolveu o seu es­pírito de competição, atra­vés da participação em di­versos festivais e jogos que proliferaram nas diversas cidades gregas. Imbuídos de [tal] espírito agónico, amantes do exercício físico e desejosos de se supe- riorizarem aos demais, os Gregos gostavam de parti­cipar em competições*© jo­gos desportivos que reunis­sem a fina-flor dos atletas". As primeiras reuniões desportivas organizadas da história foram os Jogos Olímpicos, organizados pe­los gregos no ano de 776 a.C., cujo principal evento aí realizado foi o pentatlo, que compreendia lança­mento de disco, salto em comprimento e corrida de obstáculos. Celebravam-se no santuário de Zeus em Olímpia e cujo principal motivo eram celebrações e festividades religiosas, nas quais se integravam jogos atléticos, que ali se realiza­vam de quatro em quatro anos. Os jogos serviam amiudadas vezes de palco a conversações e a tratados de importância geral para os Gregos. Não é por aca­so que Olímpia foi escolhi­da, com frequência, como lugar ideal para depositar o registo desses tratados e preservar tais documen­tos. Era o tempo em que os atletas vitoriosos eram recebidos com festejos nas suas cidades e cumulados de honras, sendo que os jogos davam a impressão mais nítida de uma unidade grega.
Esta realidade filosófi- co-desportiva é bem dife­rente nos tempos que cor­rem, já que a cumulação de honras vai mais para outro desporto que nos escusa­mos aqui mencionar, para não ferir susceptibilidades, muitas vezes clubistas. É dentro deste contexto civilizacional contemporâ­neo que, em 1975, a cober­to de uma juventude irreverente, seria fundado o
Grupo de Acção Cultural e Desportiva de Mazarefes (GACDM), embrionaria- mente consumado por nós, Manuel Vaz da Silva, José Maria Rodrigues Forte e Américo Afonso da Balinha. Das profícuas actividades deste Grupo, o atletismo foi sempre a vertente asso­ciativa que mais longe levou o nome da nossa terra, a ponto de, a determinada al­tura, ser uma das grandes fontes de rendimentos para a sustentabilidade do mes­mo Grupo. Em 1987, e por­que se precipitavam algu­mas incongruências e cris- pações em relação à moda­lidade, o responsável pela mesma. Manuel Vaz da Sil­va, a conselho de algumas personalidades ligadas ao meio desportivo federado, resolveu romper com o Gru­po que havia ajudado a cri­ar, fundando o Centro de Atletismo de Mazarefes (CAM), com a empenhada colaboração de outros afi­cionados, a saber: Manuel da Silva Liquito, Armando Afonso Forte, José Napo- leão Ferreira Ribeiro, Agos­tinho Dias Forte, João Pau­lo Dias Carvalho, José Go­mes Forte e Antônio José Liquito da Torre. Não foi fá­cil esta ruptura com o GACDM. levando a algu­mas incompreensões e até a empolgadas reacções negativas por parte de quem se manteve fiel ao Grupo, ora órfão do atletis­mo. Os ânimos exaltados foram-se apaziguando ao longo dos anos e todos fo­ram ganhando o seu espa­ço, conquistando as suas cumulações de honras e a respeitarem-se mutuamen­te, fazendo transparecer a certeza de que tal percurso foi o melhor que poderia ter acontecido para a nossa freguesia, porque se dupli­caram talentos, construí­ram-se novas infra-estrutu- ras e promoveram-se pro­ximidades. Tal como na Grécia, essa mesma com­petitividade acabou por ser palco de conversações e tratados de importância ge­ral para todos nós e para a terra que nos viu nascer, e que a alguns soube acolher. Compreendemos perfeita­mente as palavras de Ma­nuel Vaz da Silva, aquando das comemorações do vi­gésimo quinto aniversário do Centro de Atletismo de Mazarefes (27 de Outubro de 2012), a propósito das dúvidas suscitadas pelos mais incrédulos, na tentati­va de menosprezar o traba­lho levado a cabo ao longo destas duas décadas e meia, relevando-as para o caminho percorrido em de­trimento da desconstrução de uns poucos, que nada fizeram pela freguesia e muito menos pelo atletismo, em especial.
Hoje o atletismo em Mazarefes goza de boa saúde, porque há uma ex­celente e saudável articula­ção com as entidades ofici­ais, nomeadamente com a Câmara Municipal de Viana do Cagftelo, Junta de Fre- $ guesia de Mazarefes, Asso­ciação de Atletismo de Viana do Castelo - sendo que o CAM contribuiu de uma forma particular para a sua fundação -, e com a Associação Social, Cultural e Desportiva da Casa do Povo de Mazarefes (saída da fusão do Grupo de Ac­ção Cultural e Desportiva de Mazarefes com a Casa do Povo, da mesma fregue­sia). Fruto desta saudável articulação, Mazarefes dis­põe hoje de uma Pista de Atletismo, de uma excelen­te sede social e de um polidesportivo sintético, há bem pouco tempo inaugu­rado.
Para terminar este nos­so '‘deambular" da pena e da mente, convém aqui sa­lientar que o Centro de Atle­tismo de Mazarefes tem no seu vastíssimo palmarés, desde campeões distritais a campeões nacionais, quer a nível individual quer colectivo, e pelo quarto ano consecutivo é considerado o clube do ano pela Associ­ação de Atletismo de Viana do Castelo, por ser um clu­be dos mais representati­vos, tanto em número de atletas como em títulos con­quistados. Como diria Ma­nuel Vaz da Silva, o atletis­mo existe em Mazarefes há trinta e sete anos - numa alusão clara ao Grupo de Acção - e “por vezes digo que a nível distrital já ga­nhamos tudo que havia para ganhar". Diremos nós que. com este espirito co- lectivo, ganhou a freguesia, a cidade e a região.
Parabéns ao Centro de Atletismo de Mazarefes e a todos aqueles que dão cor­po a projectos desta natu­reza!      






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